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Luis Felipe Miguel: eleições de 2018 têm que ser luta contra fascismo, retrocessos e golpe

Cientista político fala sobre o risco Bolsonaro, destaca porém que "não basta" combater o fascismo sem impedir os retrocessos nos próximos anos e afirma que "se a luta contra o golpe não estiver no topo das prioridades, se a campanha eleitoral não estiver a serviço dela (e não o contrário), o próximo presidente, não importa qual seu nome ou programa, estará condenado a ser o simples gestor do atraso"

Luis Felipe Miguel: eleições de 2018 têm que ser luta contra fascismo, retrocessos e golpe
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Por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook - A eleição de outubro tem que ser abordada em três níveis simultâneos.

(1) A luta contra o fascismo. Não é possível fingir que o fenômeno Bolsonaro não existe. Seu discurso pode chocar pelo grau de estupidez que contém, mas o fato é que cativa um em cada seis eleitores brasileiros.

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Pessoas que se curvam às soluções aparentemente mais fáceis, que não exigem nenhum esforço de pensamento: a solução para a criminalidade é pena de morte e armamento da população, estupro se resolve com castração química, retirada de direitos combate o desemprego. E que, levadas pela adesão ao "mito", que se torna uma vinculação emocional e um elemento da própria identidade, vão aceitando todo o resto.

Bolsonaro pode propor o fim da escola pública como solução para eliminar a "doutrinação marxista", pode anunciar a retirada do Brasil da ONU igualmente "comunista", pode dizer em público que as mulheres devem ficar caladas - estou me limitando a algumas das sandices dos últimos dias - que seu público aplaude ou pelo menos releva.

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O bolsonarismo é uma das engrenagens que têm permitido que o racismo, o sexismo e a homofobia, sempre presentes na sociedade brasileira como discursos difusos e práticas entranhadas nas estruturas sociais, passem a ser também assumidos como identidades militantes. Ao negar o discurso dos direitos, ao qual contrapõe uma mistura indigesta de lei da selva, "meritocracia" e fundamentalismo cristão, ele nos aproxima da barbárie.

É importante combater este discurso, que torna tóxico o espaço público e, como um buraco negro, arrasta toda a discussão política para o patamar mais baixo de degradação e caricatura.

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É importante impedir que ele se alastre e, sempre que possível, induzir a dúvida em seus seguidores.

(2) A luta contra os retrocessos sociais. Mas não basta combater o fascismo (mal) disfarçado que Bolsonaro encarna. Marina Silva enfrentou o ex-capitão na Rede TV!, fez com que vacilasse, mostrou que mesmo uma persona política tão pouco combativa como ela é capaz de, com um pouco de firmeza, desconstruir os absurdos que ele fala, de uma maneira que até o público dele possa entender. Parabéns para ela.

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Mas o que Marina Silva nos diz sobre a emenda constitucional que congelou o gasto social? Sobre a reforma trabalhista e outros atentados aos direitos da classe trabalhadora? Sobre a proposta de reforma da previdência? Sobre o rentismo? Sobre a desnacionalização de nossa economia? Pensando bem: o que Marina Silva nos diz sobre o desastre de Mariana? Sobre a relação entre capitalismo e destruição do meio ambiente?

É preciso combater Bolsonaro, mas não é possível deixar que ele faça o papel do "bode na sala", aquele que serve para mostrar que tudo pode ficar pior e nos faça ficar alegres por continuar só com o péssimo de sempre.

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Bolsonaro é o bode, Marina é o não-bode e Alckmin, motivado a conquistar o eleitorado da direita extremada e com Ana Amélia de vice, decidiu assumir a posição de semibode. Não são diferenças irrelevantes.

Mas os três - e junto com eles os Amoêdos e Meirelles da vida - representam matizes de um mesmo projeto antipovo e antinação.

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Um projeto que está muitos degraus abaixo do que aquilo que, com todos os seus problemas, a Constituição de 1988 apontava e que nos congela na posição de país periférico, pobre e profundamente injusto.

(3) A luta contra o golpe. O entusiasmo que a campanha eleitoral promove, a adrenalina da disputa, a atenção pública focada nos candidatos, nada disso pode obscurecer o fato central: nosso contexto é o do golpe.

Esta não é uma eleição normal.

Há anos, a esquerda política vem sendo criminalizada.

O aparato repressivo do Estado - judiciário, ministério público, polícias - age de maneira abertamente seletiva.

A vigência da lei é condicional. O candidato favorito à eleição está sendo impedido de competir, o que constitui uma arbitrariedade reconhecida até pelas Nações Unidas, e preso em desacordo evidente ao artigo 5 da Constituição Federal, após processo cujos vícios já foram amplamente noticiados.

É próprio do processo eleitoral funcionar como algo fechado em si mesmo, uma disputa de tipo esportivo.

Esta é uma das armadilhas para a esquerda, quando passa a priorizar a luta neste campo.

O comportamento do PT serve de exemplo, fechando alianças com partidos golpistas pelo Brasil afora, pensando sobretudo em resultados eleitorais imediatos.

Movimentos do próprio Fernando Haddad, substituto de Lula na cabeça de chapa, mostram que parece vantajoso agir no cenário eleitoral como se estivéssemos próximos de uma normalidade.

Mas não estamos. Qual é o espaço que o eleito, quem quer que seja, terá para implementar mudanças?

A ruptura de 2016 mostrou que o mandato popular é revogável por decisão de interesses poderosos.

Judiciário, mídia e burguesia têm deixado bem claro que não vão permitir que se volte atrás no desmonte do país.

Se a luta contra o golpe não estiver no topo das prioridades, se a campanha eleitoral não estiver a serviço dela (e não o contrário), o próximo presidente, não importa qual seu nome ou programa, estará condenado a ser o simples gestor do atraso.

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