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‘Esquerda italiana cedeu ao neoliberalismo', diz Tiziana Barillà

Jornalista e documentarista italiana se mostrou pessimista com relação a um retorno da esquerda ao cenário político, mesmo com a crise do neoliberalismo

Tiziana Barillà (Foto: Divulgação)
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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (15/07), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a jornalista, escritora e documentarista italiana Tiziana Barillà, que analisou o declínio da esquerda na Itália após o fim do Partido Comunista, em 1991.

Ela explicou que o PC encontrava-se em “equilíbrio precário” antes mesmo da queda da União Soviética: “Não se abre um debate sobre isso, mas havia uma crise no interior do partido que era sua forma, o sistema autoritário da esquerda comunista italiana. O partido não poderia não implodir com um nó desses que nunca foi enfrentado”.

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Por isso, quando o PC fechou as portas e se reformou, retornando em 2007 com o nome Partido Democrático, depois do que chamaram de “virada democrática”, o que ocorreu, na verdade, “não foi um retorno democrático, foi neoliberal”, segundo Barillà.

“Não foi só uma virada social-democrata. O Partido Comunista tinha como antagonista a legenda da democracia cristã, mas o PD, que teoricamente representa a centro-esquerda, na verdade é um casamento entre a democracia cristã e a social-democracia”, discorreu.

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O problema disso, para ela, foi que os antigos dirigentes comunistas acabaram colocando como sinônimos democracia e neoliberalismo, “como se democracia só pudesse existir no neoliberalismo”. 

“A esquerda cedeu ao neoliberalismo, com privatizações selvagens, interferência em relações sindicais, desmantelamento do Estado social”, enumerou.

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A 'verdadeira' esquerda

Apesar de o grande partido criado a partir do fim do PC ter sido o PD, houve uma tentativa de refundar uma legenda comunista anticapitalista “e democrática em seu interior”: o Partido da Refundação Comunista.

“Quando o Partido Comunista implodiu, ocorreram 14 cisões em 19 anos, gerando novos partidos e novos movimentos. Isso aconteceu pela total ausência de debate e democracia no âmago da esquerda italiana. Virou uma guerra de todos contra todos”, reforçou.

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Por isso ela acredita que hoje a esquerda verdadeira falha em sua leitura de classe, “permanecendo numa leitura muito científica. A classe operária não é mais a da fábrica, é a dos milhares de CNPJs e precários, porque a economia mudou, mas o campo progressista continua a raciocinar sobre velhos esquemas e velhas classes que não existem mais”.

Como consequência, a esquerda deixou de ter relevância na política e no debate público. O movimento sindical italiano, por exemplo, está enfraquecido e, mesmo quando convoca greves gerais, não consegue incidir na opinião pública. 

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Para Barillà, contudo, existem duas formas pelas quais o campo progressista poderia se recuperar: “Deve se tornar antidogmática e europeísta. Todas aquelas cisões transformaram cada novo grupo em pessoas próprias, que não debatem entre si. E parte da esquerda critica a União Europeia, e faz bem, mas essa crítica desemboca em nacionalismo”.

Fenômeno Berlusconi

Barillà refletiu sobre as condições que permitiram a chegada de alguém como Silvio Berlusconi ao poder. Para ela, o país não refletiu o suficiente sobre seu período fascista, não “purgou os fascistas”, sem falar que contava com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos para se construir depois da Segunda Guerra Mundial, de modo que “bastava muito pouco para que se criassem as condições para o capital governar o país de forma totalizante”.

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Nesse sentido, Berlusconi é apenas um representante do capital “e do capital criminal”, com ideias, princípios e políticas coerentes, aliás, com o que a própria centro-esquerda vinha fazendo, “ainda que o discurso fosse outro”.

Com o tempo, o movimento iniciado com Berlusconi foi evoluindo e caminhando cada vez mais em direção à direita, até a criação de legendas de extrema-direita, como A Liga, de Matteo Salvini.

“A Liga nasceu como A Liga Norte, a favor da separação do norte porque nós do sul somos ‘sujos, preguiçosos’. Mas eles conseguiram, aos poucos, construir um partido forte o suficiente para entrar no Parlamento, tiraram o ‘Norte’ do nome e viraram um partido nacionalista. A direita sempre existiu, mas quando chega um partido como esse ao governo, é porque ele encontrou margem”, disse a jornalista.

Essa margem foi encontrada também seduzindo os trabalhadores que antes votavam no antigo Partido Comunista, por exemplo com discursos anti-imigração a favor supostamente do trabalhador e do trabalho para os italianos.

Atualmente, a Itália é governada por uma grande coalizão da qual forma parte A Liga, o Movimento 5 Estrelas e legendas de centro-esquerda, como o Partido Democrático do atual primeiro-ministro, Mario Draghi. Esse tipo de fenômeno é comum quando as forças políticas se veem ameaçadas por fortes legendas progressistas, o que não é o caso da Itália.

“Draghi tem 200 bilhões de euros dos fundos de resgate da União Europeia para gastar. Então é como se todo o mundo estivesse preocupado com o jantar de hoje. Se você vem com uma torta gigante, é normal que todo o mundo queira sentar à mesa. O papel da esquerda nesse cenário é controlar como vão administrar esse mar de dinheiro. Perguntar para onde vai, como será investido e ficar de olho”, defendeu.

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