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Reinaldo e Bolsonaro: 'iguais, porém diferentes'

"Bolsonaro conseguiu a façanha de colocar o mundo contra si, seja por indignação legítima, seja por oportunismo e/ou covardia para assumir que no fundo, lá no fundo, muitos dos que se uniram à onda de protestos contra ele o fazem por falta de coragem de assumir que pensam exatamente igual", diz Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, sobre as críticas de Reinaldo Azevedo ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ); "Vai se formando, então, uma fila de 'indignados' de fancaria. Gente oportunista e mau-caráter, mas que de burra não tem nada", afirma

"Bolsonaro conseguiu a façanha de colocar o mundo contra si, seja por indignação legítima, seja por oportunismo e/ou covardia para assumir que no fundo, lá no fundo, muitos dos que se uniram à onda de protestos contra ele o fazem por falta de coragem de assumir que pensam exatamente igual", diz Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, sobre as críticas de Reinaldo Azevedo ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ); "Vai se formando, então, uma fila de 'indignados' de fancaria. Gente oportunista e mau-caráter, mas que de burra não tem nada", afirma (Foto: Leonardo Attuch)
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Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

Há uma boa e uma má notícia para o deputado pelo PP fluminense Jair Bolsonaro.

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A boa notícia é a de que, apesar de suas reiteradas agressões aos decoros parlamentar e social, a teoria que fundamenta a inviolabilidade do mandato parlamentar, no Brasil, é interpretada de forma distorcida não apenas pelo corporativismo vigente nas Casas Legislativas de todo país, mas, também, pelo Judiciário, de modo que será difícil cassá-lo.

Já a má notícia é a de que o mesmo Bolsonaro conseguiu a façanha de colocar o mundo contra si, seja por indignação legítima, seja por oportunismo e/ou covardia para assumir que no fundo, lá no fundo, muitos dos que se uniram à onda de protestos contra ele o fazem por falta de coragem de assumir que pensam exatamente igual. EM TUDO.

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Para qualquer um que não seja obtuso como os “bolsonaretes” – os suicidas sociais que saem por aí justificando agressões a mulheres e incitações ao crime de estupro porque o agressor-incitador “foi xingado” –, defender o deputado despirocado vai ficando praticamente impossível.

E se a atitude recente do deputado valentão (com mulheres) é inaceitável, ela vem de um precedente ainda menos elogiável, o da “discussão” anterior com a deputada petista Maria do Rosário, em 2003, quando ele a agrediu fisicamente e, além de teorizar sobre a meritocracia do estupro, insultou-a com um palavrão que persegue TODAS as mulheres quando incomodam um homem…

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Vai se formando, então, uma fila de “indignados” de fancaria. Gente oportunista e mau-caráter, mas que de burra não tem nada.

Reinaldo Azevedo, o autoproclamado “rottweiler amoroso” – esse homem conseguiu se caricaturar com a verdade –, que de burro não tem nada, aderiu a uma onda que está parecendo que vai crescer, o que, mais uma vez, mostra que “não há honra entre ladrões”. Assim, sempre tratou de, por assim dizer, “polir” o discurso e as atitudes toscas do coleguinha “rottweiler”.

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Lá em 2011, o “rottweiler amoroso” já criticava Bolsonaro por, em tradução livre, ser muito verdadeiro ao dizer coisas que é preciso muita vaselina para enfiar nas cabeças fracas. Essa é a tradução da seguinte frase do autoproclamado canino:

“(…) Ao botar em primeiro plano seu achismo, seus chutes, sua retórica desmesurada, [Bolsonaro] acaba comprometendo o lado sensato do seu combate, que existe, sim (…)”

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Curioso sobre o “lado sensato” de alguém como Bolsonaro? Para Reinaldo Azevedo, tudo que a alma gêmea diz, mas que deveria ser dito “de outra forma”. De preferência sem violência física, sobretudo sob holofotes na Tribuna da Câmara.

Foi nesse clima que os rottweilers amoroso e raivoso se entregaram a uma conversa de comadres, daquelas que parece dividi-las quando mais as une.

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Reinaldo, que de trouxa não tem nada, tratou de se distanciar do congênere ideológico, pois a tese de que um homem “ter sido xingado” lhe dá direito de agredir mulheres desse jeito é só para gente muito burra, que vive rodeada de gente tão burra quanto, pois proferi-la é um mico social inaceitável em qualquer sociedade minimamente civilizada.

