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Rossi: tragédias não são só do Terceiro Mundo

Colunista lembra que houve casos semelhantes na Inglaterra, na Espanha e nos Estados Unidos

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247 - Diante da tragédia em Santa Maria, surgem questionamentos sobre a capacidade brasileira de sediar grandes eventos internacionais, como fez, por exemplo, a agência Reuters. Mas Clovis Rossi, colunista da Folha, lembra que casos desse tipo não são inerentes ao terceiro-mundismo. Leia abaixo:

A dor definitiva

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Mas, atenção, tragédias como a de Santa Maria não são inerentes ao terceiro-mundismo

Tentei, juro que tentei, escrever sobre temas internacionais, como é a norma nesta seção. Até havia dois ou três assuntos pré-selecionados, mas não dá. A tragédia de Santa Maria chama poderosamente.

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Tal como contou ontem o santa-mariense Álvaro Fagundes, eu também fiquei hipnotizado quando pipocaram na tela de meu iPad os primeiros "flashes" sobre o incêndio. Mas, tal como ele, hesitei em aceitar que era no Brasil. Não podia ser.

Nas duas horas e meia do percurso de trem entre Davos e Zurique, sem internet para ver mais "flashes", decretei que não era no Brasil. Só podia ser mais uma tragédia africana ou asiática.

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Sei que elas acontecem também no mundo rico, mas são mais usuais em países subdesenvolvidos, nos quais todas as instituições são precárias, da prevenção ao socorro, da obediência aos regulamentos à responsabilização dos proprietários e governantes.

Liguei a TV no hotel. Aí, não dava para escapar: era Brasil, Brazil, Brasile, Brésil.

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Não dava também para escapar à sensação de que havia alguma coisa em comum entre as vítimas e a minha família, embora remota. Nessas horas, é fatal traduzir o que acontece em termos pessoais.

Meu neto Tiago tem a mesma idade da maioria das vítimas, 21 para 22 anos. É "baladeiro", como todas as vítimas. Estuda no interior (no caso dele em São Carlos, São Paulo), como praticamente todas as vítimas.

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Não é nem mais nem menos responsável que qualquer um dos jovens que estavam no inferno.

Mais: sou capaz de apostar que frequenta locais com os mesmos problemas de segurança que foram encontrados na boate Kiss. Sou também capaz de apostar que incentivaria qualquer banda que estivesse se apresentando num desses locais a soltar alguma "bengala".

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Os jovens se sentem imortais. E é natural e até conveniente que seja assim. O problema é que seus pais e seus avôs achamos que os jovens são "morríveis" demais.

No Brasil, até são mesmo, vítimas de uma violência que supera qualquer padrão civilizatório mínimo.

Talvez por isso surja a tentação fácil de atribuir ao nosso subdesenvolvimento institucional a tragédia santa-mariense. Que ele existe, é óbvio. Que possa ter contribuído para a tragédia, é bem possível.

Mas a TV espanhola incumbiu-se na noite de domingo de desfazer qualquer hipótese de exclusividade "terceiro-mundista" na história, ao rememorar tragédias similares na própria Espanha, nos EUA e no Reino Unido, para não falar da Argentina.

Ao mostrar cenas de Dilma Rousseff visitando Santa Maria e chorando, desfez também os comentários -inevitáveis em situações do gênero- de que era demagogia, hipocrisia ou algo parecido. A presidente fez o que tinha que fazer, com digna sobriedade.

A tragédia de Santa Maria me trouxe à memória a frase que ouvi de José Aníbal, hoje secretário de Energia do governo paulista, quando perdeu o filho em um acidente no litoral: "A perda de um filho é a dor definitiva".

É essa dor que devem estar sentindo os pais das vítimas. Não há nada que possa diminuí-la.

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