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Após queda de Netanyahu, Celso Amorim diz não ver “mudanças muito significativas” na região

Embora a troca dos personagens possa propiciar “outros caminhos”, o ex-chanceler afirma ao 247 não ver “mudanças imediatas”. O ex-chanceler diz ainda que a substituição do premiê de Israel pode apontar, embora com possibilidade remota, para a abertura de conversações em torno de um novo acordo de paz

Celso Amorim e Benjamin Netanyahu (Foto: Agência Brasil | Reuters)
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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia - O Parlamento de Israel escolheu nesta quarta-feira Isaac Herzog, do Partido Trabalhista, de centro-esquerda, como o novo presidente do país. A escolha põe fim a 12 anos de governo do ultradireitista Benjamin Netanyahu. Apesar disso, para o embaixador e ex-chanceler, Celso Amorim, a escolha não trará “mudanças muito significativas à região”. Em sua opinião, é algo que deve “ser muito observado”, pois pode apontar, embora considere a possibilidade remota, para a abertura de conversações em torno de um novo acordo de paz.

A eleição coincide com a data final para que as principais forças de oposição cheguem a um acordo para formar um Gabinete de coalizão. E é preciso destacar que o cargo de Herzog, um político de centro-esquerda, em grande parte, não é de muita influência. Herzog, de 60 anos, que foi presidente de sua sigla e ocupou diversos cargos em coalizões de governo, derrotou Miriam Peretz por 87 votos a 26 durante uma eleição secreta na Knesset. Três deputados se abstiveram, três foram desqualificados e o um parlamentar, Mansour Abbas, líder da Lista Árabe Unida, não votou. Seu índice de votação para a Presidência é considerado histórico e ele substituirá Reuven Rivlin.

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Ao analisar o resultado da eleição israelense, que põe fim ao período de Netanyahu no poder, o embaixador faz uma ressalva: “Eu não sei direito como vai ser o governo lá. Eu entendo que tem um centrista, que ficará no lugar do Netanyahu, mas que a aliança continuará sendo com a extrema direita. Ou, mais extremamente conservadores, vamos dizer assim”. 

Amorim chama a atenção para o crescimento da direita em Israel, “em virtude, principalmente, da imigração dos ex-países socialistas. E também, vegetativamente, com a parte da população que não pratica o planejamento familiar. Então, na verdade esta direita israelense tem crescido muito”, constata. 

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“Pode ser que mude o estilo”, diz ele sobre a troca de poder. “O que eu acho é que o Netanyahu tinha uma cumplicidade, um acordo, que aliás o Bolsonaro tentou estabelecer também, com o Trump. Isso ajudava um pouco na recomposição na região. Ele agora, o sucessor dele, vai ter que trabalhar mais para isto”, disse. 

“Até onde eu pude ler, nenhum dos países que participaram daqueles acordos de Abraão, aqueles acordos em separado, que o Netanyahu negociou, inspirado pelo Trump, nenhum deles voltou atrás, por hora, mas a situação ficou muito difícil, aí não só pela saída de Netanyahu, mas pela matança que houve lá na região”, observou ainda o ex-ministro. 

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Ele apontou que os ataques “não foram só do Hamas, e Gaza”, e  destacou: “havia a alegação de que eles estavam se defendendo, se bem que é totalmente desproporcional o ataque, mas também as expulsões das famílias árabes de Jerusalém oriental. Eles estão ficando cada vez mais encurralados”.

O ex-chanceler chamou a atenção, ainda, para outro aspecto de que está sendo palco a região: “interessante que está acontecendo no Oriente Médio, que merece ser observada, é a busca de um certo entendimento entre o Irã e a Arábia Saudita. Era a principal rivalidade ali e obviamente foi uma coisa muito manobrada, tanto por Israel, quanto pelo Trump, e isto muda a situação.”

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Sua observação vai na seguinte direção: “vamos lembrar que depois do ataque ao Iraque foi a Arábia Saudita que tomou a iniciativa do Plano Árabe de Paz. Porque ele, diferentemente dos outros emirados, que são muito pequenos, e praticamente não têm nenhuma população local, inclusive os trabalhadores são todos imigrantes – indianos, filipinos – no caso da Arábia Saudita também tem esses trabalhadores, mas tem uma espécie de classe média que opina. Não opina formalmente, do ponto de vista democrático, mas pressionam. E então esta situação é muito forte lá, em Israel, na Palestina, implicando, inclusive, ataques ao templo Al-Aksa, que para eles é um lugar sagrado”. 

Esse fator, na opinião de Celso Amorim, é determinante para eventuais mudanças. “Acho que tudo isto torna muito difícil Israel seguir sem nenhuma mudança. Embora eu não veja mudanças imediatas, eu acho que também a mudança dos personagens pode propiciar outros caminhos”. 

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Mesmo tênue, Amorim vislumbra uma nova chance para a paz. “Parece difícil por esses fatores que eu já mencionei. Sobretudo por essa correlação de forças em Israel. Mas também pode ser uma oportunidade para o Biden tentar – e ele foi muito criticado dentro do próprio partido democrata, pela atitude tíbia em relação à repressão aos palestinos -, pode ser que haja uma pressão mais forte, também em prol de um plano de paz”, antevê.

O ex-chanceler, contudo, dosa a sua ponta de otimismo: “Eu acho que um plano de paz a cada dia se torna mais difícil, evidentemente, porque a cada momento os palestinos se tornam mais encurralados, dentro dos verdadeiros “bantustões” (bantustões foram pseudoestados de base tribal criados pelo regime do apartheid na África do Sul, de forma a manter os negros fora dos bairros e terras brancas, mas suficientemente perto delas para servirem de fontes de mão-de-obra barata), mas é possível.

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Com toda a cautela que demonstra diante do mapa da região, Amorim prevê que a retirada de cena de Netanyahu “certamente será um assunto entre o Biden e o Putin, na conversa que está marcada para breve. Então eu acho que tem alguma movimentação. Eu não diria que acende uma esperança, nem nada disso assim, muito fortemente, mas sempre tem alguma movimentação da qual pode resultar”. 

E lembra que “foi o que aconteceu, sem chegar a um resultado final, obviamente, mas foi um pouco o que aconteceu em 2002, 2003. Depois da guerra do Iraque, vários países árabes se sentiram incomodados, e os próprios Estados Unidos sentiram necessidade de patrocinar um acordo de paz, que era o tal “Mapa do Caminho”, (com apoio de outros, mas os EUA têm mais força na região)”. 

Neste momento, Amorim vê com destaque o papel da Rússia na região. “Agora a presença da Rússia, também, que se firmou muito em função da crise da  Síria, é um fato importante. E este início de entendimento entre a Arábia Saudita e o Irã – eu acho que isto tem muito a ver com a situação do Iêmen – seja como for, é algo que tem que ser muito observado”, alerta.

O novo presidente de Israel, recém-eleito, foi educado nos Estados Unidos, onde morava devido ao trabalho de seu pai. Serviu na Inteligência do Exército e se formou em direito pela Universidade de Tel Aviv. Sua carreira política, como integrante do Partido Trabalhista, começou em 1999, como secretário de Gabinete do então premier Ehud Barak. Foi deputado entre 2003 e 2018, período no qual ocupou vários cargos ministeriais, entre eles as pastas do Turismo, da Diáspora, da Habitação e do Bem-Estar e Serviços Sociais.

Herzog foi presidente do Partido Trabalhista entre 2013 e 2018. Em 2015, concorreu para ser primeiro-ministro, mas foi derrotado por Netanyahu.

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