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Poder popular e militar de Maduro impede ações de Brasil e Colômbia, diz analista

Entre os dias 10 e 15 de fevereiro, a Venezuela realiza os maiores e mais importantes exercícios militares de sua história, uma forma de demonstrar poder de reação contra possíveis invasores. Quem comenta o tema em entrevista à Sputnik Brasil é o professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto Alegre, Diego Pautasso

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247 - Entre os dias 10 e 15 de fevereiro, a Venezuela realiza os maiores e mais importantes exercícios militares de sua história, uma forma de demonstrar poder de reação contra possíveis invasores. Quem comenta o tema em entrevista à Sputnik Brasil é o professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto Alegre, Diego Pautasso.

Os Exercícios Cívico Militares "Bicentenário de Angostura 2019" foram descritos oficialmente como uma demonstração de força e um recado às hostilidades estrangeiras contra o governo de Nicolás Maduro. Porém, alguns analistas apontam que o movimento militar tem também um foco interno para ampliar o apoio popular e entre os generais, que vem sendo cortejados, segundo denúncias.

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"Na verdade as duas dimensões se complementam. Primeiro, do ponto de vista externo, sinalizar que o país tem capacidade dissuasória, que a guerra teria um altíssimo custo e que o país goza de importantes aliados internacionais, sobretudo Rússia e China", explica Diego Pautasso em entrevista à Sputnik Brasil.

Pautasso acrescenta ainda que há interesse em demonstrar publicamente o suporte militar ao governo venezuelano para fortalecer o apoio do popular.

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"Segundo, demonstrar que as forças armadas continuam dando suporte para o governo Maduro e ao mesmo tempo fortalecer o sentimento patriótico da população diante dessa situação de guerra híbrida a que o país está submetido, baseada em embargos, sanções, reconhecimento de governos paralelos, etc", continua.

O início dos exercícios militares no domingo (10) foi realizado no Forte Militar de Guaicaipuro, em Charallave, na região central do país. Na data, Nicolás Maduro realizou um discurso enfático sob a aura do discurso histórico de Simón Bolívar, durante o Congresso de Angostura que há 200 anos abriu caminho para a independência da Venezuela e outros países da região.

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"Aqui há Forças Armadas e aqui há um povo para defender a honra, a dignidade e o decoro de uma Pátria que tem mais de 200 anos lutando pelo seu futuro. Fora, Donald Trump, fora suas ameaças!", afirmou Maduro. Ele ainda disse que "os soldados de Bolívar fariam pagar caro o império estadunidense por qualquer ousadia de tocar o sagrado solo da Pátria venezuelana".

Diego Pautasso aponta que o apoio do setor militar e instituições é crucial para a manutenção de um governo. "O amparo e a força nas instituições é importante na sustentação de qualquer governo. Se não tiver apoio das Forças Armadas, do poder Legislativo, dificilmente o governo vai persistir por muito tempo", diz.

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O povo venezuelano seria um 'elemento chave' na manutenção do chavismo

O pesquisador ressalta que no caso da Venezuela o apoio ao chavismo tem sido de caráter popular, e exercícios como os de Angostura são uma forma de animar este apoio.

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"Agora, sem amparo popular, se torna ainda mais difícil. E no caso da Venezuela, o poder popular tem sido, e as eleições mostram isso, o padrão de votação, de suporte do chavismo mostra que apoio está nos setores mais carentes da população", explica.

Para ele, a conexão na Venezuela entre as Forças Armadas, o poder do Estado, as milícias bolivarianas e o próprio povo tem sido "elemento chave da persistência do chavismo no poder".

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O Brasil precisa se preocupar com os exercício militares na Venezuela?

"Essas manobras tem espírito dissuasório e estão voltadas não exclusivamente aos Estados Unidos, que é, digamos, o mentor da desestabilização no país, mas está voltado também contra os vizinhos, que por vezes sinalizam o apoio à agenda de Washington. Então, é claro que isso é uma demonstração de força também para com os vizinhos", diz o pesquisador de Relações Internacionais, Diego Pautasso.

