Casa de Mãe Joana?

Será que em nosso país não existe nenhuma legislação em que a atitude do banco estrangeiro possa ser enquadrada, de modo a respaldar uma sanção legal?



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Afora atitudes isoladas de desagrado, como a do vice-presidente Michel Temer, que cancelou sua presença num evento promovido pelo banco no Rio de Janeiro, até agora o governo brasileiro não adotou nenhuma sanção contra o Santander, o banco espanhol que tentou interferir nas eleições presidenciais deste ano no Brasil, advertindo os seus clientes endinheirados, através de carta, sobre o perigo que a possível reeleição da presidenta Dilma Rousseff representará para a economia. "Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas – diz textualmente a carta do Santander – um cenário de reversão pode surgir, o câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice Bovespa cairia". Ou seja, o caos econômico.

A presidenta Dilma Rousseff limitou-se, durante uma entrevista, a classificar a carta do banco espanhol de "inadmissível" e "inaceitável", sem acenar com nenhuma sanção pela interferência indébita. Será que em nosso país não existe nenhuma legislação em que a atitude do banco estrangeiro possa ser enquadrada, de modo a respaldar uma sanção legal? Se não houver, o Palácio do Planalto precisa urgentemente providenciar, junto ao Congresso Nacional, a votação de uma lei capaz de conter ações político-partidárias de instituições estrangeiras, do contrário o Brasil se transformará numa casa de mãe Joana, onde todo mundo se sente no direito de meter o bedelho.

A propósito, não deixa de ser surpreendente a posição do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, que apoiou a atitude do Santander. Essa posição já é um prenúncio do que poderá acontecer num eventual governo tucano: os banqueiros, incluindo os estrangeiros, voltarão a mandar e desmandar em nosso país, como aconteceu no governo de FHC. Por sua vez, o colunista Merval Melo, que tem se revelado um oposicionista fanático, também aprovou a atitude do Santander. Na sua opinião, é o governo que não pode "interferir numa empresa privada, impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país". Ocorre que não foi uma opinião sobre a economia, mas sobre a eleição, com evidente oposição à Presidenta. Nem houve nenhuma interferência do governo no banco.

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Agora, imaginem se um banco brasileiro, com agência em Madri, tivesse a ousadia de opinar sobre as eleições espanholas, revelando sua preferência por um dos candidatos? Duvido que os espanhóis, incluindo os jornalistas, aprovassem semelhante interferência nos assuntos internos do seu país. No Brasil, no entanto, já estamos nos habituando a ver maus brasileiros, como Merval, a atuar contra o próprio país, como aconteceu no período da Copa do Mundo de futebol, quando torciam pelo fracasso do evento. Acho até que festejaram a goleada alemã sobre a nossa seleção, soltando foguetes e comendo churrasquinho, enquanto os verdadeiros brasileiros sofriam com a humilhante derrota.

O presidente do Santander, Emilio Botín, diante da repercussão negativa da carta do seu banco aos brasileiros de alta renda, pediu desculpas ao governo, responsabilizando um analista pelo fato e prometendo demiti-lo. Quem acredita nisso? A ser verdade o que disse o seu presidente o banco revela falta de organização, pois permite a um funcionário sem graduação tomar uma atitude dessas, em nome da instituição e de tamanha repercussão dentro e fora do país, sem o conhecimento dos seus chefes. O estrago, no entanto, já foi feito, com prejuízos para o próprio banco: o prefeito de Osasco, São Paulo, suspendeu o convênio que credenciava o banco espanhol a recolher os tributos e taxas do município, no montante de R$ 1,9 bilhão anual.

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De qualquer modo, olhando pelo lado positivo, a atitude do Santander serviu para desnudar a sua verdadeira cara em relação ao governo da presidenta Dilma Rousseff (até então o presidente do banco espanhol posava de amigo em suas visitas ao Planalto) e, também, a posição do candidato tucano Aécio Neves em relação aos banqueiros. Parece não haver mais dúvidas de que, no caso de um eventual governo tucano, os banqueiros voltarão a ser a classe mais privilegiada deste país, onde somente a partir da gestão de Lula os pobres começaram a receber atenção. E graças a esse episódio do Santander não ficou difícil perceber que todos os recursos estão sendo utilizados pelos adversários da Presidenta para impedir a sua permanência no Planalto.

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