Desmistificando a candidatura da “terceira via”

Não podemos permitir que candidatos que representam o retrocesso e o aumento da precarização do trabalho, como são Marina e Aécio, ganhem as eleições. Temos de deixar clara a hipocrisia do discurso de Marina

A ex-senadora Marina Silva participa de uma sessão do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, em outubro do ano passado. 03/10/2013 REUTERS/Ueslei Marcelino
A ex-senadora Marina Silva participa de uma sessão do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, em outubro do ano passado. 03/10/2013 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Maria das Graças Costa)


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Nas eleições de 2010, a ex-ministra Marina Silva já havia tentado colocar-se como uma candidata alternativa ao PT e PSDB. Agora reforça esse apelo colocando-se como a portadora da "terceira via", vendendo a idéia de que se eleita implementará uma "nova política", uma "nova agenda" e "novas propostas".

Sem ter conseguido criar seu próprio partido (a Rede de Sustentabilidade) Marina aderiu, com "ressalvas", à "Coligação Unidos Pelo Brasil", composta pelos partidos PSB, PPS, PPL, PRP, PHS e PSL. Consciente das diferenças programáticas não teve que se expor até que um trágico acaso a colocou no todo como a candidata a presidente, tendo como vice o deputado federal Beto Albuquerque, um forte interlocutor do agronegócio, setor que antes fazia parte das ressalvas de Marina.

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Para consolidar-se como candidata, Marina assumiu muitos compromissos com segmentos empresariais, onde destacamos os bancos. Para confirmar isso basta ver as propostas de independência do Banco Central, a contenção do crescimento do BB e da Caixa e a aproximação de nomes como Lara Rezende e Arminio Fraga – fieis colaboradores do sistema financeiro brasileiro. Outro exemplo do corte conservador-liberal do programa é a defesa da terceirização, medida que coloca em risco os avanços conquistados nos últimos anos pela classe trabalhadora.

O eixo dois do programa de governo da "Coligação Unidos Pelo Brasil" afirma que: "a terceirização de atividades leva a maior especialização produtiva, a maior divisão do trabalho e, consequentemente, a maior produtividade das empresas"... "há no Brasil um viés contra a terceirização, e isso se traduz bem no nosso sistema tributário, que impõe impostos como ISS e ICMS − em cascata ou cumulativos − em transações que envolvem duas ou mais empresas. A consequência: algumas atividades que poderiam ser terceirizadas por empresas acabam realizadas internamente, em prejuízo da produtividade, porque essa forma de tributação eleva os custos e tira a vantagem da operação" e "existe hoje no Brasil um número elevado de disputas jurídicas sobre a terceirização de serviços com o argumento de que as atividades terceirizadas são atividades fins das empresas. Isso gera perda de eficiência do setor, reduzindo os ganhos de produtividade e privilegiando segmentos profissionais mais especializados e de maior renda".

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Diante desse diagnóstico, a candidatura Marina Silva, visando uma "maior eficiência, produtividade e competitividade" da economia brasileira, propõe a seguinte medida caso eleita: "disciplinar a terceirização de atividades com regras que a viabilizem, assegurando o equilíbrio entre os objetivos de ganhos de eficiência e os de respeito às regras de proteção ao trabalho".

É a defesa de uma terceirização ampla e irrestrita, sob a falsa justificativa de que desta forma as empresas brasileiras seriam mais eficientes, produtivas e, portanto, competitivas nesse mundo de economia globalizada.

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Os trabalhadores e trabalhadoras brasileiras conhecem muito bem o que a terceirização significa nos dias de hoje, a precarização tanto das relações quanto do direito do trabalho e não aceitarão a institucionalização da precarização das relações trabalhistas, através da terceirização indiscriminada, que propõe a candidata Marina Silva.

Foi contra isso que ano passado a CUT e as outras centrais sindicais tanto lutaram, conseguindo impedir a votação do PL 4330 que buscava institucionalizar essa forma selvagem de terceirização.