No post lá de 2011, Reinaldo pôs um título curioso para “puxar a orelha” de Bolsonaro pelo excesso de sinceridade:

O massacre de Bolsonaro esconde uma violência de Estado”.

E sabe qual foi a “violência” a que se referiu o blogueiro da Veja, colunista da Folha de São Paulo, leitor? O governo federal ter enviado a escolas um material contra a homofobia. Já estupro e agressões físicas de um deputado não constituem “violência parlamentar”, claro.

Mas Reinaldo não pode passar recibo. A situação de Bolsonaro, em que pese a rede de proteção corporativista do Legislativo, é praticamente insustentável. Todas as senadoras do país – à exceção da senadora do PP – assinaram a representação que redundou em abertura de processo contra ele no Conselho de Ética e Decoro da Câmara. Até senadora tucana assinou.

Além disso, como dizem as hordas bolsonariano-reinaldianas, Reinaldo tem noção de que o discurso golpista de Bolsonaro é fria – há que guardar o discurso do golpe militar para a “hora certa”. Reinaldo não é trouxa de assumir ele mesmo o que até Lobão não assume, que se o cavalo do golpe lhes passar encilhado à porta, montarão sem pestanejar.

Como o “amoroso” canino de Veja e Folha já havia criticado (oportunista e preventivamente) a despirocada mais recente de Bolsonaro, este decidiu lhe enviar singela mensagem lembrando do “lado sensato” que os une. Desse modo, faculto ao leitor a íntegra dessa troca de gentilezas condoídas, desde que munido de um saco de vômito tamanho família.

***

Reinaldo,

entre os dias 01 e 05 de novembro de 2003 um casal de namorados foi surpreendido por 5 marginais quando acampavam em SP. No dia 02 o garoto Felipe (19 anos) foi executado com um tiro na nuca. Ela (com 16 anos), até o dia 05, foi estuprada pelos marginais em “rodízio” quando então foi executada pelo menor “Champinha”, a golpes de facão. No dia 11 a RedeTV me convidou para falar sobre a redução da maioridade penal já que sou ainda autor da PEC 301/1996. Não sabia que a deputada Maria do Rosário havia sido convidada também para falar, mas contra a redução da maioridade. O resto da história pode ser visto no vídeo em sua matéria.

Confesso não saber de o por que o Senhor destila tanto ódio para comigo. Fui elogiado no “Mensalão” por Joaquim Barbosa como “o único da base do governo que não foi comprado pelo PT”. Sei que isto é dever e não virtude. Não posso acreditar numa CNV onde TODOS seus integrantes são indicados por um dos lados. Nunca defendi ditaduras pois não considero o período militar como tal. Diriam, mas o Congresso esteve fechado por aproximadamente 1 ano e o Governo legislava por Decreto-Lei. Sim é verdade, mas desde quando cheguei à Câmara, em 1991, ela esteve “fechada” por aproximadamente 10 anos (pauta trancada), já que o Executivo legislava por Medidas Provisórias.

Vou, talvez, a seu contragosto, continuar lendo seu Blog, um dos poucos quando não trata assuntos com meu nome, ser de exemplar imparcialidade e inteligência. Teria muito a escrever, contudo me permita uma observação: o “cancro vermelho” não será erradicado com bonitos e elucidativos textos ou com eleições informatizadas. O PT já foi longe demais para entregar para a oposição de forma pacífica o poder. Mais cedo ou mais tarde, a contragosto de muitos e torcendo eu para estar errado, algumas doloridas doses de Benzetacil podem ser aplicadas para salvar nossa democracia. Ou alguém aponte outro motivo pelo qual nossas Forças Armadas são caluniadas nos últimos 20 anos?

Atenciosamente, Jair Bolsonaro.

Resposta

Deputado Bolsonaro,

Nada tenho de pessoal contra o senhor porque, como sabe, a gente nunca se falou, não se conhece. Não haveria como. Por ocasião da polêmica envolvendo os tais kits gay — creio, mas não tenho certeza, que cheguei a reagir primeiro —, defendi o seu direito (e até dever) de ter uma opinião a respeito. Aquilo era mesmo um lixo. Eu só o critiquei, naquela ocasião, quando o senhor sugeriu que uns petelecos poderiam fazer bem ao adolescente gay. O senhor é informado o bastante — ou tem condições de ter acesso à informação — para saber que se trata de uma bobagem.

Quanto à deputada Maria do Rosário (PT-RS), eu mesmo publico o vídeo agora e o fiz antes para deixar claro que o senhor foi o alvo original da injúria. Creio que poucos, ou ninguém, combateram, na imprensa, as ideias tortas dessa senhora como este que escreve. E o senhor sabe disso.

