O papel de uma geração planejada para organizar, mobilizar e governar o país

Se as eleições brasileiras estão no centro da reflexão geopolítica estadunidense, a Argentina, segundo principal país sul-americano, não é uma exceção

Se as eleições brasileiras estão no centro da reflexão geopolítica estadunidense, a Argentina, segundo principal país sul-americano, não é uma exceção
Se as eleições brasileiras estão no centro da reflexão geopolítica estadunidense, a Argentina, segundo principal país sul-americano, não é uma exceção (Foto: Leopoldo Vieira)


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Se as eleições brasileiras estão no centro da reflexão geopolítica estadunidense, a Argentina, segundo principal país sul-americano, não é uma exceção.

Recentemente, com informação de péssima qualidade vinda da velha mídia, o país enfrentou a tentativa coordenada do governo dos EUA, seu judiciário e os Fundos Abutres para tentar emparedar a nação portenha, em mais um capítulo de desestabilização promovida contra os governos nacionalistas, democráticos e populares do continente.

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Lá, no entanto, o kirchnerismo se preparou para a dureza da batalha.

Desde o boicote dos agricultores à tentativa de Néstor Kirchner de assegurar preços acessíveis e abastecimento do mercado interno de alimentos, o presidente que recuperou a Argentina da maior crise econômica de sua história, fez-se a opção de formar uma nova geração política, capaz de mobilizar a sociedade em defesa de suas conquistas, fazer a gestão do governo, promovendo a transição geracional do projeto em curso.

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Assim, enfrentamentos corretos e necessários recentes, como a nacionalização da petroleira YPF, a democratização do papel-jornal, a Ley de Medios, a reforma do judiciário, ou, agora, o isolamento dos Fundos Abutres antes os credores que renegociaram a dívida e a aprovação da lei que muda o local de pagamentos dos títulos da dívida, tiveram participação protagonista dos jovens da La Campora em gigantes atos públicos em defesa de Nestor e Cristina.

No último dia 13/09, mais de 40 mil militantes tomaram o estádio do clube de futebol Argentinos Juniors num grande ato em defesa do projeto kirchnerista que, como nos demais países latino-americanos com governos de esquerda, assenta-se na justiça social, a soberania política, a independência econômica e a integração regional. Foi o chamado-geral às tropas juvenis para a guerra das eleições presidenciais de 2015 onde, assim como no Brasil, os argentinos enfrentarão o imperialismo, o sistema financeiro, a ala entreguista da indústria, os barões da mídia colonizada, travestidos de oposição local.

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A base social da La Campora remonta à crise econômica de 2001 e a desmoralização das instituições democráticas, dos partidos e dos políticos, quando os jovens foram as ruas enfrentar os efeitos do Estado Mínimo, abertura comercial indiscriminada, livre-comércio sem regulação, arrocho de salários, desemprego, ampliação da pobreza, ultra-endividamento externo, redução radical das políticas, serviços e servidores públicos.

Foi neste contexto que Nestor Kirchner venceu as eleições. Ele, oriundo da ala esquerda da juventude peronista dos anos 60, ligada aos Montoneros, apresentou ao país a "nova política" desejada. Nada de reforço à criminalização das instituições e da político, como prega, hoje, Marina Silva no Brasil, mas uma agenda de recuperação do país. Do sucesso deste projeto, com o chamado às lideranças juvenis para conversar, nasceu o agrupamento político. Uma conversa não casual "para escutar" demandas, para "sentir as ruas" ou focada em políticas específicas aqui e acolá para jovens de 15 a 29 anos. Mas um diálogo estratégico sobre os rumos e o desenvolvimento da Argentina.

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Entre os principais quadros estavam membros da organização de direitos humanos H.I.J.O.S, filhos de Montoneros e sequestrados pela ditadura, militantes de universidades e movimentos sociais. Mas, diz-se, tudo começou quando seis jovens, liderados pelo filho de Nestor e Cristina, apresentaram aos líderes do país um projeto que mudava radicalmente a organização da juventude.

A organização tradicional Juventude Peronista (JP) de então estava degenerada, por demais influenciada e cooptada pelo jogo de poder interno a um Partido que ainda abrigava correntes tanto à esquerda quanto à direita, e, hegemonicamente tomada pelo modus operandi da política tradicional. A capacidade de mobilização era nenhuma, de formulação programática muito menos, de gestão nem pensar, de ao menos captar os calores e sentimentos da sociedade argentina nem em sonho. Internamente, disputar o próprio aparelho da JP era o exercício predominante. Além, claro, de estar circunscrita ao esquema "de 15 a 29 anos".

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A novidade criada - a Campora - nasceu homenageando Hector Campora, braço direito de Perón nos anos 70, que, eleito por este estar prescrito pela ditadura, renunciou, convocou eleições gerais que garantiram o retorno do General e, antes, anistiou presos políticos e redirecionou a política externa argentina, que estava de costas para o continente e de joelhos para os EUA e para a Europa. Ele, em seu curto governo, também chamou os jovens nacionalistas, populares e democráticos como conselheiros. Por isso, a homenagem.

Depois, a Campora colocou no centro de seu debate o projeto nacional de desenvolvimento e instigou os jovens a discutirem e se capacitarem em ideias e propostas para os desafios estruturais e conjunturais do país. Na outra ponta, uma potente organização territorial, nos bairros e províncias, onde realizavam discussões, cursos e atividades comunitárias voluntárias, ampliando a identidade com a população e um espírito permanente de mobilização, com profunda identidade territorial entre seus ativistas. Desta forma de se organizar, enraizada, sensível aos calores populares, aí sim estruturaram uma forte presença nas redes sociais. Por fim, superou o focalismo etário na organização dos jovens. Passaram à fórmula "45 años a bajo". Ou seja: agregando a capacidade de uma autêntica nova geração a ser preparada para governar e legislar, mas não como papagaios do sistema tradicional e seus líderes e, sim, capazes de atuar com a política concreta na situação política concreta. Em outras palavras, com firmeza programática e flexibilidade tática.

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Atualmente, a Campora está no ministério da Economia, na presidência da Aerolíneas Argentinas, na Câmara dos Deputados, e no círculo mais próximo à Cristina Kirchner, etc. Está com om capacidade técnica, mas sem serem tecnocratas, pois produtos da trajetória política intensiva somada à aposta de que aprenderiam fazendo na operação da gestão pública. O que deu muito certo. Isso não tirou a Campora dos movimentos estudantis, comunitários, de direitos humanos e sindical. São processos que se retroalimentam e, pela politização e visão estratégica oriundas de sua gênese, o apoio do casal K não só de boca, mas na convocação à juventude a se organizar desta maneira, pouco permeável a descaminhos do oportunismo, típico de jovens que pensam a política e os partidos como meio de ascensão social centrados na reprodução da máquina.

Líderes da Campora começam, sobretudo, a assumir tarefas importantes na condução do Partido Justicialista, não em contraposição aos mais antigos, mas em cooperação com eles, sem, contudo, a eles estarem subjugados, pois não é esta a visão da coisa em torno do projeto camporista.

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O passo seguinte será o triunfo da estratégia: a presidência argentina mantida, mantido o projeto popular, pelas mãos de uma geração conscientemente planejada para organizar, mobilizar e governar o país.

No ato do Partido Justicialista, logo após o do dia 13, promovido pela Campora, pela mãos destes jovens, falava-se em unidade no Partido, agregando La Campora, o Movimento Evita, a CGT oficial, o peronismo ortodoxo, ultrakirchneristas e partidários do governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli.

Que 100 Camporas brotem nos países latino-americanos!

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