Menino maluquinho já compara Dilma a Jango. 64?
Guru da nova direita, colunista do Globo e palestrante do Instituto Millenium, o economista Rodrigo Constantino posta um vídeo no YouTube sobre a proposta de plebiscito para uma reforma política feita pela presidente Dilma Rousseff; na peça, ele compara o momento atual ao de 1964 e cita declarações do ex-presidente João Goulart, antes da "contra-revolução" militar; será que ele quer um golpe preventivo que impeça a "revolução bolivariana"?
247 - "Tirar o PT do poder. Essa é luta. Essa é a pauta no curto prazo", diz o economista Rodrigo Constantino. Para quem ainda não o conhece, é uma espécie de guru da nova direita, que tem espaço nobre no jornal O Globo, faz palestras pelo Instituto Millenium, criado por empresários como Roberto Civita (já falecido) e Jorge Gerdau, e recebe elogios rasgados de Reinaldo Azevedo.
Constantino, batizado pelo 247 como o menino maluquinho do movimento neocon brasileiro, viu, na proposta de plebiscito da presidente Dilma Rousseff, para aprovar uma reforma política, o prenúncio de uma revolução bolivariana. E comparou seu discurso ao do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964, que ele classifica como uma "contra-revolução".
Em 2014, na passagem de 50 anos do golpe militar que ajudou a combater, a presidente Dilma poderá celebrar importantes mudanças na sociedade brasileira, como a redemocratização, a ampliação das liberdades e o resgate da história, com iniciativas como a Comissão da Verdade.
Mas há um movimento, vocalizado por Constantino, para que o Brasil tenha um revival de 1964. Abaixo, o vídeo que ele acaba de postar:
Nesta terça-feira, em artigo no jornal O Globo, Constantino afirma "não compartilhar da euforia que tomou as ruas", mas diz entender o motivo de tanta insatisfação. Por isso, sugere aos brasileiros para que se indignem nas urnas. Leia abaixo:
Indignai-vos nas urnas!
Motivo para revolta é o que não falta. Aquele cenário maravilhoso que o governo pintava não existe. Nossos pilares são de areia, e o inverno está chegando. O descaso com a população por parte das autoridades é enorme, as prioridades são todas desvirtuadas, e o rumo precisa mudar radicalmente.
Mas confesso não compartilhar da euforia que tomou as ruas das principais capitais do país. Há uma insatisfação generalizada e difusa, sem foco. Não adianta ser contra "tudo que está aí". É preciso compreender melhor o que nos trouxe a esse quadro, e como mudá-lo. Temos que gerar mais luz e menos calor.
Além da grande cacofonia nas ruas, cada um com uma demanda diferente, há grupos radicais de esquerda tentando se apropriar dos protestos. Afinal, isso é o que eles sempre fizeram: incitar as massas e criar baderna. Separar o joio do trigo é crucial. Vândalos devem ser contidos, saques e agressões aos policiais devem ser reprimidos com todo o rigor da lei. Manter a ordem é fundamental.
O clima anárquico só interessa aos golpistas de plantão. Uma turba descontrolada é um convite a uma intervenção estatal rigorosa. A Revolução Francesa sofreu desse mal, levando ao Terror de Robespierre, e depois à ditadura de Napoleão. Maio de 68 foi outro exemplo de caos produzido pela juventude entorpecida por utopias revolucionárias.
Consigo entender perfeitamente o desespero de muitos, cansados de nossa política podre, da ausência de alternativas sérias, da impunidade, do transporte caótico, a saúde pública em frangalhos. Tudo isso é totalmente legítimo. Mas precisamos canalizar essa energia toda para forças construtivas, e não destrutivas.
Sou bastante crítico a este governo. Meu julgamento da era petista é o pior possível. Nunca antes na história deste país se viu tantas trapalhadas conjuntas, tanta incompetência, tanta mediocridade e safadeza. O PT segregou o país, comprou votos com esmolas estatais, aparelhou a máquina do Estado e demonstra forte viés autoritário.
Estamos pagando um alto preço por essa inoperância, agora que os ventos externos pararam de soprar na nossa direção. Dilma não fez uma única reforma estrutural importante, exagerou no populismo e permitiu inclusive a volta da alta inflação. Meu veredicto é o mais duro possível contra a presidente e sua equipe.
Dito isso, não consigo mergulhar com muito otimismo nas manifestações das ruas, até porque tenho sérias dúvidas se este é também o diagnóstico dessas pessoas. Muita gente acaba demandando mais intervencionismo estatal como solução. Querem mais do veneno! Bandeiras demagógicas, como "passe livre", também abundam. Esse, definitivamente, não é o caminho.
O que fazer então? Sei que a nossa democracia é muito falha. Quem pode ficar feliz com esse Congresso? Mas não acredito muito em revoluções populares, que costumam sair do controle. Prefiro apostar na evolução de nossas instituições, hoje capengas e ameaçadas. Precisamos lutar dentro da própria democracia, com as armas da legalidade, respeitando o império das leis.
Essa via leva mais tempo, tem solavancos, exige concessões, demanda paciência, aquela que está prestes a se esgotar. Mas ela é mais sólida, mais sustentável, mais pacífica. O principal valor da democracia representativa não está em suas "fantásticas" escolhas (Lula?), mas em sua capacidade de eliminar grandes erros de forma pacífica.
Conquistamos a duras penas o regime democrático, e criamos algumas instituições republicanas importantes, como a liberdade de imprensa e a independência dos poderes. Não foi no ritmo que desejávamos, tampouco da qualidade que almejamos. Mas precisamos preservá-las. Hoje mais do que nunca, justamente porque elas estão em xeque, sob constante ataque de minorias organizadas e barulhentas.
Nenhum partido atual representa minha visão liberal de país. São todos eles intervencionistas, depositando no Estado um papel demasiado de controle sobre nossas vidas e recursos. Mas nem por isso penso que a solução é uma espécie de "revolução apartidária". Em política não há vácuo; ele logo é preenchido por alguém. Que não seja um aventureiro, um "messias" salvador da Pátria. Ou salvadora.
Eis minha sugestão aos brasileiros cansados dessa situação: indignai-vos, mas nas urnas! Não será a escolha ideal, mas o ideal existe somente em nossas ilusões. E elas são perigosas quando passamos a acreditar que são viáveis. Façamos aquilo que for possível, mantendo nossa frágil, porém necessária democracia. De nada adianta rugir feito um leão nas ruas, e depois votar como um burro nas urnas.
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