O global e o local: as faces da moeda chamada competitividade

O mundo observa o Brasil e especula sobre a decisão popular que a partir de Outubro definirá os novos rumos do desenvolvimento econômico e social do país



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No campo do desenvolvimento econômico há muito o Brasil fixou sua vocação na Agricultura ou “Primeira Onda” – termo cunhado pelo futurista Alvin Toffler. Praticamente acordamos para o desenvolvimento industrial (“Segunda Onda”) no período da segunda guerra mundial e construímos nosso tecido industrial efetivamente nos anos 50, 60 e 70. Com a abertura democrática, prevaleceu a máxima: “quanto menos governo, melhor” e a Ode ao “ Sr.Mercado” capaz de regular a si mesmo, distanciou o comprometimento governamental com o desenvolvimento. O Presidente Fernando Collor com sua política de abertura, expos nossas fraquezas e baixa competitividade reduzindo ainda mais o limitado ambiente produtivo que amargou forte concorrência estrangeira, para o bem do país. No período do Governo Fernando Henrique Cardoso, o Ministro Malan resistiu em priorizar a capacidade produtiva nacional, baseado na convicção de que a melhor Política Industrial era não tê-la! O mundo não parou e por aqui, consolidou-se o peso de um Estado omisso frente às transformações globais a não ser por um amplo processo de desestatização. Somente em 2004, depois de muito clamor por parte dos setores produtivos, o país retomava o tema da Política Industrial e desta vez sabia que não funcionaria mais o modelo adotado no período militar conhecido por “Estado-Empresário” chegava a hora de se respeitar e apoiar  a autonomia dos empreendedores e posicionar uma nova visão pública, indutiva, fomentadora e assim criou-se a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. A Agência assumiu a responsabilidade de articular a Política Industrial junto aos diversos atores públicos e privados e o CNDI – Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, formado nominalmente pelos principais Ministros da área Econômica, naquela altura liderados pelo Ministro Furlan tornou-se o órgão máximo do tema. A PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior trazia no próprio nome a necessidade de contemplar as novas tecnologias especialmente as portadoras de futuro (Terceira Onda), além do aspecto da inserção global do país, definida no termo: “Comércio Exterior”. A Política atualizou-se e abraçou os setores produtivos como um todo, não apenas a Indústria, assumindo o nome de PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo, hoje mais conhecida pelo nome do “Programa Brasil Maior”. Na era Lula a aproximação entre Estado e Empresas aprofundou-se, os resultados do comércio internacional apontaram crescimento de exportações da casa dos US$60 Bilhões para a casa dos US$200 bilhões e por mais que os críticos (incluo-me entre eles) considerem que foi um golpe de sorte devido à alta valorização dos preços das “commodities” no mercado internacional, temos que reconhecer o esforço, a estratégia acertada de diversificação de mercados, a agregação de valor da pauta exportadora e uma diplomacia presidencial ousada e às vezes confusa, mas que tornaram o Brasil, a “Bola da Vez”. Literalmente, pois nesta fase conquistou-se o direito de sediarmos  a  Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Atraímos a atenção global pelo protagonismo do sétimo maior PIB e nos tornamos os queridinhos do investimento estrangeiro, batendo sucessivos recordes de captação em meio ao mundo conturbado com a crise mundial instaurada em 2008 (média anual de US$ 60 Bilhões).

Na esteira de nosso desenvolvimento, entendemos a necessidade de ampliarmos ainda mais os mercados de cooperação e atuação, especialmente em relação aos países africanos que mereceram a maior prioridade na expansão de nossas representações diplomáticas no exterior e dos financiamentos enquadrados no chamado “risco soberano”. Vale mencionar que o financiamento governamental é o instrumento mais utilizado na estratégia de acesso aos mercados, assumidos por nossos principais concorrentes, especialmente a China. O Fundo Soberano Chinês para assegurar a exportação de máquinas, equipamentos, mobiliário, serviços de engenharia entre outros do amplo elenco: “Made in China”, não mede esforços no posicionamento desde mercados mais elaborados aos mais inóspitos que se possa imaginar. Comparados a eles, nossa operação desta modalidade com o mundo é praticamente irrisória.

As Agências Governamentais como a APEX Brasil, a EMBRAPA e os Projetos capitaneados pela ABC – Agência Brasileira de Cooperação expandiram-se e posicionaram-se em diversos países. O foco da cooperação Sul-Sul ganhou notoriedade nas prioridades da política externa e tudo isso pavimentou o caminho para novas cooperações como a aliança dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia e China. No último dia 15 de Julho, estas nações se irmanaram ainda mais com o lançamento do Banco dos BRICS em Fortaleza-CE. O Banco só entrará em atividade efetiva após a aprovação dos respectivos parlamentos (cerca de um ano) e destinará US$ 50 Bilhões para projetos de desenvolvimento sustentável e de infraestrutura no âmbito dos países-membros. Após consolidarem os instrumentos de apoio alicerçados na garantia de um “Arranjo Contingente” de US$ 100 Bilhões, poderão atuar inclusive, em Projetos externos ao Bloco.

