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Sakamoto: Feliciano quer é chamar a atenção

Colunista do UOL é da opinião de que, uma vez que a permanência do deputado e pastor evangélico na Comissão de Direitos Humanos é incerta, "agora é vale-tudo", mesmo que o parlamentar não acredite em tudo o que ele mesmo diz; Leonardo Sakamoto avalia que Marco Feliciano não tem chances de cargos majoritários relevantes, mas que certamente arrastará deputados com ele em 2014

Sakamoto: Feliciano quer é chamar a atenção
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247 - O verdadeiro objetivo do deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) é chamar a atenção de seu público, acredita o colunista Leonardo Sakamoto. Em seu último post no Blog do Sakamoto, do UOL, ele chega a cogitar que o próprio presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara possa não acreditar nas coisas que diz, mas que neste momento, em que sua permanência à frente do colegiado é incerta, "é vale-tudo".

Leia abaixo:

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Satanás, Coelho da Páscoa e Marco Feliciano: quem é o personagem de ficção?

Um colega veio bege me contar uma cena surreal pela qual havia acabado de passar. Estava ele passeando com o seu pulguento quando, ao encontrar com uma senhora também levando o seu, puxou assunto. Ela, sem que lhe fosse perguntado absolutamente nada a respeito, afirmou que o seu au-au era ariano e não gostava de judeus. Embasbacado, afirmou ser judeu e não compreender o comentário apenas para, na sequência, receber uma saraivada de substantivos que não merecem ser citados neste espaço por conta da presença de crianças na internet.

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Sou muito fã do mantra "se não tem algo bom para falar com estranhos, fique quieto". Mas nem todos são assim e, vez ou outra, de forma surpreendente a gente é atingido por uma dessas. Tá certo que isso é mais fácil de acontecer em comentários de blogs e redes sociais por conta do anonimato que facilita o diálogo, mas também privilegia a covardia.

O interessante é que, ao se criticar uma abobrinha como essa, há quem saia em defesa dos maiores preconceitos sob a justificativa da santa liberdade de expressão.

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Preguiça... Algumas pessoas adoram elaborar vastas teorias sobre liberdades individuais mas detém um conhecimento sobre o assunto tão rico quando aquele que pode ser obtido nos cartões que acompanhavam o chocolate Surpresa ou nas figurinhas de chiclete Ploc. Por isso, não vou nem tentar explicar o porquê dos direitos humanos serem indivisíveis e interdependentes e que um tem sempre que ser olhado junto com os outros. E que nenhum direito é absoluto – se o direito à moradia fosse absoluto, melhor seria abolir o direito à propriedade privada, quando este afeta a efetivação do primeiro, não?

(Talvez se eu colocar esse debate no porta-luva de um carro zero, no verso de um convite de balada, na embalagem de um jogo de videogame ou como merchandising de novela das 21h consiga ser entendido.)

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Falar, a gente pode falar qualquer coisa. O ar aceita o aroma mais agradável de perfume ou o cheiro do ralo. Mas certas coisas que afetam a dignidade das outras pessoas, deveríamos guardar para nós mesmos. Ponderei com o meu colega que talvez a tosca senhora em questão quisesse apenas causar para chamar a atenção e fazer-se existir – muitas pessoas em situação de rua, por exemplo, atormentam os transeuntes não por terem problemas com a sociedade, mas exatamente por terem sido excluídos dela e tentarem, com isso, deixarem sua invisibilidade. Ou ela era uma preconceituosa fora da casinha, vai saber.

Mas em alguns casos o problema não são as pessoas que falam sem pensar, mas aquelas que pensam muito bem antes de falar. A última de Marco Feliciano – de que antes da chegada dele, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados era dominada por Satanás antes de sua chegada como presidente – vai nesse sentido. Na minha opinião, as falas e aparições públicas do pastor vão ser cada vez mais bem calculadas para capitalizar o máximo de retorno junto o seu público – que acredita que homossexualidade é coisa do Tinhoso. Ou seja, não é que ele acredite exatamente em tudo o que fale mas, agora, pouco importa. Uma vez que a permanência dele na comissão é incerta, agora é vale-tudo. Como já disse aqui antes, Feliciano não tem chance de cargos majoritários relevantes, mas vai sim arrastar mais deputados com ele nas próximas eleições.

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Particularmente, acho que a existência de Satanás entra na mesma categoria do Coelho de Páscoa e de Papai Noel. Mas, é claro, que seria muita ignorância fazer de conta que a personificação do mal não está presente, de certa forma, em praticamente todas as sociedades humanas. E que vincular isso a uma comissão que defende direitos fundamentais de minorias sistematicamente excluídas diante de uma plateia de pessoas que, com o perdão da palavra, são ignorantes no assunto e são muito suscetíveis ao que dizem seus guias espirituais sobre o tema, é uma jogada política das mais rasteiras e das mais brilhantes. Não é coisa de um Zé Ninguém, como muitos gostam de afirmar. Vi a entrevista que ele deu a Fernando Rodrigues, aqui do UOL, e o cara é bom – da clínica de abortos de sua mãe à reclamação de uma "ditadura gay", ele consegue dar voz a um público que vive nas sombras de sua própria desinformação.

O problema é que isso é um desserviço sem tamanho ao país. Sangue e lágrimas foram derramados para avançarmos, um tiquinho por vez, na efetivação da dignidade e da igualdade de direitos. E, com a ajuda dessas presepadas com objetivo político-eleitoral, vamos dando saltos para trás.

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