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Mídia

O quarto poder

Se muita gente acredita que a imprensa tem, hoje, um poder absoluto sobre a sociedade, isto se deve sobretudo ao papel decisivo que ela desempenhou durante a guerra entre EUA e Espanha, em 1898

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Se muita gente acredita que a imprensa tem, hoje, um poder absoluto sobre a sociedade, orientando e formando a opinião pública, isto se deve sobretudo ao papel decisivo que ela desempenhou por ocasião da guerra mantida pelos Estados Unidos da América contra a Espanha, em 1898. A história assegura que a influência da imprensa foi determinante para que aquele conflito ocorresse. A ponto de se afirmar que aquela experiência foi uma contribuição muito importante para se legitimar o conceito do quarto poder com que certas publicações periódicas passaram a ser vistas, logo após a revolução francesa.

O mau relacionamento já se arrastava há anos entre estas duas nações. O ponto central do desentendimento eram as colônias de ultramar mantidas pela Espanha no mundo. Foi então que a imprensa norte-americana começou a fazer uma sistemática campanha anti-espanhola, o que detonaria um conflito bélico conhecido como a Guerra Hispano-Americana, que viria se desenrolar entre os meses de abril e agosto de 1898, colocando em jogo o destino político de Cuba, Porto Rico, Guam e das Filipinas.

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Na raiz do conflito, os correspondentes estrangeiros mais qualificados foram enviados a cada uma das colônias em disputa, com uma clara instrução: levantar tudo que os espanhóis estavam fazendo e informar à redação. Se o que eles faziam era mau e perverso, tanto melhor. Mas quando os correspondentes lá chegaram, tudo estava muito calmo... Tanto assim que um deles enviou um telegrama avisando que a calma onde ele ali estava era tamanha que a probabilidade de um enfrentamento estava longe de ocorrer. 

A curta resposta do chefe de redação não demorou a chegar e foi imperativa: "Envie-me apenas as ilustrações que eu encenarei a guerra." Quem escreveu isto foi um dos mais respeitados homens do mundo das notícias. Ninguém menos do que William Randolph Hearst, o criador da imprensa marrom, cujo lema era: "Eu faço as notícias". Uma figura controversa como poucos nos meios jornalísticos da época, Hearst serviu de modelo para o célebre personagem Charles Foster Kane, retratado por Orson Welles, em Cidadão Kane.

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As ilustrações, a que Hearst se referia, eram os desenhos que os correspondentes deveriam lhe enviar. Mas não mostrando o que os espanhóis faziam, e sim, o que o seu chefe esperava que os espanhóis fizessem. Logo em seguida, começaram a surgir os esboços de soldados espanhóis torturando mulheres inocentes, por suspeitarem que elas eram espiãs. Adicione-se a estes factóides a publicação de uma carta enviada pelo embaixador da Espanha ao presidente dos Estados Unidos, William McKinley (1843-1901), que vazou no New York Journal. Na carta, o embaixador insinuava as suas dúvidas quanto ao fato das declarações do presidente não serem confiáveis, pela fama do mandatário ser conhecido como sendo um "político fraco e populista". A partir deste momento o desfecho se acelerou e, apesar de ambos os governos evitarem o conflito, a imprensa o instigou.

Quis o destino que um barco norte-americano explodisse perto de Havana. Antes mesmo que este acontecimento fosse esclarecido, a imprensa informou que os responsáveis pela explosão eram os espanhóis. Mas incrivelmente os governos de ambos os países nada fizeram, ainda que a situação se mostrasse tensa. Os jornais anunciaram então com grande estardalhaço: "O povo patriota defende o uso das armas". 

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Pressionado pela imprensa e pela opinião pública, no dia 25 de abril de 1898 o presidente McKinley declarou a guerra. Foram 3 meses de hostilidades. Os mortos se contaram aos milhares. Mas os exemplares dos jornais vendidos chegaram aos milhões. Como resultado do conflito, a Espanha perdeu suas últimas possessões coloniais. Nascia então o mito da imprensa como o quarto poder. 

Mas isso era uma outra época e, é claro, não há a menor semelhança desses fatos com os que ocorrem hoje por aqui no Brasil, nem tampouco a imprensa daqui tem, sequer de longe, todo esse poder. Já os nossos leitores devem estar agora muito mais bem informados do que eram no passado.

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José Carlos Alcântara é colaborador do Jornal Primeira Hora, do Rio de Janeiro, e consultor de empresas

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