O lixo urbanístico de Brasília

As recomendações da UNESCO não mudam em nada a tremenda malandragem de sucessivos governos de Brasília, que não param de desferir golpes contra a organização urbana da cidade



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Brasília foi discutida em São Petersburgo, na Rússia, nesta última semana de junho de 2012. Foi a 36ª reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, e foi discutida a continuação, ou não, da atribuição do título de Patrimônio Cultural da Humanidade ao Conjunto Urbanístico de Brasília. O honroso título foi mantido, com SEIS importantes recomendações, que podem ser resumidas nas seguintes redações:

a) Deve-se assegurar que "o espírito e a escala" do projeto original de Lucio Costa sejam contemplados no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília;

b) Deve-se criar um sistema de cooperação (governamental e comunitária), com papéis bem definidos, para a gestão dessa Preservação Patrimonial;

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c) Deve-se ter como metodologia a avaliação PRÉVIA dos impactos de quaisquer intervenções urbanas ou mudanças no uso do solo sobre o "Notável Valor Universal" (assim mesmo, em maiúsculas: "Outstanding Universal Value") do Conjunto Urbanístico de Brasília;

d) Solicita-se, em especial, o exame do impacto do Estádio Nacional Mané Garrincha e das alterações de sua vizinhança (uma referência que inclui a aventura privatista da Quadra 901 Norte, que deforma essa área de impacto);

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e) Solicita-se a proibição da construção de novas edificações em áreas non-aedificandi (especialmente as áreas verdes, que devem ser mantidas livres); (isso envolve novamente a Quadra 901 Norte, a ocupação da Orla do Lago, o desastroso Projeto Orla, e a expansão dos tribunais sobre a Avenida das Nações, entre outros "derrames");

f) Solicita-se estratégias mais inteligentes para o transporte público (certamente referência às graves contradições entre o Metrô-que-passa-em-Terra-de-Ninguém, o devastador VLT, e a destruição do Setor de Terminais Norte, entre outras violências contra um sistema de transportes públicos que tem tudo para ser excelente, e não é).

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Evidentemente, essas recomendações da UNESCO não mudam em nada a tremenda malandragem de sucessivos governos de Brasília, que não param de desferir golpes contra a organização urbana da cidade - abrindo exceção atrás de exceção para grupos empresariais que manipulam as autoridades, os oficiais de nosso urbanismo, com a frieza de "donos da Cidade". Com a certeza de quem não perde uma só briga dentro do GDF.

A ESPERTEZA NO URBANISMO DE BRASÍLIA

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A denominação para esse padrão de corrupção governamental é mesmo ESPERTEZA, pois operam irregularidades e se recusam, às risadas, a prestar contas de quaisquer de suas contravenções.

O exemplo que merece o título de "máxima cara-de-pau-urbanística" foi a estupenda transformação do Setor de Terminais Norte num (ainda não denominado assim, como talvez NUNCA venha a ser denominado assim) "Setor de Supermercados Norte".

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Deve ter sido a maior operação de mudança de uso do solo de todo o Conjunto Urbanistico de Brasília na modalidade "malandragem empresarial", totalmente dependente de oficiais urbanistas corruptos. Essa impressionante mudança comprometeu totalmente o futuro das operações de transportes públicos na Asa Norte, e em suas conexões com todo o quadrante Norte de bairros (Sobradinho, Planaltina e as dezenas de condomínios irregulares, mas parte da política urbana não-oficial do DF).

Afinal, era um "Setor de Terminais" que serviria ainda a um Metrô que passaria pela W3 Norte (uma outra estória de fracasso urbano planejado, que deve ser somado à contabilidade da nobre UNESCO).