Segundo ele, apesar da movimentação de tropas dentro da Venezuela ter viés declarado aos países hostis, o Brasil não tem demonstrado intenções de se aventurar em uma invasão militar. Entre os motivos dessa postura está o reconhecimento das dificuldades de tal medida tendo em vista o caráter popular do chavismo.

"As declarações do grupo militar no poder no governo Bolsonaro têm sinalizado que não interessa, não é de seu interesse, uma intervenção direta, mantendo uma certa tradição do Brasil de não ingerência em assuntos domésticos de outros países. E porque sabem, inclusive na fala do vice-presidente brasileiro [general Hamilton Mourão] falando que 'as guerras a gente sabe quando começam, mas não sabe quando terminam'", analisa.

A invasão de um país com apoio popular seria de um caráter "bastante complicado", segundo o professor do Colégio Militar de Porto Alegre, o que ele acredita ser reconhecido por qualquer "analista minimamente consequente".

Pautasso lembra ainda as dificuldades enfrentadas pelo exército brasileiro durante o apoio à missão de paz no Haiti e aponta que a situação na Venezuela em caso de invasão seria muito mais complicada.

"Na operação de paz brasileira no Haiti — que é um país completamente desestruturado — com suporte das Nações Unidas, que foi aceita pelo país, já era uma dificuldade tremenda pacificar determinados bairros, imagina em um país com 30 milhões de habitantes, com morros e favelas por todos os lados e com um sólido apoio nessas regiões de periferia".

Nessas condições, aponta o professor, qualquer medida de agressão abriria as portas para uma catástrofe e para a inserção da região na tensão geopolítica mundial.

"Então seria um cenário catastrófico né? Não me parece uma posição consequente do Brasil internalizar, sobretudo, a rivalidade entre Estados Unidos versus Rússia e China para a sua fronteira imediata", continua.

"O discurso é sempre o da falta de legitimidade nas eleições da Venezuela, da censura... essa é a retórica que a mídia dominante tem empregado, que o governo brasileiro — e o governo colombiano — por seu alinhamento com Washington acaba coadunando e convergindo com essas narrativas e perspectivas.

"Agora, certamente, o exército e o governo brasileiro têm inteligência — eu digo inteligência no sentido de serviços de informação — para saber que o governo venezuelano ganhou mais de duas dezenas de eleições, eleições que tiveram acompanhamento, quase todas, de organismos internacionais e que, portanto, o custo de uma intervenção seria gigantesco", aponta o pesquisador.

Pautasso desconfia que as Forças Armas não estariam dispostas a um "sacrifício em favor de uma agenda que é prioritariamente externa aos interesses brasileiros". Ele ainda reafirma que o governo tem conhecimento sobre o apoio popular a Maduro e que a dificuldade gerada por essa situação não é de interesse do Brasil.

"Não só reconhece o apoio popular como reconhece essas formas de organização, essas milícias, sabe dos apoios externos que a Venezuela tem, sabe da capacidade pública e militar dissuasória do país e calcula o tamanho da energia que teria que ser gasta em uma guerra externa que comprometeria o orçamento do país brasileiro, as energias e que poderia jogar areia na engrenagem do atual governo", pondera.

O professor do Colégio Militar de Porto Alegre conclui apontando que uma invasão por parte dos Estados Unidos também teria dificuldades para conseguir apoio em Washington, uma vez que o presidente dos EUA, Donald Trump, não tem tido uma boa relação com o Congresso norte-americano.

"E as declarações dos Estados Unidos continuam hostis, o vice-presidente não aceitou o diálogo proposto por Maduro, o vice-presidente americano. Só que os Estados Unidos também têm as suas dificuldades, embora a guerra tenha sido uma práxis da inserção internacional dos Estados Unidos, é bom lembrar que Trump está com dificuldades junto ao Congresso e a guerra poderia sofrer algum tipo de veto de oposição dos democratas criando uma dificuldade adicional à empreitada, digamos assim, de levar a cabo um esforço militar na Venezuela", conclui.

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