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Esta é sem dúvida uma iniciativa preciosa em meio a letargia dos anos mais recentes no qual a timidez comercial predominou e por muito pouco não reinauguramos a era dos Déficits da Balança Comercial. A “Santa e Sagrada Plataforma da Petrobrás” salvou a Pátria de um rombo considerável no ano de 2013.

Contudo, desafios muito mais imediatos nos rondam. Urge que se avalie de forma ampla e irrestrita, com o pragmatismo necessário, os inúmeros Acordos e Tratados de Comércio entre as nações-líderes e os países em desenvolvimento para medir os impactos em nossa economia. Desde os vizinhos sul-americanos aos localizados as margens do Pacífico, a maioria sente-se atraída para um nível de negociação vantajosa que aparentemente não poderíamos assegurar ou concorrer. Temos que revisar a prioridade de negociação em Bloco em detrimento as possibilidades bilaterais mais assertivas.

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O mundo observa o Brasil e especula sobre a decisão popular que a partir de Outubro definirá os novos rumos do desenvolvimento econômico e social do país. Qualquer que seja a liderança empossada para os próximos quatro anos não poderá perder de vista o resgate social dos mais pobres e o fomento a atividade produtiva. Não terá o direito de desconsiderar a dinâmica global que afeta a realidade local e em meio a um imenso dever de casa no enfrentamento dos temas básicos de educação, saúde e segurança, precisará compreender seu papel na definição de rumos internos e externos e a relação umbilical entre eles. Qual é nossa ambição no cenário internacional? Além da conquista de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, o que mais pretendemos? Os países avançam e definem-se diante das Cadeias Globais de Valor. Quais são nossas vocações e elos a posicionar nestas Cadeias? Vamos conseguir viabilizar o sonhado Acordo: União Europeia – Mercosul ? Vamos conseguir ao menos firmar Acordos para evitar a bitributação com os EUA e diversas outras nações? Vamos apoiar a queda dos vistos e estimular a livre circulação de pessoas, fluxo de capitais e mercadorias no âmbito da CPLP – Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa? Esta bem aventurada Comunidade de Países-Irmãos ligados pela mesma língua congrega 250 milhões de pessoas, representa cerca de 4% do PIB Mundial e é formada por Brasil, Portugal, Timor Leste e seis países africanos intitulados PALOP – Países Africanos de Lingua Oficial Portuguesa: Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Cabo Verde, São Tomé e Principe, Angola e Moçambique. Além de dois Territórios Observadores: Goa (Índia) e Macau (China). As reservas naturais e a potencialidade de negócios compreendidos nos países membros é de tal relevância que será objeto de nosso próximo Artigo.

Nas últimas eleições o tema da política externa não teve a menor expressão nos debates. Em geral a população e o senso comum não entendem a importância do comércio exterior para o Brasil. Não sabem mensurar que o risco de déficit comercial ou da balança de pagamentos atinge toda a economia abalando o dinamismo do setor produtivo, inibindo o apetite do risco dos empresários, espantando os investidores, ameaçando empregos e afetando a renda da maioria. Os empresários que dependem do comércio exterior carecem de estruturas representativas muito mais sólidas e atuantes, capazes de influenciar a pauta do debate eleitoral e de conduzir uma estratégia eficiente de comunicação com a sociedade.  

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Competitividade, Globalização, Produtividade, Qualidade, Inovação, não são termos de um glossário empresarial apenas e deve ser difundido na cultura e formação profissional de nossos jovens sob pena de uma desconexão com a realidade cada vez mais exigente e em franca transformação (Quarta Onda). É como diz o Sr. Toffler:  “Quanto maior é a rapidez de transformação de uma sociedade, mais temporárias são as necessidades individuais. Essas flutuações tornam ainda mais acelerado o senso de turbilhão da sociedade.” 

Fica a dica para nossos Candidatos e principalmente para os ilustres eleitores!!!!

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Gilberto Lima Junior é Presidente da Consultoria Internacional Going Global Consulting, VP do Comitê de Comércio Exterior da AMCHAM – Brasília, Membro do WTC – World Trade Center-Brasil, Presidente do Conselho Empresarial da CE-CPLP (Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa) sediada em Lisboa.

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