O depoimento de Emilio Odebrecht à Folh… ops, à Lava Jato
"A reportagem da Folha sobre o depoimento do oligarca da Odebrecht, o velho Emilio Odebrecht, termina com uma informação interessante: 'No início da audiência, Moro entendeu que o depoimento do patriarca deveria ficar em segredo de justiça até a quebra do sigilo da delação da Odebrecht pelo STF (Supremo Tribunal Federal) –o que depende de decisão do ministro Edson Fachin.'; Só que a reportagem já tinha vazado o seu conteúdo! A Folha explica que o vídeo foi “acessado pela Folha por uma falha da Justiça Federal”. É a suruba total", escreve Miguel do Rosário no Cafezinho
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Por Miguel do Rosário, no Cafezinho
A Lava Jato é uma piada de humor negro.
A reportagem da Folha sobre o depoimento do oligarca da Odebrecht, o velho Emilio Odebrecht, termina com uma informação interessante:
No início da audiência, Moro entendeu que o depoimento do patriarca deveria ficar em segredo de justiça até a quebra do sigilo da delação da Odebrecht pelo STF (Supremo Tribunal Federal) –o que depende de decisão do ministro Edson Fachin.
Só que a reportagem já tinha vazado o seu conteúdo! A Folha explica que o vídeo foi “acessado pela Folha por uma falha da Justiça Federal”.
É a suruba total.
A reportagem tem um outro exemplo maravilhoso desse jornalismo pós-verdade que caracteriza o nosso tempo.
O patriarca do grupo disse que jamais tratou de pagamentos ilícitos com Palocci, mas "não tem dúvidas" de que ele pode ter sido um dos operadores do PT e recebido recursos em favor do partido.
Entenderam? O patriarca “não tem dúvidas” de que Palocci “pode ser sido um dos operadores do PT”.
Aliar a expressão “não ter dúvidas” a uma frase na condicional é outra novidade dos tempos modernos.
O regime de exceção não se limita ao judiciário. Invadiu também a sintaxe. Eu “não tenho dúvidas” de que a Folha “pode” ter distorcido o depoimento de Emílio a Sergio Moro.
Sobre o conteúdo em si do depoimento de Emilio Odebrecht, é inacreditável que a Lava Jato tenha destruído a maior empresa brasileira de engenharia, além de tê-la entregue aos chacais estrangeiros, para ouvir platitudes como a de que “sempre houve caixa 2 no Brasil, para todos os partidos”.
A economia afunda na maior depressão de sua história, os vampiros do congresso avançam sobre os direitos sociais, os lobisomens do judiciário avançam contra os direitos individuais, e os jornalões não falam de uma coisa nem outra, apenas da Lava Jato.
Ninguém propõe nada para recuperar a economia brasileira.
A mesma reportagem traz outro depoimento, de outro executivo da Odebrecht, também “vazado” por “falha do sistema de vídeo”.
Ela traz uma “opinião” interessante do executivo da Odebrecht, que revela o viralatismo profundo que assola a nossa burguesia.
"O programa do governo era a revitalização da indústria naval no Brasil", afirmou o engenheiro, que disse ser contra a ideia. "Era um segmento que não tinha o menor futuro. Não tinha tecnologia, não tinha mão de obra especializada, não tinha fornecedor e, basicamente, focava quase num cliente único, que era a Petrobras."
O executivo afirmou que foi voto vencido contra a execução do projeto. Segundo ele, as tratativas com Palocci não faziam parte de sua atuação, mas eram de responsabilidade de Marcelo Odebrecht.
Faria também negou, no depoimento, que a Odebrecht tenha pago propina nesse contrato específico.
De acordo com o executivo, as indústrias nascem por combustão espontânea, e não por investimentos privados e públicos. Se os chineses seguissem tal raciocínio, teriam limitado suas ambições e se restringido à plantar arroz.
Ora, se não havia mão-de-obra especializada, esta poderia ser formada. E foi. Se não havia tecnologia, esta poderia ser importada e aprendida. E foi. O “único cliente”, a Petrobrás, era simplesmente a maior empresa do país e uma das maiores empresas de petróleo do mundo. Após os investimentos do governo, da Petrobrás e do setor privado, a indústria brasileira de navegação renasceu, floresceu, gerou dezenas de milhares de empregos, prosperidade para cidades inteiras, arrecadação fiscal, estabilidade, até que veio a Lava Jato e, zás, destruiu tudo.
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