Por que a privatização dos bancos é um mau negócio para o Brasil

“Dos 5.590 municípios brasileiros, 60% contam com agência bancária (3.365). Dptotal, 950 são apenas de bancos públicos. Privatizar os bancos públicos pode reduzir o número de agências bancárias no Brasil”, alerta Juvandia Moreira, da Contraf; segundo ela, um município sem agência bancária tem baixo desenvolvimento econômico

Por que a privatização dos bancos é um mau negócio para o Brasil
Por que a privatização dos bancos é um mau negócio para o Brasil (Foto: Esq.: Pablo Valadares - Câmara)


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Por Pedro Rafael Vilela, Brasil de Fato - O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem alardeado em eventos dentro e fora do Brasil sua vontade de privatizar tantas quantas empresas estatais forem possíveis, inclusive os maiores bancos públicos do país: a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil (BB). Juntas, essas duas instituições são as principais responsáveis pela concessão de crédito imobiliário e agrícola no país, além de estímulo às pequenas e médias empresas.

Em janeiro de 2018, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) demonstrou que as empresas estatais distribuíram, entre 2002 e 2016, mais de R$ 285 bilhões em dividendos para a União, ou seja, para os cofres públicos. Somente os bancos públicos distribuíram R$ 203 bilhões desse total. Vender esses ativos, na prática, significa também abrir mão de vultosos lucros que podem ajudar a compor o orçamento público federal em áreas como saúde, educação e segurança pública.

“Por que o Estado vai vender empresas lucrativas que ajudam no desenvolvimento interno e geram empregos, exercendo um papel estratégico para o país?”, questiona Juvandia Moreira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). Na última semana, Guedes chegou a sugerir uma fusão entre BB e o Bank of America, com sede nos Estados Unidos, o que reforçou a polêmica sobre a possibilidade de entrega das instituições públicas ao capital estrangeiro. 

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Os bancos públicos cumprem uma função social, por meio do fomento do desenvolvimento regional, por exemplo, que não se verifica nos bancos privados – cujo foco de atuação é exclusivamente em áreas onde se pode lucrar. Isso explica, por exemplo, a baixa presença de bancos privados nas regiões mais pobres e menos desenvolvidas do país. Em estados como Roraima, Pará, Acre, Tocantins e Piauí, os bancos públicos como Caixa e BB chegam a representar até 80% das agências.

“Dos 5.590 municípios brasileiros, 60% contam com agência bancária (3.365). Desse total, 950 são apenas de bancos públicos. Privatizar os bancos públicos pode reduzir o número de agências bancárias no Brasil”, alerta Juvandia Moreira, da Contraf. Segundo ela, um município sem agência bancária tem baixo desenvolvimento econômico e pouco estímulo ao comércio.

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Bancos privados concentram investimentos no Sudeste

Esse cenário também se reflete na concessão de crédito, que realmente tem efeito na economia, com geração de renda e emprego, num país com mais de 13 milhões de desempregados. Os bancos privados, no Brasil, destinam a maior parte de seus recursos para o Sudeste, enquanto nas demais regiões, mais de 80% do crédito é garantido por bancos públicos, chegando a quase 95% do total nos estados do Norte.

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“O avanço do crédito é importante para pagar os salários, criar renda, de modo que as pessoas possam poupar, de modo que as empresas possam ganhar para repagar os bancos. É nesse movimento que se expande a economia”, afirmou ao Brasil de Fato o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor de Economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Belluzzo lembra, por exemplo, do papel histórico dos bancos públicos na economia brasileira, como o protagonismo do Banco do Brasil, na década de 1930, para recuperar a indústria do café, completamente destruída pela Grande Depressão de 1929. “Isso continua nos anos 1950, com Getúlio Vargas, que cria o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], com o Juscelino Kubitschek e com os militares” explica.

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Privatizar loteria afeta políticas públicas

“Do total arrecadado nas lotéricas, 37% são destinados para a seguridade social, o esporte, a cultura, segurança, educação e saúde. São verbas carimbadas. Entregar as lotéricas para os bancos privados pode acabar com isso”, observa a presidente da Contraf, Juvandia Moreira.

Além de leiloar as loterias da Caixa, o governo já anunciou que pretende privatizar as áreas do banco que vendem seguro, cartão de crédito e que cuidam do FGTS.

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CEF é para habitação

A Caixa Econômica Federal, que cuida do pagamento de programas sociais e da administração do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), foi responsável por mais de 75% do crédito imobiliário concedido à população no ano de 2015. Foram direcionados mais de R$ 370 bilhões para essa finalidade. Para se ter uma ideia, no mesmo ano, Itaú, Santander, Bradesco e HSBC responderam, juntos, por R$ 86 bilhões do crédito imobiliário.

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Apesar dessa importância estratégica, num país onde o déficit habitacional ultrapassa as 7,7 milhões de morarias, o desmonte da Caixa segue em curso. No último ano, foram fechadas 25 agências e 37 postos de atendimento, além da demissão de mais de 5 mil trabalhadores.

Crédito agrícola

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“Não existiria o agronegócio brasileiro sem o Banco do Brasil e a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]”, afirma Belluzzo. O BB e o Banco do Nordeste (BNB), outra instituição pública, são os principais operadores do Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar (Pronaf), responsável por cerca de 75% do volume de crédito concedido à agricultura familiar. Esse setor produz 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Apesar de ter sido aberta para todos os bancos, a operação do Pronaf só é oferecida pelo BB e pelo BNB, o que revela o desinteresse dos bancos privados em operações que oferecem pouco retorno financeiro.

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