O economês e a linguagem dos mortais

O que dona Maria não sabe é que o tal pacote fiscal vai tornar mais difícil a compra da máquina de lavar que ela tanto sonhou, para se livrar do tanque

O que dona Maria não sabe é que o tal pacote fiscal vai tornar mais difícil a compra da máquina de lavar que ela tanto sonhou, para se livrar do tanque
O que dona Maria não sabe é que o tal pacote fiscal vai tornar mais difícil a compra da máquina de lavar que ela tanto sonhou, para se livrar do tanque (Foto: Fátima Bandeira)


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"Estamos tomando uma sequência de ações para reequilibrar as contas públicas com o objetivo de aumentar a confiança, o entendimento dos agentes econômicos, de modo que possamos ver a retomada da economia em novas condições". Assim o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, explicou a necessidade do pacote fiscal anunciado na última segunda-feira.

Vamos tentar entender o economês naquilo que é fundamental para o ministro: "reequilibrar as contas públicas" significa, na língua real do bom e velho português brasileiro, ajustar despesas e receitas como em um banal orçamento doméstico da dona Maria, que precisa garantir a alimentação de sua prole e fazer a renda, formal ou não, render o suficiente para comprar os alimentos nos supermercados ou mercearias da vida cotidiana.

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"O objetivo de aumentar a confiança, o entendimento dos agentes econômicos, de modo que possamos ver a retomada da economia em novas condições". Mas, se o salário é insuficiente, é preciso dar alguma demonstração ao seu José, dono da mercearia, que é possível pagar a conta acumulada e conseguir um crédito de confiança. Coisa que era feita, antigamente, no fio do bigode. Que não era da dona Maria, que nunca teve bigode, mas que o mundo dos homens criou a máxima. Embora dona Maria acabe sempre tendo que apertar o cinto que também não era dela, culturalmente.

O problema da dona Maria são as "novas condições", difíceis de entender. Palavras vagas para de quem não viu grandes mudanças no dia a dia, a não ser o aumento da conta de energia, do tomate que sobe e desce, do milho das galinhas que falta, mas vem, do feijão de cada dia que garante a "sustança" dos meninos.

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Dona Maria não está preocupada com o aumento do IPI para produtos cosméticos, até porque, sobra pouco para isso.

O que dona Maria não sabe é que o tal pacote fiscal vai tornar mais difícil a compra da máquina de lavar que ela tanto sonhou, para se livrar do tanque. Vai tornar mais difícil juntar um dinheirinho pra dar entrada na casa própria, mesmo com o Minha Casa, Minha Vida. Até mesmo o aumento dos combustíveis que ela, que não possui carro ainda, não entendeu muito bem as reclamações. Dona Maria não sabe que a maior parte dos produtos, consumidos por ela, é transportada por via rodoviária, matriz do fluxo de mercadorias no Brasil.

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São essas e outras coisas que as palavras do economês não explicam. E dona Maria segue na sua vidinha cotidiana, sofrendo com o economês que não domina, que está restrito aos iniciados, mas reflete na vida das muitas donas Marias que representam o Brasil real e que estão excluídas das explicações ministeriais.

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