Se o senhor quer uma lei que agrave a punição para menores que cometem crimes hediondos — e eu também quero; se o senhor fez a defesa que fez porque repudia o estupro — e eu também; se o senhor quer punir atos dessa natureza — e eu também; se tudo isso é verdade, não poderia ter falado o que falou. Não poderia, muitos anos depois, ter repetido o que dissera.

Recorra ao arquivo do blog e leia o que escrevi sobre a Comissão Nacional da Verdade, que chamei de “farsa” aqui, na Folha e na Jovem Pan. A questão, deputado, é saber com quais valores ela deve ser combatida.

Eu não sei que “Benzatacil” o senhor imagina possa ser empregado contra o PT. Eu só aceito um: a democracia, que enseja, sim, protestos de rua, dentro da lei e da ordem; que enseja, sim, campanha pelo impeachment de Dilma, se ficar provado que ela sabia de tudo, dentro da lei e da ordem; que enseja, sim, a ocupação do espaço público para demonstrar contrariedade, dentro da lei e da ordem. Em suma, deputado, os males da democracia têm de ser curados com mais democracia. E intervenção militar, a menos que pedida por um dos Poderes da República, como reza a Constituição, ESTÁ FORA DA LEI E DA ORDEM.

Escreve o senhor: “O PT já foi longe demais para entregar para a oposição de forma pacífica o poder. Mais cedo ou mais tarde, a contragosto de muitos e torcendo eu para estar errado, algumas doloridas doses de Benzetacil podem ser aplicadas para salvar nossa democracia”. Não sei o que isso quer dizer. Não sei o que o senhor tem em mente — mas não me parece bom. Não sei que futuro o senhor imagina, mas certamente não contará com o meu apoio.

Nem com o meu apoio nem com o das Forças Armadas. Esse tipo de pensamento tem estridência, mas, felizmente, não tem base social. Seduz alguns milhares de eleitores, como resta comprovado, mas não passa muito disso. Infelizmente, deputado Bolsonaro, a sua pregação contribui apenas para que o senhor tenha, a cada ano, milhares de votos a mais. Mas não aponta uma saída para o país.

Eu defenderei com determinação o seu direito de ter uma opinião, dentro do que a Constituição e a civilidade asseguram. Mas acho intolerável que o senhor diga, à deputada Maria do Rosário ou a qualquer outra mulher, que ela “não merece ser estuprada”. Isso degrada a política, a inteligência, o senso comezinho de moral e, antes de tudo isso, as mulheres — mulheres, senhor deputado, como a minha, como as nossas mães, como as minhas filhas, como as de sua família, como as da minha… E, claro!, com elas, praticamente metade da humanidade. Tenha paciência! Aquela é uma fala asquerosa.

Retire o que disse, desculpe-se com a deputada — mesmo que ela não se desculpe com o senhor — e com as mulheres. Admita que disse uma asneira.

O senhor afirma que continuará a ler o meu blog, num sinal de que considera que ele pode ser útil ao senhor e ao Brasil. Espero, sinceramente, que sim.  Defenderei, deputado, enquanto tiver forças, o seu direito a dizer o que pensa. Mas não conte comigo para grosserias como aquela ou para flertar com soluções que estejam fora das urnas. Esse tipo de pregação pode lhe render votos, mas faz mal ao Brasil.

A propósito: seguidores seus decidiram fazer uma “petição” pedindo a minha cabeça à VEJA. Talvez eles não saibam que sou antigo nessa história de resistir a grupos de pressão. O senhor já passou da idade de receber conselhos. E eu não tenho disposição para aconselhar pessoas mais maduras do que eu. Deixo uma dica: retire do seu universo de referências qualquer expediente que não passe pelo voto e seja mais apaixonado pela Constituição do que pelos holofotes. Ah, sim: não ajude Maria do Rosário a voltar para o ministério. Hoje, o senhor é o principal apoio — às avessas — com o qual ela conta.

Estamos falando de política, deputado, não de guerra. Finalmente, noto que, em vez de o senhor ameaçar o jogo político com a cólera das legiões, lembre que a Lei da Anistia foi referendada por um Congresso eleito livre e democraticamente, que a acatou como pressuposto na Emenda 26, que aprovou a convocação da Constituinte. O senhor tem a lei e a Constituição como aliadas. Não precisa de armas.

Reinaldo Azevedo

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