Cerqueira Leite: corte pode gerar blecaute na ciência brasileira

Segundo o professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, o novo projeto do síncrotron brasileiro, considerado internacionalmente um dos três mais importantes da ciência mundial da década está ameaçado de fracasso, devido a cortes indiscriminados e principalmente pela retenção de recursos já comprometidos: “Este será um crime tão sério quanto os desvendados pela Lava-jato, pois compromete o futuro do país”, diz

Rogério de Cerqueira Leite
Rogério de Cerqueira Leite (Foto: Roberta Namour)


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247 – O professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, alerta para um possível blecaute na ciência brasileira. Ele diz que o novo projeto do síncrotron brasileiro, considerado internacionalmente um dos três mais importantes da ciência mundial da década está ameaçado de fracasso. Ele aponta cortes indiscriminados e principalmente pela retenção de recursos já comprometidos:

“Este será um crime tão sério quanto os desvendados pela Lava-jato, pois compromete o futuro do país”, diz.

Leia abaixo:

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Blecaute na ciência brasileira

Desde tempos imemoriais a luz foi o principal instrumento que permitiu ao homem perscrutar a natureza e dominá-la em uma certa medida. O homem pode usar o tato, o olfato, a audição como instrumentos importantes para sua sobrevivência, mas sem a visão não seria capaz de subsistir.

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Não é, pois, por acaso que o progresso da Ciência e da tecnologia, dependem primordial de novas fontes de luz. No começo bastava a luz solar. Depois, lâmpadas convencionais iluminavam microscópios.

O homem continuava em busca de fontes de luz mais potentes. O cientista chama de luz toda forma de radiação eletromagnética: ultravioleta, raios-X, gama, infravermelho, micro-ondas, etc. pois elas têm a mesma natureza que a luz visível.

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Assim nasceu o "laser" previsto por Einstein. Durante algum tempo, décadas de 60 e 70, permitiu o laser, em suas múltiplas modalidades, um progresso explosivo da ciência em geral.

Mas cientistas são ambiciosos, insaciáveis. Durante a década de 70 perceberam que um antigo instrumento construído com a finalidade de acelerar elétrons, denominado síncrotron, também emitia luz. A primeira geração desse dispositivo com a finalidade precípua de emitir luz foi uma adaptação precária da tecnologia usada para estudar propriedades de elétrons e outras partículas elementares.

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O Brasil só ousou entrar neste campo da tecnologia avançada na década de 1980. Projetou e construiu um síncrotron de segunda geração enfrentando o ceticismo da comunidade científica.

A despeito dessa descrença, o resultado foi imensamente recompensador. Vários diretores de síncrotrons europeus e americanos confessam não entender como foi possível, com tão poucos recursos financeiros –entre um terço e metade do que fora aplicado em instrumentos congêneres–, projetar e construir um equipamento competitivo.

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Hoje, embora ainda extremamente útil, o síncrotron brasileiro está deixando de ser competitivo com novos equipamentos de terceira geração –continuando a ser, contudo, o único síncrotron construído no hemisfério Sul. A mesma equipe que projetou e construiu o primeiro síncrotron brasileiro apresentou um projeto pioneiro para um novo, de quarta geração, que colocará o Brasil na fronteira da ciência.

O projeto foi aprovado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação em 2014 e colocado no plano plurianual, com verba alocada de R$ 1,3 bilhão, distribuída de 2015 a 2018. Considerado internacionalmente um dos três mais importantes projetos da ciência mundial da década está ameaçado de fracasso, devido a cortes indiscriminados e principalmente pela retenção de recursos já comprometidos.

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Apenas 20% da verba de 2015 foi liberada. E com ele irão também os quatro laboratórios que constituem o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), para onde apenas 30% do montante de 2015 foram pagos, além da desmoralização da fórmula organização social, que é a esperança do pesquisador brasileiro consciente.

Corre-se o risco de ter de dispensar os 550 pesquisadores e técnicos e os 300 bolsistas que lá trabalham, e de não mais atender os 2.000 usuários de outras instituições que anualmente desenvolvem seus projetos nos laboratórios abertos do CNPEM, além de mais de 30 projetos que serão interrompidos.

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Este será um crime tão sério quanto os desvendados pela Lava-jato, pois compromete o futuro do país.

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