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Denúncia aponta cirurgias irregulares de remoção de útero em imigrantes detidas nos EUA

Uma enfermeira, ex-funcionária do centro de detenção privado, denuncia “taxa excessiva de histerectomias”. Imigrante fala em “campo de concentração experimental”. A presidenta da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, pediu a abertura de uma investigação para apurar o caso

(Foto: Loren Elliott/Reuters)
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Rede Brasil Atual - A denúncia de que mulheres imigrantes nos EUA, detidas em uma prisão privada da Georgia, estariam sendo submetidas a cirurgias irregulares para remoção total ou parcial de útero será investigada pelas autoridades migratórias e parlamentares do país. Nesta terça-feira (15), a presidenta da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, pediu a abertura de uma investigação para apurar o caso. 

De acordo com a enfermeira Dawn Wooten, ex-funcionária do Centro de Detenção de Irwin, haveria uma “taxa excessiva de mulheres” submetidas a histerectomia. Em seu nome, uma coalizão de grupos de direitos humanos apresentou uma denúncia na segunda (14) de “negligência médica chocante” nas instalações da prisão privada. O grupo cita uma entrevista concedida ao Project South por uma detenta que disse ter conhecido ao menos cinco mulheres que passaram pelo procedimento entre outubro e dezembro de 2019. 

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De acordo com ela, as mulheres ficavam “confusas” quando questionadas a explicar o por quê de terem feito a cirurgia. Como se estivessem ‘tentando dizer a si mesmas que iria ficar tudo bem”. Os relatos foram reproduzidos pelo site jurídico Law&Crime, que teve acesso à denúncia do grupo. “Quando conheci todas essas mulheres que fizeram cirurgias, achei que fosse um campo de concentração experimental. Era como se estivessem fazendo experiências com nossos corpos”, comparou a detenta. 

Coletor de úteros

Se confirmadas as denúncias de histerectomia em massa, elas constituirão “um abuso avassalador dos direitos humanos”, advertiu Pelosi. A enfermeira que expôs o caso, contou ainda que um único médico ginecologista era responsável pelo procedimento. Ele atuava fora do estabelecimento onde as imigrantes estavam detidas. “Ele é um coletor de útero. Todo mundo que ele vê, ele está tirando todos os úteros ou tirando os tubos”, relatou Dawn Wooten. 

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Ainda segundo ela, as mulheres, de origem hispânica, não tinham acesso a intérpretes adequados e a equipe médica muitas vezes não falava espanhol. O consentimento era, por vezes, obtido por meio de tradução “pesquisando espanhol no Google”. O site jurídico também detalha o relato de uma mulher que não foi devidamente anestesiada na cirurgias e que acabou ouvindo o médico dizer à enfermeira que havia “removido o ovário errado”. Assim como outra detenta que, ao questionar a necessidade do procedimento, recebeu pelo menos três respostas completamente diferentes. 

Administrada pela empresa LaSalle Corrections, a prisão também é acusada de estar recusando a realização de testes para o novo coronavírus aos detidos. Haveria uma “pandemia silenciosa” atrás das grades, conforme também descreveu a enfermeira que atuou até julho no local. 

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Tratamento violento 

Ao The Intercept dos Estados Unidos, Dawn Wooten estimou que mais de 20 mulheres haviam se submetido à histerectomia nos últimos seis anos. A reportagem ouviu algumas mulheres que ainda estão detidas no centro de Irwin que confirmaram terem sido pressionadas pelo médico para realizar o procedimento que implica na perda do sistema reprodutor. Não havia escolha, segundo elas, de não ir ao médico que se tornou conhecido pelo “tratamento violento”. 

“O médico ficou furioso quando eu não quis fazer a cirurgia. Nenhuma mulher deve passar por isso”, descreveu, chorando uma imigrante, à reportagem do TIP. Entre os casos de violação aos direitos das imigrantes nos EUA, há ainda de uma mulher que procurou pelo atendimento após um sangramento vaginal. E, sem ter dado consentimento, o médico retirou parte da trompa de falópio da mulher, alegando que “estava entupida”, afirmou uma defensora de forma anônima. 

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À imprensa, o Serviço de Alfândega e Imigração (ICE) dos EUA vem negando irregularidades. De acordo com a diretora médica do ICE, Ada Rivera, apenas dois procedimentos deste tipo foram realizados no centro de detenção desde 2018. Rivera destaca que as duas cirurgias tiveram aprovação após os exames. O médico seria Mahendra Amin, um especialista em obstetrícia e ginecologia. Ele também declarou ter realizado “uma ou duas histerectomias nos últimos dois ou três anos”.

Já a empresa privada que administra o centro de detenção disse em nota ao Law&Crime que está “firmemente comprometida com a saúde e o bem-estar das pessoas sob nossos cuidados”. 

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Linha Trump

Pelo Twitter, a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez lembrou que no governo de Donald Trump, os imigrantes já foram também submetidos a “uma operação massiva de separação familiar, agressão sexual, aprisionamento em centro que se tornaram focos de infecção para a covid-19”. “Onde está a linha?”, questionou. 

Integrante da Divisão de Direitos da Mulher da organização Human Rights Watch, Amanda Klasing, também declarou ao The Intercept que as denúncias mostram “a negligência e o abuso consistentes nos serviços de saúde prestados na detenção de imigrantes, incluindo a falta de comunicação clara com os pacientes, o que torna essas alegações particularmente perturbadoras”.

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