Dilma – o difícil retorno à estabilidade

‘Derrotar’ Dilma impondo-lhe um impedimento, sem um fato concreto típico, previsto constitucionalmente, como já se ensaiou, é não olhar para o Brasil

‘Derrotar’ Dilma impondo-lhe um impedimento, sem um fato concreto típico, previsto constitucionalmente, como já se ensaiou, é não olhar para o Brasil
‘Derrotar’ Dilma impondo-lhe um impedimento, sem um fato concreto típico, previsto constitucionalmente, como já se ensaiou, é não olhar para o Brasil (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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A presidente Dilma Rousseff entra em nova fase quando assume discutir a possibilidade de impeachment e chama para o enfrentamento adversários políticos. É a fase do tudo ou nada. Mas em política, mostra a história, costuma-se evitar ultimatos. A menos que se trate de um ditador ou se assuma o risco de cair.

Três ordens de problemas agudizam a situação atual comprometendo mais nitidamente a governabilidade, ainda que não autorizem, classicamente, se pensar em impeachment.

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A primeira, o rápido e imprevisível desmoronamento de avaliação do governo Dilma após a reeleição. Este fator se aliou a dois outros subfatores: uma grande execração social de muito do que Dilma fala, virando meme na internet, e a demonização do PT como um viral que se tornou difícil de combater na sociedade.

Se o desmoronamento de avaliação de Dilma é um fato, envolvendo análises complexas, não pode ser explicado somente pelos dois subfatores mais visíveis. Aí um equívoco da sociedade que prefere ceder à intolerância e ao imediatismo analítico da internet com seu ódio portátil carregado e pronto para atirar. Entra aqui também um machismo ‘último’ e então tirado do guarda-roupa para acabar sentenciando que por ser mulher Dilma não servia ‘mesmo’ para comandar.

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A segunda ordem de problema tem que ver com a absoluta falta de empatia e um temperamento pessoal insólito da presidente. Aqui, dois subfatores ajudam no desastre: a falta de traquejo vernacular e semântico de Dilma, enrolando-se toda quando precisa explicar coisas comuns para o povo – sua diferença com Lula neste quesito é gritante -, e seu perfil de enfrentamento autoritário. Não será exagero se a história compuser que uma eventual queda de Dilma se deveu efetivamente a dificuldades pessoais de comunicação.

A terceira, uma ordem invencível e tornada extremamente difícil para qualquer governante da atualidade: a perseguição jornalística em busca de seus cinco conceitos funcionais: medo, pânico, caos, escândalo e terror.

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A presidente tem apanhado da imprensa não apenas por fatos de gestão, governança ou ligados à sua situação política, o que é um defeito nítido do jornalismo de resultado diário. Fernando Henrique Cardoso também apanhou muito, virou hipopótamo em charges e sofreu perseguição implacável. O problema é que FHC já era um político velho de guerra e conseguia driblar com certa elegância, ou cinismo, situações que pudessem lhe pôr em risco. Dilma, de novo, não se sai bem neste quesito e aí uma imprensa ávida tira o sumo da situação.

Corre por fora o que seria uma quarta ordem de problema, um metaproblema que muitos esquecem e jamais deveriam esquecer: o Brasil. Se uma sociedade intolerante e consumista não mede muito bem o chicote crítico e exerce exageradamente sua chicotada sobre Dilma seria um problema ‘menor’. Mas a imprensa deveria ser bem mais responsável quando o assunto é Brasil.

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Um impeachment é um preço para lá de desastroso para um país. O preço institucional e de imagem (palavra que aí tem zero de futilidade) perante o mundo é dos piores. As consequências não são a afirmação da Democracia, mas a instabilidade de uma sociedade imediatista e representada pelo que há de pior em termos de classe política. É como se com a esdruxularia que foi Collor, não se tivesse aprendido nada em termos de escolha de um governante.

Dilma parece ter chegado àquele instante ao qual tudo que diz e faz é pegado para ridicularização. Nenhum presidente da república deve ser tratado assim, principalmente a pouquíssimos meses de sua reeleição. Um primeiro defeito aí pertence, então, à própria sociedade que o reelegeu.

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Por outro lado, começam sinais de descolamento de um novo Lula de Dilma, situação que uma Dilma reativa não deixará barato. Por seu turno, as entranhas de um PMDB voraz mostram danos causados por clássicos parasitas políticos que optam por caminhos ‘fáceis’ do rompimento ao mesmo tempo que um PT mais radical reivindica medidas ‘autênticas’, como se a sociedade lhe fosse um espelho.

A crise não é comum nem similar a outras. O ingrediente do impeachment continua sendo, juridicamente, um absurdo, mas politicamente uma imprevisibilidade. O caso é que a história tem sua lista de absurdos muito bem contabilizada.

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O Estado vem sendo investigado regularmente, diversos níveis de corrupção têm sido apurados por órgãos com autonomia e jamais as investigações podem ser utilizadas como combustível para o próprio impeachment de Dilma. Aí o maior erro de todos.

‘Derrotar’ Dilma impondo-lhe um impedimento, sem um fato concreto típico, previsto constitucionalmente, como já se ensaiou, é não olhar para o Brasil. Até FHC já tentou dar lucidez a seus ‘Golden Boys’, ou a seus contraparentes políticos reaças-mor. O problema é que na sociedade-BBB alguém precisa ir para o paredão. E o Brasil que se dane. 

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