A morte de Eduardo Campos é um ponto de mutação?

Em artigo especial para o 247, o jornalista Luís Pellegrini, editor da revista Oásis, tenta desvendar os significados da morte de Eduardo Campos; "Como bem sabem os homens e mulheres sábios, sejam gregos antigos ou de qualquer outro tempo, não há renascimento sem morte que o anteceda, seja ela real ou simbólica. Uma morte é sempre sinal de que um ciclo novo tem de acontecer", diz ele; "O que provoca a ruptura da ordem natural das coisas? Em primeiro lugar a arrogância, a vaidade, o descomedimento, a perda da consciência de limites. Todos eles fatores perversos que o pensamento grego abrigava sob um mesmo denominativo: a hybris"; leia a íntegra

Em artigo especial para o 247, o jornalista Luís Pellegrini, editor da revista Oásis, tenta desvendar os significados da morte de Eduardo Campos; "Como bem sabem os homens e mulheres sábios, sejam gregos antigos ou de qualquer outro tempo, não há renascimento sem morte que o anteceda, seja ela real ou simbólica. Uma morte é sempre sinal de que um ciclo novo tem de acontecer", diz ele; "O que provoca a ruptura da ordem natural das coisas? Em primeiro lugar a arrogância, a vaidade, o descomedimento, a perda da consciência de limites. Todos eles fatores perversos que o pensamento grego abrigava sob um mesmo denominativo: a hybris"; leia a íntegra
Em artigo especial para o 247, o jornalista Luís Pellegrini, editor da revista Oásis, tenta desvendar os significados da morte de Eduardo Campos; "Como bem sabem os homens e mulheres sábios, sejam gregos antigos ou de qualquer outro tempo, não há renascimento sem morte que o anteceda, seja ela real ou simbólica. Uma morte é sempre sinal de que um ciclo novo tem de acontecer", diz ele; "O que provoca a ruptura da ordem natural das coisas? Em primeiro lugar a arrogância, a vaidade, o descomedimento, a perda da consciência de limites. Todos eles fatores perversos que o pensamento grego abrigava sob um mesmo denominativo: a hybris"; leia a íntegra (Foto: Leonardo Attuch)


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Por Luís Pellegrini, editor da revista Oásis

Na Grécia Antiga, cuja cultura deu origem a quase tudo que somos ou pretendemos ser em termos de seres pensantes, a morte sempre foi entendida e acatada como sinal de mutação, de mudança de ciclo pessoal, social ou histórico. Percebida – da mesma forma que o nascimento - como fenômeno natural inerente à própria dinâmica da existência, ela nunca foi vista como "fim", mas sim como ponte necessária para se alcançar um recomeço. Portanto, como um "meio". E para os gregos,inventores da filosofia ocidental, os meios sempre foram muito mais importantes do que os fins.

Como bem sabem os homens e mulheres sábios, sejam gregos antigos ou de qualquer outro tempo, não há renascimento sem morte que o anteceda, seja ela real ou simbólica. Uma morte é sempre sinal de que um ciclo novo tem de acontecer, e toca a todos que a testemunham agir para que o ciclo novo aconteça.

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Esta reflexão é importante e necessária, no momento em que todos nós, brasileiros, nos defrontamos com a morte brusca e prematura de um jovem político candidato a ocupar o posto supremo da cidadania nacional, a Presidência da República. Eduardo Campos não era apenas um políticojovem, inteligente e brilhante como todos a ele se referem agora. Ele representava, a cada dia mais, a possibilidade do surgimento em nosso país de uma nova casta de homens públicos diferenciados, caracterizados não necessariamente pela santidade – pois a política é muito mais arena de gladiadores do que panteão de santos – mas sim por um entusiasmoalegre e quase ingênuo, por um desejo honesto de mudar as coisas, típico dos idealistas que ainda não conhecem bem a espessura das barreiras que tentam impedir o avanço das reformas e das revoluções. Sabemos todos que as grandes utopias têm poucas chances de se realizar. Mas idealistas como Eduardo Campos são absolutamente necessários, sempre, esobretudo quando uma nação cai no descrédito em relação ao mundo do poder, da política e dos políticos em geral. Alguém, honestamente, poderá negar que isso está acontecendo aqui e agora no Brasil?

