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Oásis

Alô, Angela? É o Barack - Como se espia o celular de uma Primeira Ministra

Sabe-se agora que há 11 anos os Estados Unidos interceptam milhões de chamadas telefônicas no mundo todo. Inclusive as da chanceler alemã Angela Merkel. Mas será assim tão fácil invadir o celular dos outros? Como isso é possível?

Sabe-se agora que há 11 anos os Estados Unidos interceptam milhões de chamadas telefônicas no mundo todo. Inclusive as da chanceler alemã Angela Merkel. Mas será assim tão fácil invadir o celular dos outros? Como isso é possível? (Foto: Gisele Federicce)
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A chanceler alemã Angela Merkel e o seu Blackberry Z10



Por: Luis Pellegrini

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É fácil pensar que um político mundial de primeira linha como a chanceler alemã Angela Merkel use o celular várias vezes ao dia. Menos plausível é pensar que, do outro lado do Oceano Atlântico, fosse tecnicamente fácil aos serviços secretos norte-americanos escutar, desde 2002, as conversas telefônicas da líder alemã. No entanto, ao que tudo indica, isso ocorria regularmente. E Merkel estava longe de ser a única da lista. Dela fazem parte vários outros líderes globais, inclusive, é praticamente certo, a nossa presidente Dilma. Para não falar dos seus antecessores. Mas como se faz para ouvir as chamadas ao celular de alguém? Em particular, as chamadas de um primeiro ministro?

Um celular pode ser interceptado de duas maneiras distintas: instalando nele um microprograma espião ou captando as ondas de rádio que ele emite quando estamos falando com alguém. O primeiro caso deve ser praticamente excluído, por duas razões.

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A primeira: Se alguém é um primeiro ministro, supõe-se que possua um tipo de telefone mais seguro e atualizado do que o de um comum mortal. Até pouco tempo, a chanceler Merkel usava um Nokia 6210 Navigator. Ultimamente, passou a um Blackberry 210 e a um Galaxy S3. Segundo os jornais alemães, foram os serviços secretos alemães que lhe pediram para abandonar o Nokia, que se mostrava defasado em relação aos padrões mais elevados de segurança. Muito elevados para um primeiro ministro, entende-se.

A segunda: É improvável que Angela Merkel tenha sido imprudente a ponto de descarregar um arquivo anexo no seu próprio celular que o tenha infectado com um software de escuta, embora já tenha sido noticiado que agentes secretos russos tentaram isso. Exatamente de Moscou surge agora uma terceira hipótese: chaves USB e outros aparatos eletrônicos (como os cabos de baterias) fornecidos por funcionários das embaixadas russas conteriam softwares malignos capazes de infectar celulares e computadores com programas espiões.
Apesar disso "é altamente improvável que o celular da chanceler Merkel estivesse infectado", afirma Mikko Hypponen, chefe de pesquisa da empresa de antivírus F-Secure.

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Pinçar os dados

A segunda opção, no entanto, possui mais credibilidade. Um celular, por mais sofisticado que seja, é sempre um aparelho de rádio: emite ondas que podem ser interceptadas e escutadas. "A inteligência norte-americana conseguiu ter acesso ao sistema de telecomunicações alemão e recolheu informações em larguíssima escala", continua a contar Hypponen. "Trata-se em grande parte de metadados, como tabulações (o registro de quem chamou quem, quando e onde) e mensagens de texto. Mas é possível que em certos casos (como o da chanceler) todas as chamadas tenham sido gravadas. É possível".

