“Não sei, só sei que foi assim!”

Um disparate a forma como a saúde privada abusa dos seus preços e ninguém faz nada



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Que o Brasil é um País de contrastes todo mundo já sabe, mas o exemplo que vivi na pele esta semana, sinceramente, nunca vi igual. Na madrugada do dia 20 deste mês minha esposa deu entrada na emergência de um hospital particular na capital maranhense. Com uma dor intensa na lombar irradiando para o lado direito, supomos que fosse passagem de pedra no rim (e foi isso mesmo).

Sem conseguir falar de tanta dor, minha esposa foi responder à recepcionista que fazia a ficha de entrada. Qual o seu convênio?, perguntou, antes de qualquer outra coisa. De bate pronto a paciente respondeu: nenhum, é particular! Nesse exato momento, os olhos da atendente refletiam cifrões. Olhei a cena, já começando a imaginar quanto seria esta pequena (até então...) passagem por lá.

Ficha preenchida, passamos mais de 20 minutos para conseguirmos o atendimento médico, que antes mesmo de passar a medicação, foi logo avisando a enfermeira: por favor, providencie uma "tomografia" para a paciente! Sou operado do rim e vivi 10 anos entre cólicas, Buscopans, passagens de pedras... até fazer uma tal de "Nefrolitotripsía Percutânea". Ou seja, uma cirurgia minimamente invasiva (levei 2 pontos nas costas) que retirou minhas mais de 10 pedras do rim direito há exatos 9 anos.

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Pós-graduado em problemas renais, me perguntei por que o médico não havia receitado uma ultrassom ao invés da tomografia? A resposta viria no final das contas: a ultrassom custa em média R$ 300,00, enquanto a tal tomografia R$ 980,00. Pois bem, 5 analgésicos foram necessários para que a dor (infernal) dela fosse pro espaço. Para ser mais específico ficamos de 0h30 às 3h30 na emergência, ou seja, três horas apenas, e sabem quanto custou essa pequena estada? Não? Somente R$ 1.773,00 . Isso mesmo, só isso. Mas o pior não tinha passado, feito um hemograma completo na paciente, descobrimos uma anemia forte com 6.0 de hemoglobina. Ou seja, o normal é 12,0. O cuidadoso médico que nos atendeu foi enfático: ela vai internar... precisa fazer urgente uma transfusão de pelo menos duas bolsas de sangue, para poder deixar o hospital com segurança.

Nesse momento eu pensei: putz grila, upa lelê (como diz um sujeito a propaganda de um banco), quanto será o total dessa estadia forçada? Mas "saúde é o que interessa, o resto não tem pressa". Recomendação médica cumprida, e a paciente enfim internada. No sábado pela manhã ela tomou as duas bolsas de sangue, pensei que após isso (de tarde) poderíamos ir embora para casa. Que nada! Tínhamos de passar pelo menos mais 24 horas no bendito hospital por questões de segurança.

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Pra resumir a ópera, saímos somente na segunda pela manhã (isso porque ela já não tinha medicação pra tomar e nada pra fazer ali) , mas quem quase adoeceu foi eu quando fui acertar a conta. Senhor, apenas R$ 2.365,00... eu disse: o que? Nesse momento percebi que meu coração é saudável. Para o bom entendedor, foram R$ 1.773,00 (pagos na hora) só da emergência e mais R$2.365,00 do final de semana. Total da brincadeira (com desconto de R$ 138,00) foi de apenas R$ 4.000,00, redondo.

Como antes do acontecido já havia iniciado uma obra em nosso apartamento, na quarta-feira (23) precisei ir com toda a família para um hotel. Pois bem, passamos 6 dias (digamos de descanso) até a obra ficar pronta e sabem quanto deu a nossa conta? Apenas R$ 1.723,90. Ou seja, 3 horas na emergência de um hospital particular foram mais caras do que 6 diárias num hotel 4 estrelas na beira da praia, com café da manhã e algumas refeições inclusas. Acreditem se quiser...

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Cacildis!, diria o saudoso Mussum, que completou esta semana 20 anos que está no céu. Um disparate a forma como a saúde privada abusa dos seus preços e ninguém faz nada. Me senti literalmente assaltado, sem defesa naquele momento. Graças a Deus uma pequena poupança me salvou.

Moral da história: Quando você adoecer, não pense duas vezes, vá para um hotel 4 estrelas e chame um médico de sua confiança. Com certeza a sua conta será mais barata e você ainda irá se recuperar com todo conforto e tranquilidade, principalmente no final das contas. E se me perguntares como foi? Vou lhe responder como o personagem Chicó (vivido por Selton Mello no filme "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna): "Não sei, só sei que foi assim!"

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