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SETOR DE SUPERMERCADOS NORTE: O MAIOR LIXO URBANISTICO DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA

Na Audiência Pública de 10 de maio de 2010 (era uma audiência pública, embora o GDF intitulasse como "apresentação" dos fundamentos do Plano de Preservação do CUB, na versão da equipe gaúcha de Brianne Bicca), os representantes do GDF foram interpelados sobre essa extraordinária mudança:

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- como a transformação de um Setor de Terminais em um Setor de Supermercados foi, em primeiro lugar, POSSÍVEL;

- quem foi, afinal o grupo de urbanistas responsável por essa escandalosa transformação, e como o GDF trata esse tipo de intervenção fulminante, totalmente enviesada na direção de um punhado de empresários que querem as melhores localizações para seus negócios (e a cidade que se vire);

- como aquele tremendo CRIME contra o uso do solo, feito de forma obscena, ocultada, seria considerado no "nascente" Plano de Preservação, dado que o Setor de Supermercados nunca fez parte do projeto urbanístico original nem de nenhuma proposta de alteração do Plano Piloto (e nunca passou de uma operação "esperta", essencialmente CORRUPTA)?

- Mais importante: como operações como aquela, de transformação de um Setor de Terminais, vital para a cidade, em um Setor de Supermercados, vital para espertalhões, seriam enquadradas e evitadas no FUTURO?

A resposta dada pela representante do urbanismo do GDF foi estarrecedora. "a culpa é de uma técnica, que cometeu um erro e estamos apurando".

Essa foi a desculpa mais inaceitável que poderia ter sido dada por uma oficial de governo. A culpa é da ESTAGIÁRIA. "A culpa é de um bode-de-gabinete que temos lá no Palácio do Buriti e faz essas coisas". Não é culpa de nossa equipe, que só tem gente boa, não é culpa de nosso governador: é culpa de uma Maria-Ninguém, que vai pagar por isso, exemplarmente. (Quem disse?)

UM BOLETIM DE OCORRÊNCIA QUE VALE BILHÕES DE REAIS

Isso aconteceu logo nas primeiras audiências do Plano de Preservação. Se somamos essa conduta do GDF a muitas outras (como a atual operação de transformação da Quadra 901 Norte em um mega-empreendimento que mistura hotelaria, residência, garçoniéres, shopping e tudo o que couber num área de Superquadra com 18 andares, compacta), devemos ter a certeza de que o GDF dará um show de malandragem na UNESCO, enquanto puder.

Malandro que é malandro não "bobeia". Há muito dinheiro em jogo: somente na 901 Norte, negocia-se a criação de 4 a 6 BILHÕES de reais em mercadoria imobiliária (se considerarmos um valor de venda de "apenas" R$ 10.000 a 15.000 o metro quadrado dos 425.009,10 m2 autorizados, de forma unilateral e ousada pela TERRACAP).

Bem, naquela audiência pública de 10 de maio de 2010, os oficiais de urbanismo do GDF tiveram que ouvir pela primeira vez, a expressão LIXO URBANÍSTICO. "Vocês estão a produzir LIXO URBANÍSTICO desde seus gabinetes, Doutora!" "Vocês estão a deformar a cidade com seu Lixo Urbanístico!" era o urro da plateia de críticos à malandragem do governo.

Vale registrar que a urbanista que culpou a estagiaria pela maior malandragem da história urbana do Plano Piloto, a transformação de um Setor de Terminais em um Setor de Supermercados, ao ouvir as críticas da plateia foi direto a uma Delegacia de Polícia, onde registrou o primeiro Boletim de Ocorrência por desaforo urbanístico em audiência pública.

POLÍCIA PARA QUEM PRECISA DE POLÍCIA

Realmente, foi um tremendo desaforo contra a cidade, a transformação de um Setor de Terminais em um Setor de Supermercados. Mas, no caso, "a urbanista que culpou a estagiária" também queria calar a plateia, num gesto patético, desesperado. A autoridade desafiada e denunciada chama a polícia para abafar seus próprios "estagiarismos". O processo criminal contra a plateia indignada continua até hoje, assim como esse Plano de Preservação cheio de COISAS ocultas.

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