Gilberto Carvalho: Lula só será libertado quando mudar a conjuntura

"Ele é uma voz muito forte e estamos loucos para que ele volte logo para dar um reforço nesse momento conjuntural terrível", disse o ex-ministro à TV 247; para Gilberto Carvalho, porém, "a inocência do Lula só vai acontecer com a mudança de conjuntura"; "O Judiciário sofre, da parte da atual elite, uma pressão brutal", afirma; assista

Gilberto Carvalho: Lula só será libertado quando mudar a conjuntura
Gilberto Carvalho: Lula só será libertado quando mudar a conjuntura


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247 - Ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho falou à TV 247 nesta semana, onde comentou a importância da primeira entrevista concedida pelo ex-presidente Lula, enalteceu a importância de sua liberdade, mas avaliou que isso só deverá ocorrer com a mudança da conjuntura. Petista histórico, Carvalho também falou sobre os desafios do partido após a derrota nas eleições de 2018 para a extrema-direita, como sua necessidade de renovação e de formar novas lideranças.

Ele ressaltou a firmeza de Lula mesmo após um ano encarcerado em Curitiba. "Eu acho que em uma entrevista em televisão, tem uma vantagem importante, você não ouve só a voz, você tem a imagem. E talvez tão importante quanto as palavras dele foi a postura dele, imagino que muita gente esperava que, depois de um ano como prisioneiro, ele comparecesse a uma entrevista alquebrado, para baixo, e foi ao contrário. Espinha ereta, coragem e a reafirmação da dignidade, acho que para o nosso povo é muito importante".

O ex-ministro acredita que a busca do ex-presidente por sua inocência dá força ao povo. "Quando ele fala que não vai trocar nada pela luta da sua inocência, mesmo a liberdade ele abre mão se fosse o caso de ter que abrir mão da luta pela inocência, isso vai muito ao encontro a cultura popular em um tempo que tentaram o tempo todo dizer que Lula era culpado, bandido, ladrão, que enriqueceu e etc. Além disso uma visão do país, do povo, do mundo, e uma estratégia que serviu para grande ânimo da nossa militância, todo mundo que acredita no Lula e nas causas populares deu uma reanimada. Pude verificar também que setores que não têm nada a ver com ele se impressionaram".

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Carvalho também lembrou que a entrevista de Lula mostra o real motivo de sua prisão. "Nada pior para o Bolsonaro do que o Lula falando, e a imagem e o conteúdo dele sendo transmitidos nacionalmente e internacionalmente. Também do exterior a gente recebeu muitos retornos e comentários nessa linha do respeito. Vendo a entrevista a gente consegue entender porque ele está preso, porque ele, de fato, é um perigo para a estabilidade desse regime novo que eles tentam implantar no país, que é tirar dos pobres para dar para os ricos. Ele é uma voz muito forte e estamos loucos para que ele volte logo para dar um reforço nesse momento conjuntural terrível".

Para ele, a prisão do ex-presidente apenas o deixa mais forte. "O crescimento da mítica Lula junto ao povo, eles contribuíram só para aumentar, ele vai sair muito maior do que entrou e eles menores de quando prenderam, acho que isso é um fato que a gente precisava festejar com muita alegria. A partir daí, a nossa preocupação é não parar essa luta, se ele sair agora ele não sairá inocentado, ele terá uma progressão de regime. A inocência do Lula só vai acontecer com a mudança de conjuntura, o Judiciário sofre, da parte da atual elite, uma pressão brutal".

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Assim como Lula, o ex-ministro fez críticas pontuais ao governo petista. "Não fomos um governo pedagógico, não fomos um governo que juntou a inserção social e a econômica, sobretudo, a uma inclusão cultural, política, uma inclusão de consciência. Não conseguimos fazer com que as pessoas que recebiam o Minha Casa Minha Vida, que valia R$ 55 mil a casa, o cara só paga R$ 5 mil deste valor em dez anos, prestações que vão de R$ 30 a R$ 80, a prefeitura entra com R$ 5 mil e R$ 45 mil era dinheiro do Tesouro, que você deixou de dar para os bancos, de financiar os grandes, uma escolha política, porque governar é fazer escolhas, para investir nele. Se você, quando ele se inscreveu, não ajuda ele a entender isso o que acontece? Ele vai achar que aquela casa é um presente do gerente da Caixa, ou do pastor ou do prefeito e ele, três ou quatro meses depois, está com o adesivo contra nós na porta da casa dele. Se nós tivéssemos conseguido fazer um trabalho de comunicação e de pedagogia ampla, a resistência ao golpe teria sido muito maior".

