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      Cozinhando com Dona Íris

      Via Twiter, a deputada vai fazendo suas insinuações. A CPI do Cahoeira vai por águas abaixo, mas ela sugere que existem ali documentos explosivos. Deveria mostrá-los, se é que os tem. A verdade é que não tem, e que tudo não passou de um grande blefe

      Helvécio Cardoso avatar
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      A atividade política na ordem democrática deveria ser um elevado exercício de cidadania, um espaço para o debate civilizado de grandes idéias, a afirmação dos mais nobres ideais com que se constrói a civilização. Deveria ser assim. Não é assim. Nunca foi. Nem a nunca assaz louvada Atenas de Antanho. Já naquele tempo Sócrates denunciava os sofistas – professores de oratória, precursores dos marqueteiros políticos – como um bando de charlatões que cobrava caro por seus serviços de qualidade duvidosa.

      Na verdade, o altruísmo, que Comte considerava a virtude capital do agente político, á mais uma exceção do que uma regra. O chamado espírito púbico está morto. O campo está aberto para a picuinha, a mesquinharia, o achincalhe e tudo aquilo que, como ervas daninha, degrada o jardim da democracia.

      A CPI do Cachoeira, em seus últimos suspiros, foi um desses episódios lamentáveis da vida pública brasileira que nem sequer deveria ter existido. Vai dar em nada. São os próprios promotores desta CPI, os parlamentares da base lulista, que querem colocar uma pedra tumular sobre o assunto. O caso Cachoeira já não rende. Periga sobrar para o governo federal. Seu objetivo primário, desmoralizar o governador Marconi Perillo, não foi alcançado.

      Qual a finalidade de uma CPI? Quando havia seriedade no parlamento brasileiro, CPIs eram instrumentos de busca de subsídios para aperfeiçoar a legislação. Esta CPI do Cachoeira quer modificar alguma lei? Só se fosse para legalizar os jogos de azar. Pretente sugerir mudanças da lei das licitações e dos contratos públicos? Nenhuma indicação sobre isso.

      A CPI do Cachoeira, como outras que a precederam, foi um palco para certos parlamentares desfiarem suas vaidades, exibirem seu afetado moralismo, impressionar a platéia ávida de sangue. De comitê de aperfeiçoamento da legislação, a CPI transmutou-se em tribunal de inquisição, ou, pior até do que isso, em praça de linchamento.

      Do que esta CPI levantou, não há nada sobre Cachoeira que a Polícia Federal e o Ministério Público já não soubessem. Sua meta era tão somente envolver o governador Marconi Perillo nas bandalheiras do célebre contraventor. Partindo da premissa de que Marconi era culpado, buscou desesperadamente provas disso, nunca as encontrando, por mais que buscassem.

      Uma CPI que nasceu viciada, que jogou sempre com cartas marcadas, não podia mesmo chegar a algum lugar. Invertendo toda a lógica da justiça, ela começou prolatando uma sentença condenatória, buscou provas que amparassem a condenação, para, só então, deduzir uma denúncia. Como levar a sério tamanha pantomima?

      Uma das vedetes da CPI do Cachoeira foi a nossa Dona Íris, doceira emérita e vice-cacique do PMDB goiano. Ali, Dona Íris fez o que pode para pegar Marconi. Motivos políticos? Nenhum. Motivação pessoal? Várias. Dona Íris acredita que Marconi era a mão invisível que manipulava o processo contra seu cunhado Otoniel Machado. O irmão de Íris fora acusado de desfalcar a Caixego em 4 milhões de reais, por meio de um golpe complicado. Chegou a ser preso de forma humilhante. Acabou absolvido. Na verdade, a ação foi movida pelo Ministério Público Federal a partir da grita de gente lesada na transação. Mas, para Dona Íris, foi Marconi o culpado pelas desditas de Otoniel e, de resto, pelo estigma de corrupto que marcou o PMDB goiano.

      Dias atrás, a deputada Íris de Araújo  afirmou ter sido alvo de ameaças depois que começou a fazer discursos, no plenário da Câmara dos Deputados, sobre a atuação do grupo do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Os integrantes da CPI discutiram a possibilidade de conceder proteção à deputada.

      Quem a ameaçou? 

      A parlamentar disse em plenário, na ocasião, que as ameaças contra ela começaram depois que foi deflagrada a operação Monte Carlo, ação da Polícia Federal que prendeu Cachoeira e seu grupo, em 29 de fevereiro. A deputada goiana disse ter feito oito discursos em plenário. A partir de então, ela informou ter recebido dez mensagens em seu Twitter com ameaças, todas anteriores à criação da CPI. "As mensagens diziam que ia me apagar, me seqüestrar, me metralhar", afirmou Íris, que pediu à Câmara dos Deputados que tomasse providências. A Casa, segundo Íris, informou-lhe que não poderia fazer nada.

      Não podia mesmo. Nem deveria. Pois, a julgar pelo que ela mesmo relatou. Não passam de ameaças imaginárias. Quando muito, marotagem de vadios que se divertem passando trote. É o preço que se paga para se divertir nas tais redes sociais, a fofoca eletrônica vendida aos bobões como a maravilha do século.

      Esse tipo de ameaça, que nada mais é do que trote, serve para amedrontar as pessoas. Só funciona sobre os covardes, sobre os que fizeram do medo uma segunda natureza. Gente de coragem nunca cede a esse tipo de bobagem e não se submete ao ridículo de alardeá-la. Mas há políticos que gostam disso. Ameaças imaginárias ajudam a criar a imagem de combatentes heróicos da causa pública. O negócio é tão bom que Juan Domingo Perón, mais esperto do que dez políticos mineiros juntos, simulou um atentado a bomba contra si próprio.

      De novo: quem ameaçou Dona Íris? Não se sabe, ela não sabe. Mas a denuncia da suposta ameaça serve bem para se fazer insinuações, associações cavilosas. Desperta as fantasias paranóicas de cada um, lança suspeitas sobre os adversários óbvios e, no final, acaba servindo a um propósito político. Um propósito vil, mas, e daí, se contribuir para arruinar a reputação do adversário?

      Via Twiter, a deputada vai fazendo suas insinuações. A CPI do Cahoeira vai por águas abaixo, mas ela sugere que existem ali documentos explosivos. Deveria mostrá-los, se é que os tem. A verdade é que não tem, e que tudo não passou de um grande blefe.

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