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A legislação trabalhista e algumas decisões tomadas pelo Tribunal Superior do Trabalho, apenas permitem terceirização de atividades muito especificas (segurança, alimentação etc.). Mas, cada dia mais empresas descumprem essas regras e ampliam as atividades subcontratadas. Hoje no Brasil existem mais de 10 milhões de trabalhadores terceirizados, ou seja, 22% dos 45 milhões de trabalhadores e trabalhadoras que estão no mercado formal de trabalho.

Porque as empresas se utilizam da terceirização? O principal objetivo é reduzir os custos, substituindo os funcionários permanentes por outros contratados de forma temporária. Em geral os trabalhadores e as trabalhadoras terceirizadas ganham menos e trabalham mais horas do que os funcionários da empresa contratante. Condição que aumenta os problemas de falta de segurança no trabalho e de doenças profissionais. A cada dez acidentes de trabalho fatais, oito acontecem com os terceirizados.

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Com frequência empresas terceirizadas descumprem direitos trabalhistas, principalmente não pagando todas as verbas rescisórias ao término do contrato, atrasando salários e não pagando férias e o 13º salário. Essas condições diferenciadas ainda criam situações de discriminação no ambiente de trabalho

No serviço público a situação não é diferente. É pior ainda, pois além de rebaixar as condições de salário e trabalho dos trabalhadores, a terceirização tem afetado a qualidade dos serviços públicos prestados à população.

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Outra face nefasta da terceirização é o trabalho em condições análogas à escravidão. Conforme dados do Departamento de Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério do Trabalho e Emprego, nove dos dez maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de escravos no Brasil entre 2010 e 2013, os trabalhadores vitimados eram terceirizados. E mais, nos oito maiores casos entre os resgates ocorridos em 2013, a totalidade dos trabalhadores tinha contratos, mas todos eles eram terceirizados.

E o que fazem os sindicatos diante disso? Como a estrutura sindical brasileira não prevê o sindicato por ramo, os funcionários da empresa subcontratada não são representados pelo sindicato da atividade principal, perdendo os benefícios conquistados pela convenção coletiva daquela categoria profissional. Por isso lutamos e continuamos lutando contra as tentativas de se aprovar leis que permitam essa precarização do emprego – como é o caso do PL 4330- e nos colocamos contra uma candidatura que defende um retrocesso sem igual na história do país.

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Nós defendemos que a utilização do trabalho terceirizado seja regulamentada, sendo permitida apenas em casos muito específicos, com a plena vigência dos direitos trabalhistas e sociais fundamentais. Somos terminantemente contra a terceirização de atividades fins e defendemos que a empresa contratante assuma solidariamente os salários e encargos sociais caso as contratadas não o façam, tanto no setor privado quanto no público. Queremos que a lei garanta plena igualdade de direitos e condições de trabalho entre empregados diretamente contratados e trabalhadores terceirizados, com inclusão de mecanismos que impossibilitem a fraude a direitos; que assegure a prevalência da norma mais favorável entre os instrumentos coletivos de trabalho que incidam sobre uma mesma empresa e que assegure a representação sindical pelo sindicato preponderante.

A Plataforma Eleitoral que a CUT aprovou e apresentou publicamente defende essas propostas. A candidata Dilma Roussef comprometeu-se com essas propostas e nós esperamos que tudo isso seja realidade no próximo ano. Temos que reeleger a Presidente Dilma e cobrar de forma permanente o direito de todo trabalhador e toda trabalhadora desfrutar de um trabalho decente, que preze pela valorização social do trabalho e que garanta a dignidade do trabalhador.

Não podemos permitir que candidatos que representam o retrocesso e o aumento da precarização do trabalho, como são Marina e Aécio, ganhem as eleições. Temos de deixar clara a hipocrisia do discurso de Marina, que construiu sua trajetória nas bases do PT, mas que hoje defende as propostas mais retrógradas e comprometidas com a elite financeira, social e política do Brasil.

A ex-senadora Marina Silva participa de uma sessão do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, em outubro do ano passado. 03/10/2013 REUTERS/Ueslei Marcelino

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