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Alô, Eliane e Estadão: placar foi 29 a 3

Em textos ácidos, a colunista Eliane Cantanhêde e o jornal Estado de S. Paulo condenam a posição brasileira de não ingerência na Venezuela, defendida pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia; Eliane e o Estadão só não mencionam que a posição brasileira teve 29 votos na OEA, contra apenas três dos países que defendiam a intervenção externa: Estados Unidos, Canadá e Panamá; quem tem razão?

(Foto: Leonardo Attuch)
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247 - Num duro editorial publicado neste domingo, o jornal Estado de S. Paulo ataca o "vergonhoso apoio a Maduro", dado pelo Brasil. Na Folha, a colunista Eliane Cantanhêde fala de um "Itamaraty à sombra". Nos dois textos, o alvo principal é o assessor especial Marco Aurélio Garcia, que liderou a posição brasileira de não ingerência na Venezuela. Posição, diga-se de passagem, vitoriosa na Organização dos Estados Americanos, onde uma iniciativa de intervenção dos Estados Unidos foi barrada por 29 votos a 3 – ao lado dos Estados Unidos, só o Panamá e o Canadá.

Embora a posição de Garcia tenha prevalecido, ele não escapou das críticas. Abaixo, o editorial do Estado:

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Vergonhoso apoio a Maduro - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 09/03 

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Em vez de assumir suas responsabilidades e pressionar o governo da Venezuela a dialogar com a oposição para superar a violenta crise no país, o governo brasileiro prefere fazer de conta que nada está acontecendo. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, esteve recentemente na Venezuela e disse que há uma "valorização midiática" dos confrontos. "O país não parou, as coisas estão funcionando", afirmou Garcia. Não se trata de autismo, mas de uma estudada farsa, cujo objetivo é fazer crer que Nicolás Maduro tem a situação sob controle e que as manifestações só são consideradas importantes pelos 'Veículos de comunicação internacionais'".

Desse modo, o governo petista continua a seguir a estratégia de desmerecer os protestos contra o chavismo, como se estes fossem mero alarido de quem foi derrotado nas urnas, e não uma legítima expressão de descontentamento com os rumos que o país tomou nos últimos anos. Essa política explica por que o Brasil aceitou subscrever a indecente nota do Merco-sul que criminalizou os oposicionistas venezuelanos.

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Enquanto Garcia finge que tudo não passa de invenção da imprensa - segundo ele, Maduro vai se encontrar com jornalistas estrangeiros para "aclarar os fatos" -, a situação na Venezuela se deteriora a cada dia. Um dos mais importantes sinais de que a desestabilização pode estar se espalhando inclusive entre os militares foi a destituição de três coronéis da Guarda Nacional Bolivariana. Eles são acusados de criticar a repressão aos manifestantes.

Além disso, em inegável tom de confronto, Maduro ordenou, durante um desfile militar, que as milícias chavistas dissolvessem barricadas erguidas por manifestantes. Esses grupos paramilitares, que agem impunemente à margem da lei, são justamente a vanguarda da repressão oficial aos manifestantes. O número de mortos em um mês de protestos já chega a 20, e há inúmeras denúncias de violações de direitos humanos por parte das forças governistas.

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Foi diante desse quadro que um grupo de ex-presidentes latino-americanos, entre os quais Fernando Henrique Cardoso, decidiu publicar uma carta na qual critica a "repressão desmedida" contra "manifestações estudantis de protesto pacífico" e cita, com preocupação, os testemunhos de "tortura e tratamento desumano e degradante por parte de autoridades". A mensagem exorta Maduro a, "sem demora", criar condições para o diálogo com a oposição, pedindo o "fim imediato" da perseguição a estudantes e dirigentes oposicionistas, o fim da hostilidade à imprensa independente e a libertação dos detidos nos protestos, em especial do líder Leopoldo Ló-pez - acusado pelo governo de ser o principal articulador dos protestos.

Era essa a mensagem que deveria constar das manifestações da diplomacia brasileira em relação à crise venezuelana, e não o cinismo de quem acha que nada está acontecendo. Mas o governo petista prefere endossar a beligerância de Maduro - que rompeu relações com o Panamá apenas porque esse país sugeriu uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir a situação. A OEA, como se sabe, é para os chavistas o equivalente à encarnação do diabo, por ter os Estados Unidos como membro.

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Conforme informou Marco Aurélio Garcia, a única instância aceitável de diálogo para Maduro é, claro, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) - aquela que, em sua última reunião de cúpula, exaltou o "impulso visionário" do falecido caudilho Hugo Chávez para a criação da entidade e que é atualmente presidida pelo notório Dési Bouterse, ex-ditador e atual presidente do Suriname, procurado pela Interpol por narcotráfico.

Sem poder contar com os países vizinhos mais importantes para constranger Maduro a interromper a violência e negociar de fato, resta à oposição seguir a prudência de Henrique Capriles, seu principal líder. Para ele, embora os protestos sejam legítimos, a única solução para a crise é a "saída eleitoral", porque "a maioria do país apoia a Constituição e quer viver numa democracia".

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Confira, ainda, a coluna de Eliane:

Itamaraty à sombra

BRASÍLIA - A crise na Venezuela escancara de uma vez por todas: a política externa (como tudo) é exclusividade de Dilma Rousseff, e seu operador é o assessor Marco Aurélio Garcia, principal quadro do PT para a área internacional.

E o Itamaraty? O Itamaraty, como as Forças Armadas, bate continência. Assim como o brasileiro é, antes de tudo, um forte, diplomatas e militares são, antes de tudo, carreiras de Estado que cumprem ordens. Nunca isso ficou tão ostensivo.

Caracas e grandes cidades venezuelanas estão em chamas, acumulando, até a sexta-feira, 20 mortos, 300 feridos e uma multidão de presos --incluindo jornalistas. Não se prega a queda do presidente Maduro, mas ele tem de dialogar e ceder.

O governo brasileiro, porém, prefere olhar o lado de Maduro a arriscar uma visão mais panorâmica que abranja oposição e manifestantes.

Se é assim, os vizinhos tinham de ter apoiado Collor contra os caras-pintadas? Ou depende da cor?

Em entrevista à Telesur, rede de televisão criada por Chávez, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, agradeceu o apoio: "Recebemos, por meio de Marco Aurélio Garcia, a mensagem clara e firme do governo do Brasil, rechaçando a violência como forma de fazer política e oferecendo sua colaboração".

Enquanto Garcia, em paralelo às cerimônias de um ano de morte de Chávez, transmitia in loco o apoio ao regime Maduro, o Itamaraty aguardava as ordens em Brasília.

Não se faz mais diplomacia como antigamente, quando recados eram dados, não por um assessor, mas pelo presidente, pelo chanceler ou pelo embaixador no país. A diplomacia cedeu aos partidos.

O apoio do governo do Brasil não foi só retórico, foi prático: ajudou a escantear os EUA de qualquer tipo de negociação e a articular uma reunião da Unasul pró-Maduro.

Resta saber se essa posição do governo é também a do próprio Brasil --ou seja, a dos brasileiros.

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