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A vitória de Trump e o que resta de vida inteligente no jornalismo

"Donald Trump foi a única escola possível para uma parcela que desejava dizer não. E que dizendo, com ele, disse sim a tudo que não quer. Mas um sim com som de não, que Hilary não lhe daria", diz Fernando Brito, editor do Tijolaço

Donald Trump durante evento em Winterset, nos Estados Unidos. 27/06/2015  REUTERS/Brian Frank (Foto: Leonardo Attuch)
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Por Fernando Brito, editor do Tijolaço

Contam-se às dúzias os artigos, na internet, proclamando a estupidez do povo americano em eleger Donald Trump.

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Mas nos dedos das mãos é possível enumerar os que entendem que foi muito menos uma conspiração conservadora – a vitória de Hillary mais propriamente  seria, pela união mídia + mercado que a embalou – e muito mais.

Que o eleitorado conservador e reacionário votou em Trump é algo que se enquadra no famoso “até aí morreu Neves”.

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Ipanema votou Crivella, quer prova maior?

O que leva, porém, gente simples da periferia, do interior depauperado pela concentração econômica votar num candidato conservador?

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Como diz Glenn Grenwald, em belo artigo no The Intercept, culpar racismo e sexismo por isso é raso como uma poça d’água.

Culpar o povo, como fez Paul Krugmann, uma – como diriam os mexicanos desprezados pelo candidato republicano – uma tontería.

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Muito mais lúcida foi Patricia Campos Mello que, na Folha, diz que “o fato é que o problema foi surdez. Surdez generalizada aos recados dos brancos dos dois lados do Atlântico, que se sentem injustiçados, que veem suas vidas piorando, sempre culpando o “outro”. Seja o muçulmano, o imigrante, o hispânico ou o negro.”

Numa tradução brasileira, o político, o miserável, o lgbt, o desgraçado que, como o seu odiador, faz parte do povo e não reivindica como ele, mas  como um ente específico, a quem um “maldito” governo progressista dá atenção especial, em seu detrimento.

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Quanto perdemos por ignorar e deixar que fosse corroído o conceito de povo?

Quanto contribuímos para isso formando nossos conceitos excludentes, de tribos, de grupos?

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Glenn Greenwadl escreve no The Intercept:

As pessoas frequentemente falam sobre “racismo/sexismo/xenofobia” versus “sofrimento econômico” como se fossem totalmente distintos. É claro que há elementos substanciais de ambas as coisas na base eleitoral de Trump, mas as duas categorias estão intimamente ligadas: quanto mais sofrimento econômico as pessoas enfrentam, mais irritadas ficam, e se torna mais fácil direcionar sua insatisfação a bodes expiatórios.

Houve vozes nem tão à esquerda a falar da vitória de Trump com as quais concordo e às quais me associo numa autocritica de te-lo feito demônio (o que será muito menos do que os atuais) e ter desprezado a crítica ao inferno, como a do escritor português Miguel Esteves Cardoso, a que muitos acham de direita, mas ninguém acha burro. 

Donald Trump foi sujeito à maior e mais violenta campanha de ataques pessoais que alguma vez vi na minha vida. Todos as principais publicações alinharam entusiasticamente. Sem recorrer a sites de extrema-direita o único site que defendia Trump foi o extraordinário Drudge Report. Foi só através dele que comecei a achar – e aqui vim dizer – que o eleitorado reage sempre mal às ordens paternalistas dadas por uma unanimidade de comentadores, jornalistas e celebridades.

A eleição de Donald Trump foi um triunfo da democracia e uma derrota profunda dos meios de comunicação social.

Claro que Trump não é nenhum outsider. É um bilionário que sempre fez parte da ordem estabelecida, da elite que dá as ordens e manda na economia dos EUA. É um amigo de Hillary e Bill Clinton que só se tornou ex-amigo porque lhe deu na gana ser presidente dos EUA.

Agora é. Conseguiu o que queria. Há de voltar as costas ao eleitorado que o elegeu logo que perceba que a única coisa que esse eleitorado tinha para lhe dar já foi dado: os votos de que ele precisava para ser eleito.

Não é Trump que tem de dar uma reviravolta. Somos nós. Trump ganhou porque foi eleito. Nós perdemos porque fomos derrotados pelos nossos próprios preconceitos e pelo excesso de zelo com que perseguimos a vitória de Hillary Clinton. (…)

Donald Trump foi a única escola possível para uma parcela que desejava dizer não. E que dizendo, com ele, disse sim a tudo que não quer.

Mas um sim com som de não, que Hilary não lhe daria.

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