"E o Demóstenes, hein?"
Quem pergunta o ex-deputado Fernando Gabeira, outro mosqueteiro da tica, que aponta desgaste arrasador na oposio com a queda do senador; risco, segundo o jornalista, de que todos os polticos sejam vistos como iguais
247 – Jornalista, escritor, ex-deputado e um antigo herói das esquerdas, por ter participado do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick durante a ditadura militar, Fernando Gabeira, do PV, afastou-se dos velhos companheiros desde o início do governo Lula. Passou a ser um dos porta-vozes do discurso moralizante no Congresso, comprou uma briga histórica com o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e foi apontado pela revista Veja, numa reportagem recente, como um dos cinco “mosqueteiros da ética”. Os outros quatro eram Jarbas Vasconcelos, Jefferson Peres, Pedro Simon e... adivinhem... Demóstenes Torres. Gabeira foi ainda candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, quando foi derrotado para Eduardo Paes, e também fez seu discurso empunhando a bandeira ética – no que foi classificado de “udenista” pelos adversários. Nesta sexta-feira, no Estado de S. Paulo, ele se manifesta pela primeira vez a queda de outro mosqueteiro da ética, no artigo “Vapor de Cachoeira não navega mais”.
O trecho mais interessante é aquele em que Gabeira discorre sobre o efeito da Operação Monte Carlo na oposição:
“E o Demóstenes, hein? É a pergunta que todos fazem na rua, resignados com o peso do argumento de que todos os políticos são iguais, até mesmo os que incluem a dimensão ética em sua atuação parlamentar. O desgaste que ele produziu na oposição é arrasador. Não se limita ao célebre ´são todos iguais´. Avança para outra constatação mais perigosa: se os críticos são como Demóstenes, toda roubalheira denunciada por eles não passa de maquinação. A sincera constatação torna-se um dínamo para múltiplas constatações políticas. A mais esperta delas é: logo, são todos inocentes.”
A argumentação de Gabeira é interessante, mas omite um ponto essencial. Não toca na questão da hipocrisia. Assim como o PT fez da ética uma escada para chegar ao poder – e depois a empurrou – o mesmo receituário foi seguido por seus adversários. Ou seja: mosqueteiros da ética de ontem foram substituídos pelos de hoje, como serão pelos de amanhã. E todos cairão enquanto o Brasil não se mostrar disposto a enfrentar as causas estruturais da corrupção, como o custos das campanhas políticas e o modelo atual de financiamento.
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