Maria Dantas: imagem de Bolsonaro na Europa é pior que a de Trump

Primeira brasileira eleita deputada para o parlamento da Espanha, Maria Dantas contou à TV 247 como foi sua caminhada até a política e relatou como são as imagens de Bolsonaro e de Lula na Europa; "Por onde se olhe, a prisão de Lula é ilegal", conta; a sergipana afirma que uma de suas pautas será internacionalizar todas as atrocidades que estão acontecendo no Brasil e diz acreditar que o premiê Pedro Sánchez não fará negociações com Bolsonaro; assista

Maria Dantas: imagem de Bolsonaro na Europa é pior que a de Trump
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247 - Primeira brasileira a ser eleita deputada para o parlamento da Espanha, Maria das Graças Carvalho Dantas, de 49 anos, conversou com a TV 247 nesta semana e falou sobre a luta contra a extrema-direita que fará em seu mandato, além da imagem do Brasil e de seu presidente, Jair Bolsonaro, na Europa. A sergipana também defendeu a liberdade do ex-presidente Lula, que já foi inclusive motivo de moção pelo parlamento da Espanha, e contou sua trajetória pessoal até a política espanhola.

Maria, que ocupará uma das cadeiras conquistas pelo partido Esquerda Republicana de Catalunya (ERC) nas eleições de abril, comentou a importância da unidade na frente contra a extrema-direita. "Eu sou cria da rua, dos movimentos sociais. Dos 25 anos que eu moro aqui, levo 20 anos da minha vida na rua em movimentos sociais de base. Na minha opinião, sou consciente e acredito bastante que as grandes mudanças de paradigmas, as grandes mudanças sociais a gente faz nas ruas, construindo movimento de base com trabalho de formiguinha dia a dia. Então eu acho também que a gente nunca vai acabar, eliminar o fascismo e a extrema-direita nas eleições, é um dos componentes maravilhosos, sim é verdade, só que para combater e para tentar eliminar essa lacra realmente, na minha opinião, deve haver obrigatoriamente uma unidade de forças, uma frente ampla: partidos políticos, todos os sindicatos, coletivos vários, instituições e até museus".

Para Maria Dantas, essa luta é internacional. "Quando nós fazemos uma luta aqui contra o [partido de extrema-direita] Vox, alguma ação contra o Vox, alguma incidência política ou alguma incidência social contra o Vox, nós estamos fazendo também, nesse mesmo momento, uma luta contra o Bolsonaro no Brasil e o Trump nos Estados Unidos. Por isso eu digo, o antifascismo é internacionalista".

A brasileira acredita que o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), não fará negociações com Bolsonaro. "Espero muito que a Espanha possa fazer esse trabalho, eu não vejo o Pedro Sánchez fazendo qualquer tipo de aliança com o Jair Bolsonaro, eu realmente não vejo e eu me decepcionaria muitíssimo se fizesse. Eu não vejo o Pedro Sánchez utilizando algo além do que a sua liturgia do cargo. Eu gostaria de que o novo governo da Espanha, e é uma das minhas pautas de internacionalizar todas as atrocidades que estão acontecendo aí no Brasil com esse governo do capitão Bolsonaro. Nesse sentido eu quero contar com os companheiros, deputados e deputadas, senadores e senadoras do Partido Socialista, do Podemos, do grupo misto, ou seja, eu realmente quero ser uma porta-voz do que está acontecendo no Brasil".

Ela complementou dizendo que a imagem do Bolsonaro na Europa é pior que a de Trump. "A ideia que o povo europeu tem do governo do Brasil é uma ideia clara de um governo de extrema-direita, de fato, a imagem que o governo do Brasil tem é muito pior e muito mais deteriorada do que a imagem do governo do Donald Trump".

