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Mídia

Abstinência digital

Passei muito tempo refletindo sobre a teoria nada convencional de Nicholas Carr, que trata de como a internet vem nos tornando mais burros, ou na sua própria definição, rasos

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Confesso: ainda não li “A geração superficial – O que a Internet está fazendo com nossos cérebros”, o novo livro do escritor e ensaísta Nicholas Carr. Mas passei muito tempo refletindo sobre a teoria nada convencional dele, que trata de como a internet vem nos tornando mais burros, ou na sua própria definição, os rasos, para expressar a ideia de que, com a velocidade da informação, apenar ficamos zapeando pela rede sem jamais nos aprofundar em nada.

Fiquei absorto nessa ideia, pensando se eu mesmo não teria me tornado um “raso”. De pronto, comecei a rever meus hábitos cibernéticos. E me surpreendi ao perceber que estava praticamente viciado em redes sociais, principalmente no Facebook, uma ferramenta muito boa para interação com outras pessoas, ao contrário do quase-defunto Orkut. Com o fácil manejo e transporte do tablet que possuo, aliado ao acesso à internet em casa e no trabalho, várias vezes ao dia interrompia alguma atividade para checar minha página no Face. Às vezes, nem tinha nada de novo, mas ficava vagueando por postagens mais antigas, como se aquilo fosse aplacar essa sensação de “interatividade” que eu buscava.

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Percebi ainda que gastava muito tempo saltando de site em site, ou “pulando de galho em galho” como diria Carr na sua teoria fatalista. De repente me vi passando rapidamente os olhos pelos cabeçalhos das notícias, e, quando me dava ao luxo de ler alguma coisa, já não conseguia reter muito da leitura que fazia, isso quando conseguia ter paciência de ler o texto até o final. Estaria Carr com razão? Meu cérebro teria sido corrompido pelo excesso infinito de informação? Teria eu me tornado mais…burro?

Para chegar a alguma certeza, decidi servir eu mesmo de cobaia numa pequena experiência, depois de me fazer a seguinte proposição, à qual acabei compartilhando no Facebook: “Fiquei pensando: será que consigo passar uma semana totalmente desplugado?”.

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Os breves segundos que se passaram, depois de conferir meu post ali no Facebook, exposto aos meus contatos, foram para mim um estranho misto de perda aliado a uma sensação de “faltar algo”, que não consegui entender, muito menos explicar. Não pude deixar de suspirar ao pensar que aquela seria uma semana de cão, onde me absteria totalmente da internet, e que nem sequer checaria meu e-mail profissional. Era uma quarta-feira, e enfim, me lancei ao meu – àquela altura – indigesto experimento.

Exatamente uma semana depois, retorno ao intenso, interativo e colorido seio da web. Passeei um pouco nos costumeiros sites de notícias; vi quanta coisa foi dita, “curtida” e compartilhada no Facebook (acredito que minha ausência não foi muito sentida, ou pelo menos pouco notada…), gostei de reencontrar os sempre ótimos posts do meu amigo remoto (adicionado ao meu Face!) Paulo Nogueira, autor do site “Diário do Centro do Mundo”. Baixei alguns ebooks de David Hume, que já estão adicionados na biblioteca do Galaxy Tab. Vida normal!

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Mas, não obstante tanta coisa para se fazer na rede, não pude deixar de notar que esse período desplugado me trouxe algumas lições. A primeira é que percebi que não estava lendo tanto como devia e gostaria (minha lista de livros – de papel e digitais – inacabados estava crescendo de forma lenta, mas constante). Então retomei algumas dessas leituras interrompidas e fiquei feliz de poder concluí-las nesses dias “vagarosos”. Por que vagarosos? É que, já que não estaria concentrado no ritmo frenético da internet, me pus a gastar todo meu tempo ocioso fruindo deliciosas páginas – ou deslizando o dedo na tela do tab, quando queria ler algum livro digital.

A segunda impressão é que notei como estava tenso, intelectualmente inquieto, quase não conseguindo relaxar, fruto da inútil tentativa de me manter permanentemente informado. Não foi muito fácil trocar toda essa agitação digital por tardes tranquilas, sentado nos fundos da casa, um livro na mão, que eu vencia vagarosamente, ao tempo que bebericava uma fumegante xícara de café…

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E por último, a mais importante das lições: embora não irei deixar de gastar um tempo considerável navegando na web, não vou desconsiderar o tempo gasto com uma higiene mental mais profícua e natural. Lerei os livros que me esperam numa lista interminável, embora escolhidos por um critério mais rigoroso: os que me acrescentem mais sabedoria para lidar com a vida, a exemplo dos clássicos ensaios Sobre a brevidade da vida, e os Aforismos, ambos do pensador romano Sêneca, de onde cito uma passagem que pretendo guardar por toda a vida: “Concentra-te, durante a tua curta vida, nas coisas essenciais, e vive em paz contigo próprio e com o mundo”.

Carr pode até provar que a internet é prejudicial ao cérebro humano. Mas, como tudo o que está à nossa disposição, se utilizada com equilíbrio, pode nos abrir possibilidades úteis e benéficas, como os tantos bons livros à disposição a quem quiser se embrenhar por páginas magistralmente bem escritas.

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Pe Sousa é natural de Floriano-PI, mas há quinze anos radicou-se em Juazeiro-BA. Posta crônicas no blog abuscademimmesmo.wordpress.com, às quais foram reunidas num livro ainda não publicado, A Busca de Mim Mesmo

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