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Mídia

Miguel Lago: para uma nova vitória das redes sociais na democracia?

Em artigo no jornal francês Le Monde, o cientista político Miguel Lago, cofundador da rede Meu Rio e diretor da ONG Nossas, diz acreditar que a razão do provável sucesso de Jair Bolsonaro durante o segundo turno das eleições presidenciais de domingo 28 de outubro se baseia na forma pela qual o candidato se aproveitou das novas tecnologias para destilar um discurso sensacionalista de imediata propagação

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Tradução de Sylvie Giraud - Em um artigo no jornal francês Le Monde, o cientista político Miguel Lago acredita que a razão do provável sucesso de Jair Bolsonaro durante o segundo turno das eleições presidenciais de domingo 28 de outubro se baseia na forma pela qual o candidato se aproveitou das novas tecnologias para destilar um discurso sensacionalista de imediata propagação.

No domingo, 28 de outubro, o Brasil se prepara para entrar no crescente clube de países governados por populistas de extrema direita. O sucesso da campanha de Bolsonaro, desprovida de estruturas partidárias e eleitorais clássicas, e sua eventual vitória nas eleições presidenciais, reside na sua capacidade de tirar proveito das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs).

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Não é apenas mais um exemplo do potencial explosivo da fusão entre a arquitetura das redes sociais e a democracia representativa, mas bem um passo à na demonstração de seu potencial explosivo.

As TICS, e mais particularmente as redes sociais, desempenharam um papel importante em todas as últimas grandes eleições. Elas contribuíram para a ascensão ao poder de novos partidos políticos, como o movimento de 5 estrelas na Itália; a vitória de outsiders sem uma estrutura partidária pré-estabelecida como Emmanuel Macron, ou a captura de partidos tradicionais por celebridades midiáticas como Donald Trump. No entanto, desta vez, um passo a mais foi dado, fazendo de Jair Bolsonaro o primeiro candidato realmente pertencente ao novo mundo eleitoral.
Uma ascensão sem partido, nem dispositivos eleitorais tradicionais

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Bolsonaro era até agora um deputado pouco conhecido e isolado, cujo único feito havia sido a defesa pública da antiga ditadura brasileira. Sua ascensão, ao contrário dos casos anteriores, não se deve à criação ou à tomada de posse de um partido existente, nem mesmo prática de dispositivos eleitorais tradicionais (estrutura partidária ou jogos de aliança) ou a uma superexposição na mídia.

Neste país continental de mais de 200 milhões de habitantes, dos quais quase 150 milhões de eleitores, o tempo de televisão, concedido de acordo com a representatividade dos partidos no Parlamento, tem sido historicamente o principal fator que explica as vitórias eleitorais. Bolsonaro nem precisava, ele fazia muito pouco uso de seu tempo dedicado a debates e entrevistas. Apunhalado no começo da campanha, ele nem viajou pelo país tanto quanto seus oponentes.
A arte de Bolsonaro tem sido compensar a ausência de retransmissões eleitorais tradicionais pelo uso de novas tecnologias para a criação de mecanismos automatizados de propaganda.

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Suas equipes produzem conteúdo quase exclusivamente formatado para redes sociais. Esses conteúdos são então distribuídos a uma rede de milhares de grupos do WhatsApp e a muitos perfis pro-Bolsonaro no Facebook. As equipes do candidato criaram perfis falsos que, usando robôs controlados centralmente, transmitem essa propaganda.

A estratégia está valendo a pena porque o Bolsonaro, que teve, em 2014, apenas alguns milhares de seguidores, tem quase 15 milhões hoje. Ele construiu uma estrutura de comunicação direta com dezenas de milhões de eleitores. Seu poder é muito maior que o de qualquer outro meio. No entanto, robôs e grupos do WhatsApp não são suficientes para invadir redes.

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Seu verdadeiro segredo está na aliança entre a arquitetura dessas redes e o conteúdo inflamatório, sensacional e controverso que ele destila. Estudos do sociólogo Paolo Gerbaudo, do Kings College, em Londres, mostram que tal conteúdo estimula o compartilhamento e sua disseminação. Mas para isso, Bolsonaro tem um dom inegável: até conseguiu chocar a filha de Jean-Marie Le Pen! O futuro presidente virtual do Brasil é abertamente misógino, homofóbico, racista e defende execuções extrajudiciais, o uso de tortura e a proibição de ONGs. Em suma, ele defende o fim da democracia liberal e dos direitos humanos.

Na era da pós-verdade, ele continua a redesenhar os contornos da verdade e da falsidade com mensagens que se propagam viralmente através das redes sociais. Ainda mais eficaz que Trump, ele conseguiu "falsificar" os sinais de corrupção encontrados contra ele pelos principais jornais brasileiros.

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