Enquanto Israel prepara ataque terrestre a Rafah, Biden usa a retórica do “cessar-fogo temporário”
Mas a mudança de linguagem do chefe da Casa Branca não se reflete nas ações, pois os EUA continuam vetando resoluções que propõem o cessar-fogo
247 - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, passou meses falando de uma “pausa” nos ataques de Israel contra o povo palestino em Gaza. Agora, com a preparação dos sionistas israelenses para um ataque terrestre em Rafah, a sua retórica está a mudar para enfatizar a necessidade de um “cessar-fogo temporário”.
A reportagem da Reuters assinala que não é apenas uma ligeira diferença. A mudança de linguagem é uma tentativa de aproximar Biden de muitas pessoas em todo o mundo e dos críticos do seu próprio Partido Democrata que querem um cessar-fogo permanente numa guerra em que quase 30.000 palestinos foram assassinados.
Os EUA vetaram três projetos de resolução do Conselho de Segurança da ONU estabelecendo o cessar-fogo. Os dois vetos mais recentes bloquearam a linguagem que exigia um cessar-fogo humanitário imediato. Mas Washington propôs agora o seu próprio projeto de resolução consagrando a palavra “cessar-fogo”.
O projeto pede um cessar-fogo temporário ligado à libertação de reféns detidos pelo Hamas e se opõe a uma grande ofensiva terrestre do seu aliado Israel em Rafah, de acordo com o texto visto pela Reuters.
A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, negou qualquer mudança intencional na linguagem
“Isso reflete o que temos feito o tempo todo”, disse ela aos repórteres na terça-feira.
Até a apresentação do projeto de resolução, Washington tinha evitado a palavra cessar-fogo em relação a qualquer ação da ONU na guerra de Israel contra os palestinos. O novo texto dos EUA ecoa a linguagem que Biden usou publicamente este mês sobre a situação.
“Estou pressionando muito agora para lidar com este cessar-fogo de reféns porque, como vocês sabem, tenho trabalhado incansavelmente neste acordo”, disse Biden a repórteres na Casa Branca em 8 de fevereiro, ao chamar a resposta de Israel em Gaza de "exagerada", declaração que foi considerada a sua crítica mais contundente até à data.
Oito dias depois, ele disse que manteve extensas conversações com Netanyahu sobre o tema de um cessar-fogo.
"Eu defendi - e tenho uma forte convicção sobre isso - que tem que haver um cessar-fogo temporário para tirar os prisioneiros, para tirar os reféns. E isso está em andamento. Ainda tenho esperança de que isso possa acontecer e ser feito”, disse Biden em 16 de fevereiro.
Autoridades norte-americanas disseram que a mudança de linguagem de Biden não tem nada a ver com seus críticos.
Em vez disso, disseram, reflete os intensos esforços para negociar um acordo entre Israel e o Hamas para interromper os combates durante seis a oito semanas em troca da libertação dos reféns detidos em Gaza e acelerar a entrega de ajuda humanitária aos civis.
O pensamento dentro da Casa Branca é que se os combates puderem ser interrompidos por tanto tempo, poderá surgir um cessar-fogo ainda mais longo. Mas uma planejada ofensiva israelita em Rafah, a cidade do sul de Gaza onde mais de um milhão de palestinos procuraram refúgio, complicaria os esforços para pôr fim aos combates.
As autoridades norte-americanas insistem em que Biden não está a pedir um cessar-fogo permanente.