Belluzzo: visão dos militares que estão no poder é antiquada

Dos cinco ministérios que compõem a equipe econômica do governo, quatro estão sob comando dos militares, o que significa a maior representatividade verde-oliva na administração pública federal desde a ditadura; para o economista Luiz Gonzaga Belluzo, a visão ideologizada da equipe econômica de Jair Bolsonaro (PSL) é “antiquada” e “não corresponde à dinâmica do capitalismo atual”

Belluzzo: visão dos militares que estão no poder é antiquada
Belluzzo: visão dos militares que estão no poder é antiquada (Foto: Imagem da esquerda: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)


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Leonardo Fernandes (Brasil de Fato) - É um argumento bastante comum dos defensores do militarismo o chamado “milagre econômico”, produzido durante o período da ditadura militar no Brasil. Tomando a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) como referência, a curva ascendente é expressiva, passando de 0,6% em 1963 para 14% em 1973. Mas os números e porcentagens não contam a história por completo.

O economista Luiz Gonzaga Belluzo lembra que o crescimento do PIB brasileiro inseriu-se no contexto de uma economia internacional em ascensão e respondia a uma lógica de fortalecimento da indústria nacional – inaugurada ainda nos anos 1930, por Getúlio Vargas: “Essa estrutura veio lá do Getúlio [Vargas], depois passando pelo Juscelino [Kubitschek] e foi continuada pelos militares. Não houve uma ruptura".

Belluzo explica que, embora aquele período tenha se caracterizado pelo intenso investimento estrangeiro no Brasil, ele estava direcionado à estruturação da indústria brasileira, possibilitando, inclusive, a transferência de tecnologia para setores estratégicos da economia.

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“O Juscelino abriu isso de uma maneira muito produtiva. Entraram muitas empresas estrangeiras, sobretudo do setor automobilístico. Esse investimento era feito em novas fábricas. O que está acontecendo agora é investimento direto estrangeiro em ativos já existentes. E aí está incluída a privatização. Mudou porque mudou a lógica de funcionamento do capitalismo durante esses anos. Todo o investimento das empresas estrangeiras atuais é para comprar empresas já existentes, o que dá no fenômeno da desnacionalização”.

Segundo o economista, a visão ideologizada da equipe econômica de Jair Bolsonaro (PSL) é “antiquada” e “não corresponde à dinâmica do capitalismo atual”. Sobre a não-intervenção do Estado na economia, premissa do pensamento neoliberal, Belluzo acredita que terá consequências graves em pouco tempo.

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“É uma coisa obsoleta isso. Só vai agravar a situação porque está completamente fora do que é necessário para que a economia brasileira avance em relação ao resto do mundo. Então é uma loucura. Pode dar algum fôlego num curto prazo porque há um papel importante do inter-relacionamento dos mercados financeiros, a bolsa brasileira tem muita relação com as bolsas internacionais. Mas, no médio prazo, isso vai mostrar sua inefetividade. Não dá certo. Não tem nada a ver com a lógica do capitalismo de hoje. Nós vamos virar um país exportador de commodities”, lamenta.

Militares na equipe econômica
Dos cinco ministérios que compõem a equipe econômica do governo, quatro estão sob comando dos militares, o que significa a maior representatividade verde-oliva na administração pública federal desde a ditadura.

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No ministério de Infraestrutura, está o ex-capitão Tarcísio Gomes de Freitas; Minas e Energia, o almirante Bento Costa Lima Leite; Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o astronauta e tenente-coronel da reserva da Força Aérea, Marcos Pontes; e na Secretaria de Governo, responsável também pelo Programa de Parcerias de Investimentos, está o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

Além deles, o presidente Jair Bolsonaro indicou para a presidência do Conselho de Administração da Petrobras, o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira. Outras estatais podem ter militares indicados para cargos de chefia, como a Telebras, a Eletrobras e a Caixa Econômica Federal.

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