Marilena Chauí: neoliberalismo gera ódio e violência

O neoliberalismo degradou tudo! O desabafo é da filósofa Marilena Chauí. Em palestra na Casa do Saber, ela descreve as transformações no capitalismo que levaram à devastação de países, ao encolhimento do espaço público, à precarização e fragmentação do trabalho e ao culto da ideia do "empresário de si mesmo". Confira trechos publicados pelo Tutaméia

Marilena Chauí: neoliberalismo gera ódio e violência
Marilena Chauí: neoliberalismo gera ódio e violência


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Do Tutaméia - O neoliberalismo degradou tudo! O desabafo é da filósofa Marilena Chauí. Em palestra na Casa do Saber, ela descreve as transformações no capitalismo que levaram à devastação de países, ao encolhimento do espaço público, à precarização e fragmentação do trabalho e ao culto da ideia do "empresário de si mesmo" –e outras tantas mudanças que acabam servindo para apunhalar o coração da democracia.

"Desde a maternidade até a entrada no mercado de trabalho, o indivíduo é treinado para ser um investimento bem-sucedido. Como consequência disso, decorre, de um lado, o surgimento de uma subjetividade narcisista, portanto, propensa à depressão. O narcisismo produz a depressão. E não é por acaso que a depressão é a doença da sociedade contemporânea.

"E, de outro, a enculcação da culpa naqueles que não vencem a competição, desencadeando ódios, ressentimentos e violências de todo tipo, particularmente contra imigrantes, migrantes, negros, índios, mendigos, LGBT, destroçando a percepção de si como membro ou parte de uma classe social e destruindo formas de solidariedade, desencadeando práticas fascistas de extermínio", afirma.

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Na palestra, Chauí fala de totalitarismo e neoliberalismo. Do capitalismo total. Do mundo da fantasmagoria em que vivemos Da compressão do espaço e do tempo nos dias atuais, da perda da autonomia da cultura. Da judicialização da política –consequência e não causa da situação atual–, da operação Lava Jato. De meritocracia, de fundamentalismo religioso. Do neocalvinismo:

"O que é a meritocracia? Não é só que eu tenho tudo isso por meu mérito. Mas eu tenho tudo isto porque deus reconhece o meu mérito. Eu sei que é triste no começo do século XXI você retomar o pensamento do final do século XV, começo do século XVI. Eu sei que é duro fazer isso. Esse apogeu desse pensamento nos meados do século XVII. Eu sei que é muito duro. Mas é isso. Nós temos um neocalvinismo que legitima a fragmentação, a dispersão, a terceirização, o esmigalhamento de uma classe social, que se vê agora como o indivíduo".

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Em outro trecho afirma:

"Muitos pensam que o fundamentalismo religioso é um contrassenso diante da proposta da racionalidade tecnológica, técnica, científica do neoliberalismo. O neoliberalismo é esse ponto de culminância da presença da ciência e da técnica num mundo. E aparece, então, como um contrassenso que ele traga, ele seja contemporâneo das várias formas de fundamentalismo religioso.

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"Não tem nenhuma contradição. Tudo que ele esvaziou na realidade, ao transformá-la em simulacro de si mesma, ele repõe com a profundidade da esperança religiosa. Do mesmo jeito. Nós estamos diante, do mesmo modo que a judicialização da política não é um acidente, mas é constitutiva da privatização, do fato de o Estado ser concebido como uma empresa, e da política ser concebida como uma gestão empresarial, que você judicializa.

"Da mesma maneira, a partir do momento em que você totaliza o espaço, sem distância, totaliza o tempo, sem memória e sem porvir. Totaliza o dentro, o fora, o corpo, as imagens, tudo. Nessa trama que engole, de uma só vez o espírito de cada um, onde você vai reencontrar o espírito? Nessa forma de religião".

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TUTAMÉIA acompanhou a palestra, no final de março, e publica aqui alguns trechos. Agradecemos o trabalho de Laura Lucena, essencial para que essa publicação fosse possível, e a colaboração do artista gráfico Fernando Carvall, autor da ilustração que retrata Chauí.

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