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Se um serviço de inteligência não dispõe de um acesso ao sistema de telecomunicações – hipótese plausível, mas tem de ser demonstrada – a única possibilidade é "pinçar" os dados que viajam livres no éter. Mas entender o que esses dados dizem, no entanto, é muito complicado. Os dados transmitidos, desde a introdução do sistema Gsm, não existem em forma analógica (como os de uma rádio FM, fáceis de serem ouvidos), mas digital: constituem portanto sequências de números que têm de ser interpretadas por um computador segundo determinadas regras. Possuindo-se essas enormes cadeias numéricas, teoricamente pode-se proceder a uma operação de "engenharia invertida" e reconstruir-se o conteúdo. É isso que, segundo a revista alemã Der Spiegel bem como outros especialistas em telefonia informática, os Estados Unidos estão fazendo: varreduras "a tapete" de inteiras redes de telefonia e de usuários da Internet.

A embaixada dos Estados Unidos em Berlim está localizada perto da Porta de Brandenburgo e bem em frente ao Bundestag (o Parlamento Federal) onde está o escritório da Chancelaria de Angela Merkel. Como foi descrito pela revista Der Spiegel, a área de vigilância sobre o teto da embaixada (contornada em vermelho) teria sido usada para espionar o governo alemão e outras comunicações.

Barack Obama, entre Dilma Rousseff e Angela Merkel. Ambas teriam tido seus celulares espionados pelo serviço secreto norte-americano

Interceptações a partir das embaixadas

Observando-se as fotos abaixo, vemos os tetos de várias embaixadas dos Estados Unidos na Europa e no mundo. Em todas, notam-se janelas falsas acinzentadas localizadas na parte mais alta dos edifícios, muitas vezes disfarçadas pela arquitetura do próprio edifício. O que são elas? O material que as fecha é totalmente radio-transparente: permitem que todos os sinais de rádio, mesmo os mais débeis, possam entrar no edifício, onde se encontram poderosas antenas receptoras. Essas antenas recolhem os dados e os enviam a centros de elaboração, sempre em funcionamento.

Pontos de escuta

Por esse motivo elas são posicionadas em lugares estratégicos, nas imediações de palácios de governos ou importantes centros de telecomunicação como é o caso da British Telecom Tower, em Londres. As janelas-antenas das embaixadas norte-americanas poderiam ser o primeiro elemento do programa Prism: o complexo sistema de bancos de dados e centros de cálculos revelado por Edward Snowden, que hoje vive como asilado político em Moscou.

Nem o Papa Francisco escapou da varredura eletrônica da agência de espionagem norte-americana. Seu celular, segundo a imprensa italiana, também esteve grampeado

Caixa de Pandora

Até agora os contornos e características dessa enorme operação de espionagem ainda são confusos e pouco definidos. Muitas hipóteses podem ser formuladas a respeito, e todas precisariam de confirmação. Mas todas essas mesmas hipóteses também poderiam ser válidas. Como o fato de que os Estados Unidos podem ter desenvolvido um programa como o Flame, um vírus ultrassofisticado que, entre 2011 e 2012, teria infectado mais de mil computadores de altos funcionários do Oriente Médio.

Um vírus análogo poderia ter sido utilizado para escutar as comunicações (via telefone ou via Internet) dos funcionários dos países aliados. Ou para recolher – diretamente dos aparatos (servidores, provedores, switch etc) de telecomunicações – comunicados e mensagens que poderiam ser de importância para o combate ao terrorismo. Mas também para conhecer antecipadamente as estratégias dos concorrentes das empresas norte-americanas.

Capa da revista alemã Der Spiegel mostrando, no círculo, 'o ninho', a torre central da Embaixada dos EUA em Berlim que esconderia os equipamentos de espionagem eletrônica

Supertecnologias para serviços secretos (ou não)

Segundo a revista alemã Der Spiegel e o site Duncan Campbell, especializado em jornalismo investigativo e forense ( http://www.duncancampbell.org/ ), mais de 70 embaixadas norte-americanas ao redor do mundo escondem centros de monitoramento eletrônico chamados "Special Collection Service" (SCS) criados e administrados por um consórcio constituído pela CIA e a NSA (Agência de Segurança Nacional, em inglês: National Security Agency) .

