A briga com Aécio Neves e a ameaça em rua no Rio de Janeiro

Aécio Neves tem de ser desconstruído e desmentido por representar o atraso social e o retrocesso econômico, bem como sua personalidade agressiva, como tem demonstrado no decorrer de sua vida



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Ano de 1988. À noite. Lanchonete Gordon. Leblon. Rio de Janeiro.

— Vou bater naquele cara ali. Ele falou umas coisas de uma pessoa que eu tinha relacionamento.

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Olhei para meu interlocutor, que ao meu lado esperava seu pedido no balcão e, surpreso, não entendi nada.

— Em qual cara você vai bater?

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— Aquele ali. Não gostei do que ele disse.

Novamente olhei para o rapaz vestido com uma jaqueta preta e de couro. Eu estava ainda meio confuso...

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— O que ele fez pra você agredi-lo? Ele recentemente sofreu um acidente de automóvel, operou um dos olhos e está até com um curativo...

— Não interessa! Ele mexeu com uma pessoa que significa muito pra mim.

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E partiu para a agressão física ao meu conhecido, acompanhado, lembro-me, de um parceiro, que depois fiquei sabendo que era seu primo.

O alvo da fúria de Aécio Neves recuou e saiu da lanchonete e pisou na calçada, com o deputado federal por Minas Gerais, mas morador do Rio de Janeiro, em seu encalce.

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Interferi e o empurrei. Ele partiu para cima de mim e trocamos socos.

A contenda não durou mais do que cinco minutos, mas foi intensa e terminou quando o primo dele o chamou da calçada para que os dois entrassem em um táxi abaixo de xingamentos por parte das pessoas que me acompanhavam depois que saímos de uma festa, em Copacabana, e resolvemos comer alguma coisa na Gordon, lanchonete antiga do Rio, que não existe mais.

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A briga teve um motivo, evidentemente. E vou contar: o meu colega, pessoa que não tenho contato há mais de 26 anos, disse uma piada, a meu ver de mau gosto, e que redundou em agressões e xingamentos entre duas pessoas que nunca se viram — não se conheciam.

A "piada" era a seguinte: "Getúlio Vargas deveria, ao invés de ter dado ao Tancredo Neves sua caneta, deveria ter dado o revólver".

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Eu e as pessoas ouvimos a frase, mas eu, por exemplo, não dei muita atenção, porque estava mais interessado em comer alguma coisa e depois ir para casa dormir, pois estava cansado.

Entretanto, Aécio Neves não ponderou nada, demonstrou uma agressividade muito além do que era necessária e não se importou se seu oponente estava com o olho ferido e operado por causa de um acidente grave de automóvel.

Alguns, certamente, afirmarão: "Então por que provoca?" Eu respondo: Por que não dimensionou ou ponderou o problema que poderia ser causado; quis ser espirituoso; todos, nós, éramos jovens e muitas vezes a razão é superada pela emoção ou vontade de agradar as pessoas.

O tempo passou e Aécio Neves, herdeiro de uma das oligarquias mais importantes e influentes de Minas Gerais e do Brasil, continuou em seu caminho político, no PSDB, partido que vendeu o Brasil e que sempre teve como prioridade governar para os ricos e, consequentemente, manter o status quo — o interesse maior do establishment, ou seja, dos que podem mais, dos que pretendem transformar o Estado em mantenedor de seus privilégios e benefícios, como sempre procederam as elites no decorrer dos séculos.

Aécio Neves tem de ser desconstruído e desmentido por representar o atraso social e o retrocesso econômico, bem como sua personalidade agressiva, como tem demonstrado no decorrer de sua vida, bem como em sua campanha eleitoral, ao afrontar com desrespeito a presidenta da República, chamando-a de "leviana" e "mentirosa", para logo inverter e manipular os fatos e as realidades ao afirmar que Dilma e o PT o agridem, quando, na verdade, o que acontece é o inverso.

A campanha do PT deveria, sistematicamente, desmenti-lo e desmascará-lo, porque Aécio Neves é um playboy acostumado a mandar desde novo (aos 25 anos foi diretor da Caixa Econômica), mais do que qualquer tucano, pois desde cedo nunca dividiu o poder com seus correligionários, como acontece a exemplo dos membros do PSDB de São Paulo, que tem várias lideranças que se alternam no poder estadual e nas corridas presidenciais.

Aécio é perigoso, porque coloca em risco os programas sociais e os projetos que estão a ser efetivados no País pelos governos trabalhistas. O povo brasileiro e a classe média nunca tiveram acesso a tantos benefícios, como ocorreu nos últimos 12 anos. O PSDB é um partido predador e Aécio é o tigre da vez, pois já afirmou que vai efetivar medidas amargas e impopulares. Ou seja, ele vai fazer o que a direita sempre fez: tirar dos pobres e favorecer os ricos. Ponto!

