Drummond é o melhor remédio contra esses tempos sombrios

Leia o poema "A noite dissolve os homens", do clássico poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que retrata os tempos de estado de exceção em que mergulhou o Brasil com a prisão política e ilegal do presidente mais popular da história do País 

Leia o poema "A noite dissolve os homens", do clássico poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que retrata os tempos de estado de exceção em que mergulhou o Brasil com a prisão política e ilegal do presidente mais popular da história do País 
Leia o poema "A noite dissolve os homens", do clássico poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que retrata os tempos de estado de exceção em que mergulhou o Brasil com a prisão política e ilegal do presidente mais popular da história do País  (Foto: Aquiles Lins)


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A NOITE DISSOLVE OS HOMENS

A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.

A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.

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E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.

A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.

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Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

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O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

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O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...

Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

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Carlos Drummond de Andrade

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