Der Spiegel revela detalhes da atividade de espionagem norte-americana na Alemanha. A extensa reportagem da revista acrescenta novas evidências às preocupações europeias a respeito da interceptação dos telefones da chanceler Angela Merkel e de outros líderes europeus. O jornalista Duncan Campbell é antigo colaborador da Der Spiegel e foi ele quem identificou as "janelas auditivas" como a que é mostrada na foto exibida na capa da revista (acima).

De modo similar, segundo Der Spiegel, instalações "auditivas" secretas, protegidas contra qualquer investigação pela imunidade diplomática, são usadas para fins de escuta eletrônica em larga escala a partir dos tetos de várias embaixadas norte-americanas. Uma delas é a embaixada em Berlim. Outras estão localizadas em capitais europeias como Estocolmo, Nicosia, Atenas e Bruxelas.

Janelas-falsas a serviço da espionagem

As imagens que mostraremos a seguir são de alguns dos mais importantes desses centros na Europa e no Oriente Médio. Como se pode ver, todos os tetos apresentam janelas-falsas e, no alto, antenas e equipamentos eletrônicos.

1 Genebra, Suíça – O consulado dos Estados Unidos em frente aos escritórios das Nações Unidas e legações estrangeiras possui mais de um andar repleto de equipamentos eletrônicos de vigilância. Informa-se que Edward Snowden trabalhou aqui quando era funcionário da CIA.

 

2 Genebra, Suíça – Um close do teto do consulado dos Estados Unidos mostra uma torre muito alta com painéis radiotransparentes destinados a esconder equipamentos de grampeamento similares aos que são usados na British Spy Tower (Inglaterra) para interceptar as comunicações irlandesas.

 

3 Berlim, Alemanha – A embaixada norte-americana em Berlim é muito próxima da Porta de Brandenburgo e pode focalizar diretamente tanto o Bundestag (Parlamento Federal alemão) quanto a chancelaria de Angela Merkel. Como informa Der Spiegel, a área de vigilância implantada no teto da embaixada (cercada pela linha vermelha) tem sido usada para grampear o governo alemão e também as comunicações ligadas a empresas e negócios.

 

4 Berlim, Alemanha – As instalações de vigilância possuem duas janelas-rádio (marcadas nos círculos amarelos), com "linha de visão" eletrônica diretamente apontada para os edifícios do governo e do parlamento.

 

5 Nicosia, Chipre – A embaixada norte-americana em Nicosia, capital da ilha de Chipre, tem mais da metade do seu teto ocupada por equipamentos de vigilância.

 

6 Nicosia, Chipre – Nessa ilha, os Estados Unidos não estão sozinhos em matéria de espionagem eletrônica. A foto mostra a embaixada da Rússia em Nicosia, cujos andares superiores são recobertos por painéis opacos que escondem equipamentos de monitoração eletrônica de comunicações similares aos usados pelos norte-americanos.

 

7 Sana'a, Iêmen – A embaixada norte-americana em Sana'a possui um inteiro andar onde toda uma coleção de equipamentos de vigilância permanecem ocultos atrás de painéis radio-transparentes.

 

8 Estocolmo, Suécia – A embaixada dos EUA situada na zona leste da capital sueca dista menos de um quilômetro da torre Kaknästornet, peça principal do edifício da central de telecomunicações e emissão de radio e televisão do país. O galpão de vigilância situado no teto da embaixada permite a visão direta da torre (abaixo).

 

9 Estocolmo, Suécia – A torre Kaknästornet, é administrada pela Teracom – a estatal sueca que controla todo o sistema de telecomunicações no país.

 

10 Varsóvia, Polônia – Galpão de vigilância e monitoramento é visível no teto da embaixada norte-americana na Polônia.

 

11 Bruxelas, Bélgica – Os Estados Unidos estão implicados em casos de espionagem na União Europeia e suas instituições em Bruxelas, Nova York e Washington. A embaixada fica a pouca distância das instalações do Parlamento Europeu.

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