'Desenvolvimento em primeiro lugar': Xi Jinping pode decidir abandonar tradicional slogan no 20º Congresso Nacional do PCCh
Presidente chinês vem ventilando a frase ‘equilibrar desenvolvimento e segurança’ em meio às renovadas pressões externas que a economia chinesa enfrenta
Leonardo Sobreira, de Pequim (247) - Ao longo da maior parte da trajetória de Xi Jinping no comando do Partido Comunista da China, o desenvolvimento econômico ocupou um lugar central em seus discursos. Mas uma mudança cardinal na ênfase das falas mais recentes do presidente chinês vem se cristalizando.
Em 2015, mostra um levantamento da agência Bloomberg, as menções de Xi a ‘desenvolvimento econômico’ superaram em 3,5 vezes citações a ‘segurança nacional’. Já em 2020, o quadro foi o oposto: a segunda frase foi empregada com 2,7 vezes mais frequência que a primeira.
No ano seguinte, a formulação ‘equilibrar desenvolvimento e segurança’ foi adotada como slogan de Xi Jinping, tendo sido empregada com quase a mesma frequência que ‘desenvolvimento econômico’ e ‘segurança nacional’ separadamente. A nova frase foi grafada em diversas leis desde então, e, nesta quarta-feira, 12, citada no comunicado da sétima sessão plenária do 19º Comitê Central do PCCh.
A junção entre desenvolvimento e segurança foi incorporada pelo PCCh em meio à guerra comercial dos Estados Unidos, iniciada pela administração de Donald Trump. Em 2019, o republicano decidiu aumentar as tarifas sobre praticamente todas as exportações chinesas, o que acendeu o sinal amarelo para as lideranças do partido.
Seu sucessor, o democrata Joe Biden, dobrou a aposta. No final de agosto deste ano, o Departamento de Comércio dos EUA bloqueou a venda de chips avançados à China, golpeando temporariamente o setor de inteligência artificial chinês. Novas restrições foram aplicadas na semana passada visando o setor de supercomputação. Tanto o democrata quanto o republicano convergem em seu desejo de desacoplar a economia estadunidense da chinesa.
Alguns países europeus adotam uma postura mais cautelosa, mas sofrem pressão da Comissão Europeia e de Washington para desacoplarem suas economias da China. O órgão executivo da União Europeia anunciou no mês passado a Lei de Matérias-Primas Críticas, para lidar com a crescente dependência da China no setor, enquanto os EUA pressionam a holandesa ASML a bloquear a venda de equipamentos de fabricação de semicondutores para a China.
Apesar dos esforços da chancelaria chinesa em desencorajar as hostilidades econômicas vindas do Ocidente, há um crescente entendimento de que setores estratégicos não podem estar sujeitos à instabilidade política externa. Nesse contexto, os discursos de Xi no 20º Congresso Nacional do PCCh podem representar um divisor de águas, apontando diretrizes que fomentem a resiliência dos setores estratégicos da economia chinesa.
Até o momento, ‘equilíbrio entre desenvolvimento e segurança' é uma meta vaga. Pode envolver, por exemplo, designar novas áreas como relevantes para a segurança nacional.
No caso dos semicondutores, setor fundamental para esse objetivo, as cidades de Shenzhen e Xangai começaram a incentivar empresas nacionais e instituições de pesquisa a usarem ferramentas de automação de design eletrônico (EDA), cruciais para a produção de chips de IA, desenvolvidas internamente.
Outra área significativa para a segurança nacional é a indústria de equipamentos médicos, atualmente dominada por empresas estrangeiras. Em abril deste ano, os governos das províncias de Hubei, Anhui e Shanxi e da região autônoma de Ningxia emitiram avisos aos hospitais locais exigindo o uso exclusivo de equipamentos médicos e de testes produzidos internamente. Em maio de 2021, Pequim enviou a hospitais uma lista de 315 itens (incluindo equipamentos para ressonância magnética, tomografia computadorizada e raios X e endoscópios) a serem adquiridos apenas de produtores locais.