A mão estendida de Kassab

A julgar pelas pesquisas, você não gosta do prefeito Gilberto Kassab. A maioria dos paulistanos vê a gestão dele como ruim, péssima, no máximo regular.Mas há sempre quem goste. Do ponto de vista administrativo, te digo que não vejo a hora de ele abrir passagem para alguém que realmente governe a cidade, se preocupe com a qualidade de seu ar, tenha uma política permanente para o nosso lixo, fique atento para inovações que melhorem o trânsito, freie, nem que seja minimamente, os apetites da especulação imobiliária, nomeie subprefeitos comprometidos com os bairros que ‘administram’, corte a grama dos canteiros, combata a corrupção municipal. Alguém com compromisso social, que não deixe a droga proliferar para só depois se mostrar preocupado – e, ainda assim, nem tanto --, que promova saúde, dissemine o esporte, amplie o lazer, dinamize a convivência e seja mais verde (ou azul, para ser mais moderrrno).

Encontrei, porém, um pontinho positivo em Kassab. É político. No processo de sucessão municipal, ele é o único – e parece que vai ficar nessa sozinho – que está procurando tirar do isolamento e apoiar a gestão da presidente Dilma Rousseff. Certamente deixando a sinceridade de lado, mas mirando seus próprios interesses, ele soma aos interesses populares – sim, claro, do meu ponto de vista -- quando procura pelo PT para oferecer apoio. Meu amigo Paulinho, da Força Sindical e da base de apoio de Dilma, quer bater chapa. O PMDB do vice-presidente Michel Temer não abre mão de seu candidato Gabriel Chalita. Até o PCdoB fica falando em lançar Netinho. Com essa base de muy amigos, na qual todos se opõem aos planos de Dilma, ou melhor, de Lula e Dilma de emplacar o até aqui ministro Fernando Haddad como prefeito, Kassab é o único que, apesar do sinal trocado, estendeu a mão no sentido de formar uma aliança com o PT, amparando, ao seu modo, o órfão governo federal em São Paulo.

Não é nada não é nada, Kassab e o PSD podem somar tempo de televisão e diminuir implicâncias contra a gestão federal durante a campanha. Seus vereadores serão importantes nos bairros. Pelo que podem fazer em campanha e no que têm condições de atrapalhar menos. No geral, o prefeito e seu partido reúnem capacidade para rachar o discurso tucano (não suas bases, ok), cujos quadros são partícipes do pouco que essa prefeitura (com p minúsculo) fez de bom, das grandes maldades contra o povo mais pobre, e nos últimos anos mais desassistido, e suas tantas e tantas nulidades.

Pela ótica do sinal trocado, Kassab, seu partido e seus interesses são os únicos que ofereceram a chamada mão amiga estendida a Dilma, ao PT e a Haddad. Goste-se do prefeito ou não, taí uma oferta para ser avaliada pelo PT com um mínimo de reflexão e sem açodamento. Pode ser a diferença entre perder feio e ter chance na disputa. Lula entendeu essa lógica. Caso o partido, como costuma acontecer, o siga, depois é só pedir Henrique Meirelles como vice de Haddad e, enfim, checar se o prefeito está mesmo falando sério. O eleitor, não se enganem, tem todas as condições de diferenciar aliança política de anuência administrativa. O que o PT tem a perder com Kassab ao seu lado? Um ministério no futuro? Barato.