O “Golpe de Mestre” dos Estados Unidos contra a Venezuela

Stella Calloni revela o plano secreto do SouthCom para derrubar a República Bolivariana da Venezuela. Este documento que publicamos contradiz os compromissos do presidente Trump de acabar com as intervenções sobre mudanças de regime que caracterizavam a política imperial dos Estados Unidos. Ele prova que a imagem internacional de caos da Venezuela é inteiramente fabricada, resultado exclusivo da propaganda anglo-saxã.

Manifestantes em protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas, Venezuela. 11/04/2017 REUTERS/Christian Veron
Manifestantes em protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas, Venezuela. 11/04/2017 REUTERS/Christian Veron (Foto: Reinaldo)


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247 - Por Stella Calloni (*) - Os Estados Unidos e seus aliados preparam em silêncio um plano brutal para "acabar com a ditadura" na Venezuela. Este "golpe de Mestre" ("Masterstroke"), já em andamento, teria uma primeira etapa posta em prática antes das próximas eleições e se eles não conseguirem expulsar o presidente Nicolás Maduro durante sua nova ofensiva, acompanhada de todo o aparelho de propaganda e de mídia, além de ações violentas "para a defesa da democracia", o plano B está pronto e ele engajará vários países para impor uma "força multilateral" de intervenção militar.

O Panamá, a Colômbia, o Brasil e a Guiana possuem um papel chave neste plano, com o apoio da Argentina e de outros "amigos" sob o controle do Pentágono. Desde as bases a serem ocupadas, passando pelos países de fronteira que fornecerão um apoio direto, inclusive com seus hospitais e reservas de víveres para os soldados, tudo está pronto.

Tudo isto está especificado em um documento de 11 páginas, ainda não divulgado, que leva a assinatura do Almirante Kurt Walter Tidd, atual Comandante em chefe do SouthCom dos Estados Unidos.

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O documento analisa a situação atual e legitima uma guerra de contrainsurreição contra a Venezuela, assim como o sistema perverso da guerra psicológica que permite compreender a persecução, o acossamento, o aviltamento e a mentira usados para acabar não somente com os dirigentes populares, mas também com os povos enquanto tais.

O relatório afirma que a "ditadura chavista" na Venezuela está prestes a cair em função dos seus problemas internos; a grave penúria de alimentos, o esgotamento completo das rendas externas e a corrupção desenfreada que teria ganhado o apoio internacional graças aos petrodólares, sem contar que o poder aquisitivo da moeda nacional está em queda livre.

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Esta situação, eles admitem tê-la forjado artificialmente, com uma impunidade chocante, e consideram que ela não mudará. Eles justificam suas ações afirmando que o governo da Venezuela tomará novas medidas "populistas" para manter-se no poder.

O tratamento reservado à oposição manipulada, aconselhada e paga pelos Estados Unidos não deixa de surpreender, pois lê-se no documento que "o governo corrupto de Maduro partirá em derrocada, mas, infelizmente, as forças de oposição que defendem a democracia e o nível de vida da população não têm a capacidade requerida para pôr um fim ao pesadelo venezuelano" em razão de suas disputas internas e de "uma corrupção semelhante àquela dos seus rivais; ambos compartilham a mesma ausência de raízes" e isso não lhes "permite tirar o melhor partido desta situação e de tomar as decisões necessárias para exagerar o estado de penúria e de precariedade na qual o grupo de pressão que exerce a ditadura de esquerda mergulhou o país."

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Eles consideram ter de enfrentar "uma ação criminosa sem precedentes na América Latina" e isso apesar de o governo da Venezuela não ter jamais agido contra os seus vizinhos, manifestando sempre, pelo contrário, uma intensa solidariedade regional e mundial. O plano dos Estados Unidos sustenta a tese de que "a democracia se difunde na América, continente onde o populismo radical parecia fadado a tomar seu controle". A Argentina, o Equador e o Brasil seriam exemplos desta tese. "Este renascimento da democracia se fundamenta em opções corajosas e as condições regionais são favoráveis. Chegou o momento para os Estados Unidos de mostrar que estão engajados neste processo e a queda da ditadura venezuelana será um marco em escala continental."

Além disso, com a justificativa de que "é a primeira ocasião para a administração Trump de aplicar sua visão da democracia e da segurança e de que é chegado o momento de agir" eles pressionam o presidente americano Donald Trump a entrar em ação convencendo-o de que esta ação é crucial para o continente e para o mundo inteiro.

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Isto pressupõe não somente a eliminação definitiva do chavismo e a expulsão de seu representante, como também trabalhar para "intensificar a insatisfação popular, favorecendo mais instabilidade e penúria, a fim de tornar irreversível o repúdio ao ditador atual".

Se quisermos penetrar a arte da perversão contrainsurrecional é suficiente ler a parte deste documento que recomenda "assediar sem descanso o presidente Maduro, ridicularizá-lo, apresentando-o como um exemplo de inabilidade e de incompetência, um fantoche às ordens de Cuba".

