Vida que segue

Depois dos horrores da última campanha, a política oficial só me causa o mais profundo asco e a mais extrema indignação



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Foi um duro golpe para mim, constatar o estrago causado pela última eleição presidencial nas minhas esperanças de uma retomada revolucionária. No primeiro momento, cogitei seriamente o encerramento de minhas atividades como blogueiro e articulista, após quase oito anos de atuação incessante.

Sou sincero: considero esgotado o papel positivo do PT e urgentemente necessária a afirmação de uma nova vanguarda, que volte a priorizar a luta contra o capitalismo, disposta a implodir a dominação de classe ao invés de apenas atenuar os excessos cometidos pela classe dominante.

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Até lá continuaremos patinando sem sair do lugar. Então, na minha maneira de ver as coisas, a reeleição de Dilma significou mais quatro anos riscados do calendário da revolução (a menos que os jovens indignados voltem para as ruas e comecem a escrever uma nova História, pois eles são, agora mais do que nunca, a esperança que nos resta).

E, como enxergo um palmo adiante do nariz, temo que o continuísmo, da forma como foi assegurado (com abuso clamoroso da máquina governamental, da propagação de falácias e da pregação do ódio), seja respondido pela direita com a tentativa de impeachment da presidenta Dilma.

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Isto poderá levar a consequências imprevisíveis, com a conjugação das crises política e econômica (pois o que nos espera em 2015 é uma recessão inevitável, que talvez desemboque numa depressão).

Mas, exatamente porque o porvir se augura ameaçador, continuarei cumprindo o papel quem me atribui: o de estimular a reflexão sobre o momento e as perspectivas históricas, propondo visões alternativas às dominantes. Até agora, tem sido uma pregação no deserto: por mais certo que esteja nos meus alertas, não venho conseguindo alterar um milímetro o rumo dos acontecimentos.

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Mesmo assim, creio haver motivos para perseverar. Principalmente por existirem tão poucos internautas, e a proporção é menor ainda entre os de esquerda, com convicções e coragem para remarem contra a corrente, desafiando e desnudando as posições oportunistas dos que desistiram de dar um fim à exploração do homem pelo homem.

Vida que segue, portanto. O que muda é a ênfase cada vez menor que meus textos darão à política oficial, às escaramuças dos que querem apenas conquistar, manter ou ampliar seu poder sob o capitalismo.

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Depois dos horrores da última campanha, a política oficial só me causa o mais profundo asco e a mais extrema indignação. Sinto-me como Glauber Rocha, no seu desabafo visceral em Terra em Transe, pela boca do personagem Paulo Martins (Jardel Filho):

"Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada nos planaltos. Não é mais possível esta festa de bandeiras com guerra e Cristo na mesma posição! Assim não é possível, a impotência da fé, a ingenuidade da fé.

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Somos infinita, eternamente filhos das trevas, da inquisição e da conversão! E somos infinita e eternamente filhos do medo, da sangria no corpo do nosso irmão!

E não assumimos a nossa violência, não assumimos as nossas idéias, como o ódio dos bárbaros adormecidos que somos. Não assumimos o nosso passado, tolo, raquítico passado, de preguiças e de preces. Uma paisagem, um som sobre almas indolentes. Essas indolentes raças da servidão a Deus e aos senhores. Uma passiva fraqueza típica dos indolentes.

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Não é possível acreditar que tudo isso seja verdade! Até quando suportaremos? Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos? Até quando, além da paciência, do amor, suportaremos? Até quando além da inconsciência do medo, além da nossa infância e da nossa adolescência suportaremos?"

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