Partido da Imprensa assume que é Golpista, mas não diz por que

Por que só quando começaram a atirar esterco contra as fachadas de suas sedes o grupo empresarial dos Marinho resolve fazer esse mea-culpa?



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Desde que o deputado federal pelo PT de Pernambuco Fernando Ferro cunhou a sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista) e o jornalista Paulo Henrique Amorim a popularizou – atraindo, assim, o ódio de barões da mídia que, por isso, até hoje tentam destruí-lo -, os veículos que deram causa a esse epíteto aposto ao seu caráter político-partidário, rejeitam-no.

A oposição que Globo, Folha de São Paulo, Estadão e Editora Abril (as cabeças da hidra midiática) sempre fizeram à sigla PIG, porém, nunca se soube se deriva de rejeição à premissa sobre seu caráter partidário ou sobre seu caráter golpista, mas agora se sabe: o PIG não quer ser chamado de PIG por achar – ou por querer vender – que se regenerou e não é mais golpista.

É isso o que se depreende do rumoroso editorial do jornal O Globo que confessa que, sim, “A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”.

continua após o anúncio

O editorial, aliás, principia tocando na causa do recente surto de honestidade do império empresarial da família Marinho ao reconhecer que errou ao apoiar o golpe militar de 1964 e, ao longo das duas décadas seguintes, a ditadura que aquele golpe gerou. Já no primeiro parágrafo (abaixo), mostra que os protestos de que a Globo tem sido alvo guardam relação com esse surto.

Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: ‘A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura’. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura (…)”

continua após o anúncio

A renitência dos protestos diante das sedes da Globo em todo o país pelo visto começa a preocupar o império empresarial, que vem escamoteando vários desses protestos ao seu público. Mas quando os manifestantes começaram a atirar de volta contra os Marinho o excremento que eles atiram contra o telespectador, o ouvinte e o leitor, parece que eles se preocuparam.

E como o cachimbo faz a boca torta, o mea-culpa da Globo não deixa de começar tentando fazer o leitor de idiota ao negar o que o editorialista mostrou que sabia quando escreveu o texto, que todo mundo perceberia que foram os protestos contra a emissora e seus tentáculos que geraram esse seu “arrependimento” tardio. O trecho abaixo, pois, é revelador.

continua após o anúncio

“(…) Não lamentamos que essa publicação [do mea-culpa] não tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro, necessário (…)”

Uau!, quanta honestidade… Mas não passa de conversa mole. Quanto tempo faz que a Globo se deu conta de que errou ao apoiar a ditadura? Dois meses? Dois anos? Vinte anos? Por que só quando começaram a atirar esterco contra as fachadas de suas sedes o grupo empresarial dos Marinho resolve fazer esse mea-culpa?

continua após o anúncio

A despeito da pretensa humildade da Globo – que, repito, foi forjada pelos que a fustigam nas ruas e na internet, por exemplo contando as suas peripécias tributárias –, o editorial em tela está repleto de distorções eufemísticas e imprecisões históricas.

Os defeitos do editorial podem ser encontrados já na chamada para o texto na internet: “Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”. De fato, foi um erro. Não foi, porém, um erro qualquer, pois seus efeitos perduraram por mais de duas décadas e custaram uma quantidade catastrófica de vidas. Só que o Partido da Imprensa Golpista, que a Globo meio que preside, não deu “só” apoio “editorial” ao golpe.

continua após o anúncio

Para entender, reproduzo, abaixo, trecho do editorial que delata alguns dos principais grandes veículos de comunicação da época que, segundo O Globo, “erraram” como esse jornal ao apoiar o estupro da democracia brasileira.

“(…)O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares, ao lado de outros grandes jornais, como ‘O Estado de S.Paulo’, ‘Folha de S. Paulo’, ‘Jornal do Brasil’ e o ‘Correio da Manhã’, para citar apenas alguns (…)”.

continua após o anúncio

Primeiro que o termo “Intervenção” já não é nem eufemismo, mas estupro dos fatos: não houve “intervenção” alguma, houve golpe de Estado. Segundo, que a delação dos outros veículos golpistas nos faz lembrar que o apoio, além de editorial, foi logístico. A citada Folha de São Paulo, por exemplo, chegou a emprestar carros de entregas de jornais para a ditadura transportar presos políticos de uma masmorra a outra.

Além disso, no caso da Globo em particular há que lembrar que ela apoiou a ditadura até a sua undécima hora.

continua após o anúncio

Entre 1983 e 1984, quando milhões foram às ruas pedindo “Diretas Já”, a Globo continuava cometendo seu “erro editorial” ao simplesmente se negar a noticiar o movimento pela volta da democracia. Por exemplo, noticiou uma manifestação em São Paulo pedindo eleições diretas como sendo “comemoração pelo aniversário da cidade”.

Isso não é apoio editorial, certo? A Globo fez parte da ditadura e essa é deixa para chegar a outro ponto principal do mea-culpa global: por que Roberto Marinho apoiou por duas décadas um regime criminoso, assassino e ladrão?

O editorial caradura diz que “O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país”, mas é balela. Roberto Marinho apoiou o golpe e o regime que dele derivou porque os golpistas lhe encheram os bolsos de dinheiro público, assim como os dos veículos comparsas que o jornal carioca delatou no texto.

E não foi dinheiro que o falecido fundador da Globo ganhou simplesmente prestando serviços lícitos e com nota fiscal, mas dinheiro entregue por vias transversas, por debaixo dos panos, sem registro, sem justificativa outra que não a de erigir um império comunicacional que vendesse aos brasileiros o que interessava aos ditadores.

Não poderia terminar este texto, porém, sem tocar em um dos trechos mais bizarros do editorial “arrependido”. A certa altura, o editorialista tenta apresentar Roberto Marinho como protetor de “jornalistas de esquerda” que trabalhavam para si, mas, no âmbito desse intento, faz uma confissão de arrepiar os cabelos.

Diz o editorial:

“(…) Instado algumas vezes a dar a lista dos “comunistas” que trabalhavam no jornal, [Roberto Marinho]sempre se negou, de maneira desafiadora. Ficou famosa a sua frase ao general Juracy Magalhães, ministro da Justiça do presidente Castello Branco: “Cuide de seus comunistas, que eu cuido dos meus’ (…)”.

É de cair o queixo. É confissão de que Roberto Marinho sabia dos horrores que a ditadura praticava e, do alto do poder que auferiu ao apoiá-la, lavou as mãos da sorte dos comunistas “dela” e defendeu os “seus”, como se um reacionário, picareta, genocida, falsário como aquele fosse dono de homens e mulheres heroicos que não venderam suas almas como ele.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247