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É igualmente sugerido exacerbar as divisões entre membros do grupo no poder ressaltando as diferenças de nível de vida entre eles e seus dirigentes e cuidar para que as divergências se acentuem.

A ideia consiste em fazer operações relâmpago, no estilo de Mauricio Macri na Argentina e de Michel Temer no Brasil, ao tomar medidas da precisão de um tiro de míssel, em algumas horas, para a destruição dos Estados nacionais. Por sinal, esses dois mordomos às ordens de Washington são personalidades corruptas, mas que se tornaram "vanguardas da transparência"pela graça Imperial.

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Este documento assinado pelo chefe do SouthCom exige que o governo de Maduro torne-se insustentável, forçando-o assim a vacilar, negociar ou fugir. Este plano que dentro em breve deveria eliminar a suposta ditadura na Venezuela, insta para que "a instabilidade interna seja trazida a níveis críticos, por meio da descapitalização do país, da fuga de capitais estrangeiros e da desvalorização brutal da moeda nacional pela aplicação de novas medidas inflacionárias."

Outro objetivo: "Fazer obstrução a todas as importações e ao mesmo tempo desmotivar os eventuais investidores estrangeiros", para contribuir "a tornar a situação ainda mais crítica para a população".

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Encontra-se também neste plano apresentado em 11 páginas
"o chamado a aliados internos e a outras pessoas bem inseridas no panorama nacional com o objetivo de que possam engendrar manifestações, distúrbios e insegurança, saques, roubos e atentados assim como apreensões de navios e outros meios de transporte para perturbar a segurança nacional nos países limítrofes". Convém também, diz o documento, que "haja vítimas" para poder assim acusar os governantes "aumentando as dimensões da crise humanitária aos olhos do mundo inteiro"; é necessário para isso manipular a mentira e falar de corrupção generalizada dentre os dirigentes e "associar o governo ao narcotráfico para atingir sua imagem tanto no plano interno como junto da opinião internacional"; isto "sem esquecer de exaurir os membros do Partido Socialista Unificado (PSUV), difundir a discórdia entre eles a fim de que eles rompam com grande estardalhaço suas ligações com o governo, recusando-se a aplicar as medidas e restrições que pesam não só sobre eles como sobre toda a população; (....) a oposição é tão fraca que é necessário criar fricções entre o PSUV e Somos Venezuela."

Não é só isso, é preciso "estruturar um plano para obter a deserção dos quadros mais capacitados de forma a privar o país de todos os seus profissionais altamente qualificados; isso agravará ainda mais a situação interna e a responsabilidade será imputada ao governo".

Ingerência militar

Como em um romance de suspense, o documento convida a "usar oficiais do exército como alternativa para uma solução definitiva" e a "tornar ainda mais duras as condições no seio das Forças Armadas a fim de preparar um golpe de estado antes do final de 2018, caso esta crise não seja suficiente para provocar a derrocada da ditadura ou se o ditador vier a se recusar a deixar seu lugar a outros."

Considerando que tudo o que está exposto anteriormente pode eventualmente não render frutos, com um desprezo gritante pela oposição venezuelana, o plano preconiza "alimentar continuamente a tensão na fronteira com a Colômbia, incitar o tráfico de combustível e outros bens, promover iniciativas dos paramilitares, com incursões armadas e tráfico de drogas, para provocar incidentes armados com as forças de segurança da fronteira", sem contar, "o recrutamento de paramilitares principalmente nos campos de refugiados de Cucutá, de La Guajira e do norte da Província de Santander, vastas zonas ocupadas por cidadãos colombianos que haviam emigrado à Venezuela e que agora retornam ao país, fugindo de um regime que aumentou a instabilidade nas fronteiras e aproveitando-se do espaço vazio deixado pelas FARC, pela ELN - sempre beligerante - e das atividades [paramilitares] na região do Cartel do Golfo". (1)

Finalmente, eis aqui a estruturação do golpe final que será proferido: "Favorecer a entrada em ação das forças aliadas para apoiar os oficiais rebeldes do exército ou para controlar a crise interna em caso da iniciativa ser retardada (.....), impedir o ditador, no curto prazo, de continuar a ampliar sua base para controlar o tabuleiro interno. Se necessário, agir antes das eleições previstas para o próximo mês de abril".

Na verdade essas eleições ocorrerão em maio e os Estados Unidos assim como os seus comparsas se recusam de antemão a reconhecer seu resultado. O nó da questão é "obter o apoio e a cooperação das autoridades aliadas de países amigos (Brasil, Argentina, Colômbia, Panamá e Guiana). Organizar a partir do Panamá, o fornecimento das tropas, o apoio logístico e médico. Fazer bom uso de tudo aquilo que proporciona a vigilância eletrônica e os sinais inteligentes, dos hospitais e dos Fundos enviados ao Darién (na floresta do Panamá); aproveitar-se do equipamento disponível em drones do Plano Colômbia, assim como das áreas das antigas bases militares de Howard ou Albrook (Panamá) e mesmo daquelas que pertencem ao Rio Hato. Lançar mão também do Centro regional humanitário das Nações Unidas, concebido para situações de catástrofe e de urgência humanitária e que contém uma pista de aterrissagem e suas próprias lojas".