O tucano mineiro tentou agredir uma pessoa ferida e recém-operada. Não importa se tal cidadão o tivesse provocado. Além do mais, Aécio era e ainda o é uma autoridade e quem tem poder deve sempre ponderar os fatos para ter calma em situações tensas e difíceis, o que não ocorreu com o Aécio jovem e até hoje não é a prática do senador temperamental e hoje com 54 anos. Detestei aquela noite de 1988, na lanchonete Gordon, e, em casa, adormeci aborrecido e triste, afinal não fui o responsável pela confusão.

AMEAÇA NA URCA

Ano de 2014. À noite. Ao sair de restaurante. Urca. Rio de Janeiro.

O Brasil perde de sete a um para a Alemanha, nas semifinais da Copa do Mundo. Vi o jogo, convidado por um amigo proprietário de um quiosque na praia do Leme, bairro aprazível, à beira mar e com suave cheiro de maresia.

Dia muito nublado. Tão plúmbeo, que os poucos raios de sol sucumbiam perante o breu das enormes nuvens.

Termina o jogo às 19 horas ou um pouco mais. Sinto fome e resolvo ir a um restaurante da Urca, talvez o melhor bairro do Rio, banhado pelas águas da baía da Guanabara, margeado pela mata atlântica e com o majestoso Pão de Açúcar a sombrear as casas e as lindas paisagens de tão tranquilo e tradicional bairro carioca.

Entro em um dos dois ou três bares e restaurantes próximos ao histórico prédio onde funcionou a extinta TV Tupi e anteriormente o famoso Cassino da Urca, onde o empresário gaúcho, Carlos Machado, o rei da noite nas décadas de 1940 e 1950, realizava seus shows e atrações com os melhores atores e cantores daquela época quando o Rio de Janeiro estava em seu auge, além de ser a capital da República.

De repente, o prenúncio de chuva que verifiquei no Leme se torna realidade. Cai um tremendo temporal. Chuva para valer, ao ponto de a rua onde eu estava se transformar em um rio. Saio do restaurante e caminho pela calçada protegido pela marquise.

Paro em frente ao último restaurante, que fica próximo à esquina. Tento falar ao celular para pedir um táxi. A chuva repica intensamente no asfalto e o vento move com força os galhos das árvores. Um deles é arrancado do tronco de uma amendoeira. Eu estou sozinho e percebo que meu celular está com a bateria descarregada.

Olho para o relógio: 20h35. Da calçada, vejo um funcionário do restaurante. Pergunto a ele se poderia fazer o favor de chamar um táxi para mim. Estou cansado e a chuva é intensa e começa a esfriar.

O rapaz diz que recebeu uma ordem da gerência para não atender pedidos como esses. Eu o escuto e quando reinicio a caminha para encontrar um táxi, um homem branco, alto, forte e com cerca de 38 a 40 anos surge na porta do restaurante e me diz as seguintes palavras:

— Ei! Eu sei quem é você, mas você não me conhece...

— Quero lhe dizer uma coisa: se você falar mal e continuar a falar mal do PSDB eu vou te matar de porrada!

— Você tá entendendo?

Seus olhos eram castanhos escuros e vidrados de ódio — de fúria. Da porta do restaurante, ele me olhava de cima para baixo, pois eu me encontrava na calçada.

E prosseguiu:

— Vou te matar de porrada! Pare de falar do PSDB! Está avisado!

O brucutu, com perfil e ares de fascista, não se importou se eu sou um senhor, com cerca de 15 a 18 anos mais velho do que ele.

Respondi:

— Olhe, eu não te conheço e acho um absurdo o que você está a me dizer. Se você me agredir, eu terei de ir a uma delegacia e te denunciar...

Ele me interrompe:

— Está avisado!

Respondo:

— Então é melhor você me matar, porque o que você está a fazer vai se tornar um problema muito sério. Não sou sozinho no mundo... Você não tem esse direito!

O homem cheio de ódio e falta de discernimento sobre o que é cidadania e o direito de as pessoas livremente se expressar, como é o meu caso, olha para mim com desprezo, desdém e fúria, para logo encerrar o assunto como se ele fosse o dono da verdade e do direito à vida, e, por conseguinte, ameaçar as pessoas de morte.

Nunca, em toda minha vida, ameacei quem pensa diferente de mim sobre quaisquer assuntos ou temas ou teses. Ainda mais nesses termos absolutamente desumanos, opressores e fascistóides. O ódio é o irmão siamês da demência política e ideológica, cujos hospedeiros são os fundamentalistas da intolerância e da violência. É isso aí.

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