O ex-ministro lembra que o PT já não tem mais o mesmo apoio da grande população como antes. "O fracasso do governo Bolsonaro não necessariamente será o sucesso do PT, a crise de um governo de direita como o dele não necessariamente vai fazer com que o PT cresça. Claro que o ambiente mudou para nós, a gente era alvo de xingamentos na rua, aeroporto, isso acabou praticamente, já olham para a gente de uma maneira diferente, mas tem que haver uma ação nossa de tentar romper um muro que eles conseguiram colocar entre nós e a população com essa sórdida, permanente e reiterada campanha nos meios de comunicação de que nós inventamos a corrupção, somos o partido mais corrupto do país, e inventamos o desemprego, a crise econômica. Com isso eles armaram uma barreira e, dolorosamente, nós vimos aqueles que nós mais amamos e a quem nós mais dedicamos nossas vidas virarem as costas para nós. Hoje, vamos reconhecer, a periferia do país não está conosco como já esteve, quem está lá dialogando com eles são as igrejas evangélicas que fazem um bem muito grande na periferia ajudando as pessoas, acolhendo, criando rede de solidariedade".

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Carvalho ainda tratou sobre a democratização das mídias, algo que, segundo ele, faltou fazer durante os governos petistas. "Tenho que me penitenciar, nós, no nosso governo, preferimos, por uma estranha visão, passar grandes recursos para os grandes meios de comunicação a dar licença de funcionamento e de concessões para grandes meios de comunicação e não fizemos um trabalho de apoiar, não uma imprensa partidária e muito menos governamental, mas que desse o tratamento democrático a informação".

O ex-ministro passou a receita de como o partido pode voltar a ter uma base forte de agora em diante. "O nosso caminho é o caminho de retomar a nossa fórmula ideal, estar muito perto do povo, ter muita luta social, reflexão sobre essa luta e elaboração coletiva de alternativa junto com essas pessoas. Se o PT, se a esquerda não fizer o que nós estamos tentando fazer agora, por meio dos comitês populares, ir ao encontro das pessoas, colocar uma mesinha de plástico na pracinha, como os evangélicos fazem, e ali fazer uma pregação, mostrar para o cara pedagogicamente e chamar a atenção para temas que dizem respeito a vida dele, a partir daí falar de Lula Livre e de outras coisas. Também atuação nas redes sociais, que eles continuam a mil por hora. Hoje há uma decisão clara no partido de retomar esse caminho, de trabalhar com as redes sociais mais fortemente, de maneira mais competente, de trabalhar com todas as redes que estão ajudando nesse processo de conscientização mas ir direto ao povo, conversar com o povo. Quando você convive com o povo você passa a compreender um monte de coisa e você passa a se comprometer seu coração, é uma coisa mística, fica muito mais empenhado. A receita para o PT para acabar com um monte de bobagens que nós temos é essa: voltar a mergulhar no meio do povo".

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Gilberto Carvalho acredita que a passagem do PT pelo governo fez bem ao governo, mas não ao partido, ao qual causou acomodação e desmobilização. "Nós nos acomodamos, nós que passamos pelo governo. Sempre brinco dizendo que o PT fez muito bem ao governo, o governo não necessariamente fez bem a nós e ao movimento sindical. Houve uma certa acomodação, há muito dirigente sindical que não foi ao 01 de maio, se todos os dirigentes tivessem ido a gente teria tido mais gente. A crise é também uma oportunidade de mudança, ela te convoca para uma mudança. É até triste dizer isso, mas o retorno desse ambiente quase ditatorial que estamos vivendo no país nos convida a retomarmos um padrão de luta, de consciência e de mística que nós perdemos muito, que o movimento sindical perdeu e que muitos movimentos no geral, na medida em que foram se tornando grandes instituições, foram perdendo essa mística de luta. Eu espero, e estamos tentando fazer isso, que a gente compreenda a profundidade dessa crise e vá para a luta de verdade. A greve geral acontece se o movimento sindical acordar e for para a rua, conversar, for prestar conta aos trabalhadores e fazer trabalho de conscientização".

Ele ainda falou sobre a reforma da Previdência, agenda central do governo do presidente Jair Bolsonaro. "É uma luta dura, é tão importante exatamente porque eles colocaram a reforma no centro da prioridade deles, e é importante porque é o pagamento deles para o sistema financeiro por todo o apoio que eles dão e a submissão do Brasil ao sistema financeiro mais desbragada por meio do processo de capitalização. Não tenho dúvida da importância da luta e não tenho dúvida também de que ela é um gancho muito concreto porque a aposentadoria é uma coisa muito cara às pessoas e muito necessária para a vida de cada um de nós".

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O ex-ministro espera uma atuação parlamentar correta e uma mobilização pela informação da população. "A única vez que nós tivemos uma vitória real no governo Temer foi o bloqueio daquela reforma da Previdência, estamos apostando que de novo há essa possibilidade. Tem um problema, temos que correr contra o tempo e temos que contar com a competente atuação parlamentar das bancadas de esquerda e centro-esquerda e ganhar tempo para conseguirmos fazer o processo de informação e de mobilização popular. Essas notícias que saem aí todo dia de que o Maia brigou, virou o nariz, cedeu e não sei o que lá são bobagem, não nos iludamos com isso".

Inscreva-se na TV 247 e assista à entrevista na íntegra:

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