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Juca Ferreira diz que Brasil gritou por democracia no Carnaval

"De norte a sul do Brasil, nas ruas de praticamente todas as cidades brasileiras, os foliões gritando FORA, TEMER!, em meio ao carnaval, manifestaram a crescente rejeição do povo brasileiro ao governo golpista. Calaram a boca dos que pensavam que, pelo fato de estar brincando carnaval, os foliões são alienados e haviam esquecido a grave situação que o país vive. A lição desse carnaval foi que alegria é fundamental", analisa o sociólogo e ex-ministro Juca Ferreira

"De norte a sul do Brasil, nas ruas de praticamente todas as cidades brasileiras, os foliões gritando FORA, TEMER!, em meio ao carnaval, manifestaram a crescente rejeição do povo brasileiro ao governo golpista. Calaram a boca dos que pensavam que, pelo fato de estar brincando carnaval, os foliões são alienados e haviam esquecido a grave situação que o país vive. A lição desse carnaval foi que alegria é fundamental", analisa o sociólogo e ex-ministro Juca Ferreira (Foto: José Barbacena)
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Revista Fórum - De norte a sul do Brasil, nas ruas de praticamente todas as cidades brasileiras, os foliões gritando FORA, TEMER!, em meio ao carnaval, manifestaram a crescente rejeição do povo brasileiro ao governo golpista.

Calaram a boca dos que pensavam que, pelo fato de estar brincando carnaval, os foliões são alienados e haviam esquecido a grave situação que o país vive. A lição desse carnaval foi que alegria é fundamental.

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Entre os brasileiros que são a favor do restabelecimento da democracia, temos duas previsões “fatalistas” para 2018. A primeira, nitidamente otimista, professa a crença do “já ganhou”, acreditando que o presidente Lula descerá de uma estrela brilhante, como o índio da música de Caetano, para nos salvar no último instante. Colocam nas costas do ex-presidente toda a responsabilidade e fazem figa à espera da vitória na batalha final. Ignoram, assim, o cerco e os ataques sistemáticos dos golpistas, da grande imprensa, do MP e de parte do judiciário, contra a imagem do ex-presidente e contra o PT.

Para esse desejo se tornar realidade, a sociedade, os movimentos sociais e os partidos têm que, em primeiro lugar, construir um movimento democrático poderoso e amplo capaz de, antes de tudo, barrar o processo persecutório ora em marcha contra a figura do maior líder popular da história recente do Brasil e garantir que o pleito previsto aconteça sem os limites discriminatórios tramados pelos golpistas para exclui-lo da disputa eleitoral.

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No outro extremo está o grupo do “já perdeu”, acreditando que a eleição dificilmente acontecerá e, se vier a ocorrer, as esquerdas serão irremediavelmente derrotadas, não só pela força centrípeta do golpe, mas também por uma tendência global de retrocesso.

Uns olham para o céu, outros já se sentem no inferno, enquanto sobre a face objetiva da Terra nada está decidido. Se tirarmos as lentes do desejo ou do temor, veremos que o destino de 2018 ainda não foi traçado. Tudo é possível. Tudo é porvir. O futuro está sendo construído. Não está pronto. O tempo está a nosso favor, mas temos muito combates para travarmos e será preciso trabalhar muito para garantir um futuro digno para o nosso país.

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Daqui até lá, temos tempo de superar a crise política e sair da perplexidade paralisante. Teremos tempo de criar uma grande e ampla frente democrática e construir um programa comum para retirar o país desta crise econômica, política e social, com a possibilidade de se converter numa crise institucional sem precedentes. Temos tempo de parar o golpe, reverter o avanço da direita e, ainda, restabelecer o processo democrático. Será nas lutas sociais e políticas que a democracia no Brasil se viabilizará.

Terminou, ainda no primeiro governo da presidenta Dilma, um ciclo político iniciado em 2003 com a eleição de Lula, sem que tenhamos tomado iniciativas para nos adiantar, renovar e consertar os erros e as insuficiências do nosso projeto. Continuamos como se nada estivesse acontecendo. Estamos hoje carregando o peso de erros sobre os quais ainda não refletimos; em relação aos quais ainda não nos responsabilizamos perante a sociedade; e, o que é mais importante, para os quais ainda não apresentamos propostas de superação e avanço. Esta reflexão é incontornável e é uma etapa que ainda está por ser vencida – premissa e primeiro passo para recuperarmos a credibilidade e para que possamos nos fortalecer e nos unirmos para seguir adiante.