Estamos diante da organização de uma intervenção que inclui "estacionamento de aviões de combate e helicópteros, de veículos blindados, de unidades de Informação e de unidades militares especiais para logística (policiais, responsáveis militares e prisões)" (...) será necessário "realizar a operação militar sob uma bandeira internacional com o aval da Conferência dos Exércitos Latino-Americanos sob a proteção da OEA e a supervisão no contexto legal e mediático do secretário-geral da dita Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro". Convém "declarar a necessidade para o Comando Continental de reforçar a ação servindo-se das ferramentas da democracia interamericana com o objetivo de evitar a ruptura democrática". Sobretudo, trata-se de "reunir Brasil, Argentina, Colômbia e Panamá para que eles contribuam com o reforço das tropas e façam uso de sua proximidade geográfica e da sua experiência em matéria de operações em regiões densas e de floresta fechada. O âmbito Internacional será reforçado pela presença de unidades de combate dos Estados Unidos e das nações mencionadas, o todo sob o comando geral do Estado-Maior conjunto, dirigido pelos Estados Unidos".

É chocante observar a impunidade dentro da qual tudo isto se trama, pelas costas dos povos, em uma ilegalidade absoluta; por outro lado tornam-se enfim compreensíveis as recentes manobras militares dos Estados Unidos na fronteira entre o Brasil e a Venezuela (Brasil, Peru, Colômbia), no Atlântico Sul (Estados Unidos, Chile, Inglaterra, Argentina); no caso da Argentina isso se faz sem a menor autorização do Congresso Nacional desde outubro-novembro de 2017.

"Utilizar as facilidades do território do Panamá para a retaguarda e as capacidades da Argentina para garantir a segurança dos portos e as posições marítimas (...),
- propor ao Brasil e à Guiana de colocar ao nosso dispor sua situação migratória sobre a qual nós temos a intenção de agir, na fronteira da Guiana;

- coordenar o apoio à Colômbia, ao Brasil, à Guiana, à Aruba, à Curaçao, a Trinidad e Tobago e a outros Estados frente ao afluxo de imigrantes da Venezuela provocado pelos avanços da crise".

Prevê-se também "favorecer a participação internacional a este esforço como parte da operação multilateral com a contribuição de Estados, organismos não governamentais e de instituições internacionais e fornecer o que será necessário em matéria de logística e de informação; será necessário antecipar os acontecimentos particularmente sobre os pontos escolhidos em Aruba, Puerto Carreño, Inirida, Maicao, Barranquilla e Sincelejo na Colômbia assim como em Roraima, Manaus e Boavista no Brasil". Eis como se desenha o mapa de uma guerra de intervenção anunciada.

Informação estratégica

Quanto à perspectiva estratégica, será necessário "sufocar a simbólica chavista juntamente com sua representatividade e seu apoio popular" mantendo simultaneamente o assédio ao ditador "como único responsável da crise na qual ele mergulhou a nação", assim como aos seus mais próximos executantes, aos quais se imputará a crise e a impossibilidade de sair dela.

Em outro parágrafo, faz-se um apelo para "intensificar o descontentamento contra o regime de Maduro, (...) assinalar a incompetência dos mecanismos de integração instalados pelos regimes de Cuba e da Venezuela e mais particularmente da Alba (Aliança Bolivariana dos Povos da Nossa América) e Petrocaribe".

No que tange à mídia, o plano desenhado pelos Estados Unidos exige que seja aumentada a difusão interna no país das mídias locais e estrangeiras, de mensagens montadas e baseadas sobre testemunhos e publicações feitas no próprio país, lançando mão de todas as capacidades de disseminação - o que inclui as redes sociais - de mensagens "veiculando sobre todas as mídias a necessidade de pôr fim à situação porque ela é, na essência, insustentável".

Em um dos últimos parágrafos do documento, para obter o apoio internacional, fala-se em assegurar ou mostrar o uso de meios violentos por parte da ditadura, colocando em prática todas as capacidades da guerra psicológica do exército dos Estados Unidos".

Em outras palavras, trata-se de montar os mesmos cenários a base de mentiras, de falsas montagens de notícias, de fotos e vídeos truncados, tudo que foi posto em prática durante as guerras coloniais do século 16.

Outro aspecto: "Os Estados Unidos deverão apoiar os Estados americanos que os apoiam no plano interno", melhorar sua imagem e "a ordem multilateral de instituições do sistema interamericano, como instrumentos indispensáveis para a solução dos problemas regionais; enfim, promover a ideia do envio indispensável de uma força militar da ONU para impor a paz, uma vez que a ditadura corrupta de Nicolás Maduro terá sido varrida".

(1) Cartel de drogas mexicano

(*) Jornalista e escritora argentina; publicado orignialmente na Rede Voltaire; tradução de Sylvie Giraud para Brasil247

 

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