Maria Dantas também contou que a esquerda política espanhola também defende a soltura do ex-presidente Lula. "Das esquerdas espanholas eu não conheço uma que não seja pelo Lula livre. A deputada mais jovem do Esquerda Republicana, no ano passado quando saiu aquela determinação da ONU para a Justiça brasileira deixasse Lula participar das eleições, baseada nessa resolução da ONU essa deputada confeccionou uma proposta de resolução para o parlamento da Catalunha que foi votado na sua maioria para que Lula saísse a prisão e que pudesse participar das eleições. Nesse sentido, o parlamento da Catalunha, que seria como a Assembléia Legislativa do Estado, aprovou por unanimidade uma resolução de Lula livre. A pauta Lula livre tem bastante acolhida aqui na Espanha e na Catalunha, estamos nessa luta porque realmente, na minha opinião, o PT tem que fazer realmente uma mea culpa mas o Lula está na prisão de forma, juridicamente, ilegal. Por onde você olhar essa prisão do Lula não é correta".

Ela ainda comentou sobre o sucesso da Esquerda Republicana, seu partido, na última eleição do país. "O Esquerda Republicana é um partido da Catalunha, não é um partido que está em outras regiões da Espanha, é um partido de âmbito catalão e aqui na Catalunha nós ganhamos em 747 municípios, isso configura 79% de todos os votos do território catalão. São 42 comarcas e, dessas 42, ganhamos em 35, ganhamos com mais de um milhão de votos. Aqui não se vota no candidato, as pessoas não votaram na Maria Dantas, claro que votaram em uma lista na qual Maria Dantas ia em quinto lugar desta lista, ou seja, na lista havia diversas pessoas e eu fui a quinta pessoa da lista. Conseguimos 15 representantes para o Congresso, 11 senadores, de fato subimos 6 cadeiras porque éramos 9 antes e agora somos 15, e de senadores subimos uma cadeira. Então realmente foi um êxito impressionante da Esquerda Republicana, pintamos de amarelo o mapa da Catalunha. Ganhamos em Barcelona também que, há muito tempo, não conseguimos ganhar uma eleição espanhola aqui na cidade de Barcelona, fomos a força política mais votada".

Outro ponto analisado pela deputada da Espanha foi o rendimento abaixo do esperado da extrema-direita espanhola. "Eu, Maria Dantas, estou contente e aliviada pela resposta cidadã porque o voto na Espanha não é obrigatório como é no Brasil, portanto, nesse ano tivemos um altíssimo índice de participação, de sufrágio ativo, ou seja, o povo saiu de casa para votar. É verdade que o partido da extrema-direita, o Vox, ganhou 24 cadeiras no Congresso de deputados e deputadas da Espanha, só que eles esperavam ganhar entre 50 e 70 cadeiras, tanto que no dia seguinte o líder desse partido, Santiago Abascal, foi à imprensa e assumiu que eles ficaram aquém, e não além, do que eles pensavam que iriam conseguir. Estou bastante contente de que a vitória da extrema-direita não foi realmente aquela que pensávamos que seria".

Morando em Barcelona há 25 anos, Maria Dantas contou um pouco de sua trajetória pessoal até o parlamento espanhol. "Eu vim com uma amiga minha que vinha fazer um curso de turismo, vendi meu carro, velhinho, raspei o que eu tinha na conta, que era pouco também, e vim para cá e estou aqui esse tempo inteiro. Cheguei aqui e fiquei muito tempo em condição administrativa irregular, como qualquer pessoa que chega aqui no começo, as leis mudaram bastante desde que eu cheguei, já houve algumas modificações na lei de imigração mas somente modificações. Eu passei muito tempo de forma ao que nós conhecemos por 'ilegal', sou absolutamente contra esse termo porque não existe ninguém ilegal, não existe, 'nadie es ilegal', ninguém é ilegal, as pessoas estão em condição administrativa no país irregular. Depois eu fiz muito trabalho informal, que aqui, naquela época, não se via. A economia informal aqui praticamente não existe, então desde fazer comida para os outros, levar cachorro para passear, fazer trabalho doméstico, cuidar de idosos, lavar latrina em restaurante, garçonete, dar aula de português, revisar teses de doutorado, ou seja, muitas coisas para conseguir chegar no fim de mês. Isso é o normal, normal de todas as pessoas que migram".

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