Viviane Mosé: a direita não aceita perder

"O fortalecimento da direita no mundo inteiro, falando de direita como um grupo que odeia a vida e por odiar a vida gosta de submeter e explorar os outros, essa gente não aceita perder esse poder e esse espaço e ver a sociedade horizontalizada, isso é a luta de quem já perdeu, na minha opinião. Quem já perdeu não está aceitando perder, mas não há retorno para eles, o mundo nunca mais vai ser uma pirâmide, nós nunca vamos voltar a ter mulheres e homens opostos como papéis sociais, a sociedade cada vez mais vai rir disso", diz a filósofa

Viviane Mosé: a direita não aceita perder
Viviane Mosé: a direita não aceita perder


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247 - Pouco mais de uma semana após a prisão do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, a filósofa Viviane Mosé afirmou que a sociedade sofre hoje com a guerra da informação.

Para ela, ter poder hoje significa ter informação. Mosé ainda apontou influência dessa guerra nas eleições do Brasil. "O que parece claro na sociedade em que a gente vive é uma nova relação de poder, é a guerra da informação, o poder econômico não é nada diante do poder da informação. O próprio poder econômico é submetido ao poder da informação, tem lucro e acumula quem hoje domina um sistema específico de informação, de troca de informação. Não é à toa que a gente vê no mundo o que aconteceu na eleição americana, o que aconteceu no Reino Unido e o que aconteceu no Brasil. Não tenho a mínima dúvida que quem ganhou a eleição foi a manipulação da informação".

A filósofa esclarece que a informação tem um poder de destruição muito amplo. "Se antes você precisava de uma bomba para matar uma pessoa, hoje você precisa de uma informação. A guerra no mundo, literalmente, as armas que matam as pessoas e destroem a sociedade, chamam-se informação. Essa é a nossa guerra, é um campo horroroso de destruição, precisamos ter a clareza disso".

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Viviane Mosé também comentou sobre a apatia da população. "Nós crescemos voltando atrás, voltar atrás não é perda, é um dos movimentos. A ida é feita de retrocessos, as idas e vindas fazem parte. O que nós estamos vivendo hoje, ódio, intolerância, retrocesso moral, ouvimos coisas inacreditáveis especialmente nos últimos dois ou três anos, isso não é necessariamente retrocesso, isso é exatamente parte deste processo de ida e vinda. Nós estamos em um momento de retrocesso mas eu não tenho dúvida de que, primeiro, nós vamos sair daqui com muita vergonha de tudo isso que estamos expondo, que tudo que estamos expondo de preconceito era nosso, escondido, estamos expondo uma parte horrorosa da sociedade e ao expor essa parte horrorosa estamos dispostos a enfrentá-la. Esses retrocessos são ganho, o que nós não podemos perder é a perspectiva de que a vida é ida e vinda, se a gente entende a gente ganha a parada e segue adiante, mas a gente está perdendo, perdendo para o suicídio, para a automutilação, estamos perdendo para a depressão. Este movimento é o movimento de quem ainda não percebe que todo esse sofrimento é parte do jogo".

Ela ainda apontou o desmonte das instituições e leis como uma das fontes da descrença vinda da juventude. "O mundo está sem perspectiva, a juventude é apenas consequência das destruição das instituições. A gente para existir precisa de coisas que eu chamo de 'canaletas', como um sistema de irrigação, você vive de energias e as suas energias têm de canalizar para algum lugar. Nós somos seres humanos na ponta de um processo de transformação que a gente não nasce com tudo pronto, a gente tem que decidir as coisas e o processo de decisão vai criando canaletas para facilitar. O que acontece hoje é que as canaletas, as ordens sociais e morais que se chamam leis e ordens foram desfeitas e estão sendo desfeitas".

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Sobre censura, a filósofa ressaltou que a criatividade se aflora com censura. "O melhor espaço para a criatividade é a censura, se tem uma coisa que estimula a criatividade é a censura porque é exatamente a tentativa de ultrapassar, nós vivemos um momento de retorno da censura, a gente ouve coisas absurdas. Tem um povo que perdeu e não quer perder, tem uma gente que perdeu, isso envolve o modelo de ser, modelo de alimentação, modelo de cabelo, de tudo. Esse modelo que está morrendo, do consumo excessivo, que destrói a natureza, sem afeto, que considera que posse é mais importante do que ser, esse modelo está literalmente falindo para uma sociedade maior, mais bonita e mais alegre".

Ela também criticou a direita e afirmou que a sociedade está saindo de um modelo piramidal para outro horizontal. "O fortalecimento da direita no mundo inteiro, falando de direita como um grupo que odeia a vida e por odiar a vida gosta de submeter e explorar os outros, essa gente não aceita perder esse poder e esse espaço e ver a sociedade horizontalizada, isso é a luta de quem já perdeu, na minha opinião. Quem já perdeu não está aceitando perder, mas não há retorno para eles, o mundo nunca mais vai ser uma pirâmide, nós nunca vamos voltar a ter mulheres e homens opostos como papéis sociais, a sociedade cada vez mais vai rir disso".

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Viviane Mosé ainda comentou sobre a educação e lembrou que esta não é a solução de todos os problemas. "Não, claro que não. A gente trata a educação como milagre, a gente faz tudo errado do lado de fora e quer que a educação resolva. A educação não pode estar nesse lugar. A gente não pode dizer que a melhor coisa é colocar as crianças na escola porque a rua é perigosa, a rua tem que ser melhor e as crianças ganharem o direito a rua, a gente tem que tirar as crianças desse presídio. A escola não faz milagre, a escola é parte do mundo, ela carrega todos os problemas do mundo".

Apesar disso, ela esclarece que não é uma crítica aos professores. "O professor está no meio do conflito do problema, das crianças que estão tentando suicídio, dos jovens que estão se automutilando, do terrorismo que é 'já que eu vou acabar com a minha vida eu vou deixar uma marca no mundo', como aconteceu em Realengo, em Suzano, Goiás... então os professores estão no meio de um conflito mas a gente precisa, professores, gestores, secretários de Educação, ministro da Educação, que a gente não tem nenhum, chamar a atenção de toda a cadeia e dizer: 'precisamos formar pessoas e a escola precisa ser um lugar alegre, antes de qualquer coisa'".

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A filósofa conversou também sobre resistência e explicou o que, para ela, é resistir nos dias atuais. "Mantenha o que você entende por 'resistir', mas não é se contrapor. Hoje, resistir é afirmar algo, é afirmar algo que brilha, que vibra, que leve a vida. é fortalecer a vida para que os jovens não queriam morrer, se matar e automutilar, resistir hoje é mostrar que o corpo possui experiências nele sozinho, que são incríveis, se você habita seu próprio corpo, sua pele, se você desenvolve a sua sensibilidade, se você aprende a ouvir, se você coloca o amor no seu ouvido você vai ouvir música como você nunca ouviu. Resistir não é lutar contra os policiais, contra o Estado, contra o capital internacional ou nacional, resistir é querer dizer: 'eu quero viver, tenho direito e ninguém vai me impedir'. Isso é resistir".

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