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Para os adversários, o cenário é péssimo e o tempo conspira contra. O governo golpista está fragilizado. A rejeição não para de crescer. No Nordeste já ultrapassou os 90%. A farsa do “impeachment para combater a corrupção e salvar a economia” caiu por terra. A cada nova delação, o país confirma que se trata de uma quadrilha procurando se proteger. A imprensa já não consegue esconder os vínculos do golpe com a corrupção a começar do próprio presidente em exercício e de quase todos os seus ministros. A delação de Yunes, amigão e parceiro de Temer, não deixa dúvida de que o golpe estava sendo preparado antes mesmo das eleições. “Temos que estancar a sangria” é a frase que expressa de forma concreta a política nacional liquefeita pelo golpe. Boa parte dos paneleiros não mais duvida de que foi usada para arrancar do poder uma presidenta honesta e legitima com o objetivo de atender a interesses antes inconfessáveis. Muitos já sabem que foram manipulados pelos que tramavam o golpe.

Temerário, o governo que aí está abriu um saco de maldades ao jogar nas costas dos trabalhadores e da maioria do povo brasileiro a conta da crise econômica propondo reformas trabalhista e previdenciária que tiram direitos e perpetuam privilégios. A desconfiança e a desaprovação popular só crescem. Se não fosse o esforço diário da imprensa em criar um ar de normalidade e um clima de otimismo, esse governo não se sustentaria nem mais um dia. O governo oriundo do golpe não só não deu resposta à crise econômica, como a aprofundou. O país está sem comando e muitos dos apoiadores do golpe começam a dar sinais de querer pular do navio. Insistir neste caminho do golpe é uma irresponsabilidade de quem pouco se importa com o país, com a vida do povo brasileiro e com o risco iminente de uma convulsão social.

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Desde que tomaram o governo, a situação do Brasil só piora. A crise econômica não dará refresco a curto prazo; o desemprego está se agravando; a miséria e a pobreza só crescem e a crise da segurança é cada vez mais aguda; na educação é só retrocesso e a saúde só descaso. Abandonado à própria sorte, o cidadão vai caindo na real. À medida que as delações premiadas avançam, vai ficando claro que corrupção não é invenção do PT, mas sim uma prática generalizada e institucionalizada na política brasileira.

As ameaças aos direitos também começam a pesar no dia a dia da sociedade. Os ataques reacionários aos direitos das mulheres, às conquistas dos negros, das pessoas LGBTs, aos povos indígenas, à liberdade de expressão, à juventude e aos mais pobres precarizam a vida e tornam o espaço público sufocante.

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Nossa soberania vem sendo ameaçada. A privatização e a entrega para o capital estrangeiro de áreas estratégicas da economia do país, como o pré-sal, as terras para o capital internacional e disponibilização das terras indígenas para mineradoras, agronegócio e todo tipo de interesses, assim como a crise nas universidades são ameaças reais ao patrimônio nacional e ao nosso desenvolvimento em todas as dimensões.

Enfim, o projeto de fazer do Brasil uma grande nação, vitorioso em quatro eleições seguidas, vem sendo desconstruído e substituído por um ataque retrógrado, antipopular, antidemocrático e contra a soberania do país. Aliás, em um momento que o nacionalismo cresce no mundo todo, diga-se de passagem, capitaneado pela direita, estamos vivendo no Brasil uma retomada do entreguismo patrocinada pela sempre defasada e retrógrada direita nacional.

Só mesmo com muita incompetência e desorganização por parte das forças populares e democráticas esse projeto deletério, encarnado pelo governo golpista, pode se consolidar em nosso país. As últimas pesquisas indicam um desgaste crescente do governo e do projeto golpista, levando junto para o buraco os partidos que tramaram e sustentam o golpe. As pesquisas também mostram uma tendência de fortalecimento das forças democráticas. Se por um lado é cedo para qualquer conclusão, por outro, o cenário atual serve de alento e de alerta. Tudo é possível. Vai depender da evolução da situação econômica, social, política e da condução dos enfrentamentos pelas forças populares e democráticas.

Vejo mais um cenário possível além dos a que já nos referimos. O povo brasileiro vem rejeitando nas urnas, desde 2013, o projeto antipopular e antidemocrático de inspiração neoliberal dos golpistas e as últimas pesquisas indicam o desejo de restabelecer a democracia dando a vitória em todos os cenários ao principal candidato de oposição. Se nós não aproveitarmos o tempo que temos para fazer o dever de casa e renovar o projeto político democrático e popular para o país, corrigindo os erros em todas as dimensões – econômicas, política, social – e superando as deficiências apontadas pela própria realidade, corremos o risco de conquistar o mando do país, mas sem as condições para conduzi-lo. Seria um erro histórico e de uma gravidade enorme. O tempo é curto, mas se trabalharmos com afinco, teremos revitalizado o projeto democrático com os erros corrigidos e as insuficiências superadas. As águas de março vêm fechando o verão e, espero, enchendo os reservatórios de água Brasil afora. E que venha também renovando nossas forças.

Juca Ferreira, sociólogo, foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma Rousseff

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