Dilma Rousseff K. e ‘O Processo’. Filme sobre o golpe, sucesso em Berlim, chega ao Brasil

O diálogo entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado poderia servir de sinopse para o documentário O Processo; MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional. JUCÁ – Com o Supremo, com tudo. MACHADO – Com tudo, aí parava tudo. JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto; o filme de Maria Augusta Ramos, já aclamado no Festival de Berlim, reconta a história dos 271 dias do processo do golpe do impeachment, que pôs na presidência o que viria a ser o primeiro ocupante do Planalto denunciado por crime de corrupção

dilma
dilma (Foto: Leonardo Lucena)


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Tiago Pereira, da RBA - O diálogo entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado poderia servir de sinopse para o documentário O Processo:

MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto. 

O filme de Maria Augusta Ramos, já aclamado no Festival de Berlim, reconta a história dos 271 dias do processo do golpe do impeachment, transcorridos entre 2 de dezembro de 2015 e 31 de agosto de 2016 do ano seguinte, quando destituiu a primeira mulher eleita presidenta do Brasil e colocou em seu lugar aquele que viria a ser o primeiro ocupante do Palácio do Planalto denunciado oficialmente por crime de corrupção.

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É também um relato de um país dividido, representado pelas cercas e grades na Esplanada dos Ministérios. De um lado, grupos pró-impeachment impulsionados pela imprensa comercial a uma tese de que se estaria combatendo a corrupção. De outro, os que afirmavam que tudo não passava de um golpe urdido pelo poder econômico, tingido de legalidade a partir de um processo jurídico-político inaugurado pelas mãos do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, hoje preso por corrupção.

Nesse processo, a presidenta Dilma Rousseff é Joseph K., personagem do escritor tcheco Franz Kafka, em livro que empresta o título ao documentário, avassalado pelo peso da burocracia estatal, envolvido em um longo processo em que ele não sabe de onde vem e do que é acusado.

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Assim foi com Dilma. Acusada de cometer crime de responsabilidade fiscal, em decretos de crédito suplementar e as chamadas "pedaladas", manobras fiscais que ocorreram anteriormente e depois de Dilma, e que ocorrem também em administrações estaduais, sem que houvesse o mesmo ímpeto criminalizador.

As câmeras acompanham então o vaivém pelos corredores, comissões, plenários, de figuras centrais do processo, como o advogado de defesa da então presidenta, ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo, e da advogada Janaína Paschoal, do PSDB, que produziu com os juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior a peça jurídica inicial do processo, acolhida por Cunha.

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Encurtar o ciclo

O documentário revela também os bastidores, com conversas entre senadores que compunham a base do governo sitiado, e as estratégias políticas, não apenas para defender o mandato de Dilma, mas para demonstrar a farsa de uma articulação política que conservou apenas a aparência jurídica, mas que representava a vontade política dos grupos derrotados nas urnas. Entre eles, muitos que estavam na mira da Justiça, apoiados pelas forças do grande capital e incensados pela mídia tradicional. Todos desejosos de pôr fim antecipado ao que seria um ciclo de 16 anos consecutivos de governos petistas.

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São nessas conversas também que aparecem, já naquele momento, as preocupações com a perseguição política ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a tentativa de tirá-lo do processo eleitoral, que culminaria com a sua recente prisão.

Dada a continuidade do processo de golpe no país, que serviu para que o governo Temer impusesse, sem o aval das urnas, uma agenda de destruição de direitos, com o congelamento de gastos sociais por 20 anos, uma reforma trabalhista que legalizou a precarização do trabalho e a entrega do pré-sal às petrolíferas estrangeiras, o filme, apesar das suas mais de duas horas de duração, ganha ares de trailer para o atual momento vivido pelo país, passados quase dois anos de governo Temer.

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Exibido em mostras internacionais de cinema – escolhido pelo público como terceiro melhor documentário na mostra Panorama no Festival de Berlim –, o filme teve a sua estréia mundial em 21 de fevereiro, e agora chega ao Brasil no Festival É Tudo Verdade, com sessões neste domingo (15) em São Paulo, e nos dias 17 e 18 no Rio de Janeiro.

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