O destino matou Eduardo Campos. Alguns comentaristas adjetivam seu súbito desaparecimento de "morte estúpida". Mas basta subir uma oitava na escala do pensamento para se perceber que nenhuma morte é estúpida.Toda morte encerra uma lição, uma mensagem, um significado que deve ser decifrado, se não quisermos – como tantas vezes já fizemos e continuamos a fazer - perder o cavalo sem rabo do ensinamento que a existência quer nos dar.

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No caso do Brasil, para se chegar a tal leitura, convém começar pelo recurso à raiz, à própria origem e base da alma nacional: o sincretismocorporal, psíquico, mental e anímico que nos caracteriza. Este sincretismo, queiramos ou não, gostemos ou não, é europeu-africano-indígena. Nele pontifica o orixá Olodumarê, o senhor supremo do destino. Ao lado dele, atuando como seu fiel servidor, está o orixá Exu, seu mensageiro, o encarregado da execução na Terra, e entre os homens, dos desígnios de Olodumarê.

Exu, que a santa ignorância dos missionários cristãos identificou com o diabo, nada mais é do que o braço regulador do destino. O princípio de poder que é ativado toda vez que a ordem natural das coisas é subvertida e quebrada, e que age – isento de qualquer consideração compassiva - para que essa ordem seja restabelecida.

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O que provoca a ruptura da ordem natural das coisas? Em primeiro lugar a arrogância, a vaidade, o descomedimento, a perda da consciência de limites. Todos eles fatores perversos que o pensamento grego abrigava sob um mesmo denominativo: a hybris.

Não apenas a política brasileira, mas o mundo como um todo, vive hoje sob a égide da hybris. Não é por acaso falta de consciência de limites o que estamos fazendo ao dilapidar e poluir nossa própria casa, o planeta Terra? Não é descomedido o modelo de civilização que criamos,inteiramente assentado na escravidão da produtividade e do consumismo insustentáveis? Não será, por acaso, forrado de arrogância o mercado persa em que se tornou nosso mundo político, verdadeiro ringue de MMA vale tudo para o embate de todos os tipos de fisiologismos, de acordos e de alianças espúrias e pouco recomendáveis, praticados por legiões de políticos transformados em peagadês da Lei de Gérson?

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Faz parte da ordem natural das coisas, no entanto, o fato de que carreira política é quase sinônimo de sacerdócio. Na sua etimologia original, política significa: "Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados". Será possível conceber-se a prática dessa arte ou ciência de modo dissociado do conceito de SacrumOfficium, ofício sagrado, significando a submissão dos desejos do ego pessoal às necessidades do bem comum?

Quando, no mundo, uma função sagrada - seja ela a do professor, a do médico, a do sacerdote, a do homem público – é vilipendiada e descaracterizada, isso configura ruptura da ordem natural das coisas. Isso ativa o poder de Exu. O princípio regenerador se manifesta, quase sempre de forma violenta e cega, desfazendo na sua fúria cega coisas, valores e pessoas que num instante estavam íntegras e no instante seguinte viraram pó. É este o momento em que, com frequência, os inocentes pagam pelos pecadores...

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É o momento em que o inexorável Olodumarê, ao tirar de nós Eduardo Campos e aquilo que ele representava, talvez esteja querendo nos dizer: "Ambições mundanas, impulsos competitivos, a ânsia de status, poder ou bens materiais, tudo tende a dissipar-se quando visto contra o pano de fundo da morte potencialmente iminente. É como escreveu Carlos Castaneda, ao descrever os ensinamentos do feiticeiro yaki Don Juan: "Uma quantidade imensa de mesquinhez é abandonada quando a tua morte te acena ou a entrevês num breve relance. (...) A morte é a única conselheira sábia que possuímos".

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