Fernando Haddad à TV 247: no conteúdo, estou à esquerda do PT

Em entrevista concedida à TV 247, o ex-prefeito Fernando Haddad, que obteve 47 milhões de votos na última disputa presidencial, falou sobre seu papel na resistência democrática, na luta contra o obscurantismo e na defesa de uma pauta central, que é a liberdade do ex-presidente Lula. Num dos pontos mais interessantes, ele apontou sua posição ideológica e sua forma de ação política. "Eu estou à esquerda do PT no conteúdo e à direita na forma. E é preciso combinar forma e conteúdo. Nós podemos ter ideias mais ousadas, mas precisamos saber endereçá-las", afirmou; confira a íntegra

Fernando Haddad à TV 247: no conteúdo, estou à esquerda do PT
Fernando Haddad à TV 247: no conteúdo, estou à esquerda do PT (Foto: Ricardo Stuckert)


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TV 247 Dono de um patrimônio de 47 milhões de votos obtidos na última eleição presidencial, o ex-prefeito Fernando Haddad concedeu uma longa entrevista à TV 247, na última terça-feira 12, quando fez um balanço de seu desempenho na disputa e apontou caminhos para o campo progressista no futuro. Uma de suas formulações mais interessantes ocorreu quando foi questionado sobre se seria alguém "da ala à direita do PT". Haddad afirmou estar à esquerda do partido, no tocante ao conteúdo, e à direita, na forma. O que significa defender ideias mais ousadas – do ponto de vista da distribuição da riqueza, por exemplo – sem abraçar um modo de ação política que se dê fora do campo institucional. "Eu estou à esquerda do PT no conteúdo e à direita na forma. E é preciso combinar forma e conteúdo. Nós podemos ter ideias mais ousadas, mas precisamos saber endereçá-las", afirmou. Para explicar sua posição, Haddad traçou um paralelo com as novas forças de esquerda, no Partido Democrata, nos Estados Unidos. "Eles têm defendido propostas muito mais avançadas, como a saúde universal, a educação universal e a taxação das grandes fortunas. Ao mesmo tempo, na forma, todas essas ideias têm sido apresentadas de forma mais convidativa", disse ele, no momento em que se fala de um alvorecer do socialismo nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Na entrevista, concedida a Gisele Federicce, Paulo Moreira Leite e Leonardo Attuch, Haddad falou sobre temas polêmicos, como a questão venezuelana e a intervenção dos Estados Unidos na América do Sul. Segundo Haddad, a crítica que fez à posição do partido – cuja presidente, Gleisi Hoffmann, foi à posse de Nicolás Maduro – está relacionada à forma, e não ao conteúdo. "O PT sempre defendeu a autodeterminação dos povos, mas também sempre combateu o autoritarismo de esquerda", diz ele. Haddad afirma que, se tivesse vencido as eleições, a relação entre Brasil e Estados Unidos seria totalmente diferente. "Hoje é uma relação de tutela e intimidação, de total subserviência", diz ele. "Se nós tivéssemos vencido, o Brasil seria respeitado", afirma. Em relação à Venezuela, ele defende uma solução pacífica. "A solução para a saída da crise precisa ser negociada. Há mais de um século não existem conflitos armados com os países vizinhos e tal postura precisa ser preservada", avalia

No balanço sobre as eleições presidenciais, Haddad afirma que o apoio de Ciro Gomes, que não veio no segundo turno, fez falta. "Teria ajudado a criar um melhor ambiente na formação de uma frente mais ampla", afirma. "Não sei se o suficiente para vencer, mas certamente para uma disputa mais acirrada, que teria fortalecido a oposição como um todo". Haddad defende que a esquerda dê o exemplo do diálogo e do entendimento e que "projetos pessoais sejam colocados de lado" para recompor o campo de centro-esquerda. "Precisamos ser mais generosos entre nós", defende.

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Lula Livre

Professor no Insper, uma das faculdades de maior prestígio em São Paulo, Haddad também iniciou nesta semana uma rodada de viagens pelo Brasil para defender a liberdade do ex-presidente Lula e apontar os retrocessos do governo de Jair Bolsonaro. Questionado sobre as arbitrariedades jurídicas que sentenciaram Lula, Haddad, que também é advogado do ex-presidente, é enfático ao dizer que não existe, em nenhuma parte do processo que o condenou, também no caso do sítio de Atibaia, algo que o relacione com práticas escusas. "Não houve sequer uma insinuação. Qual ato que Lula cometeu que contrariou os interesses da população? Não dá para condená-lo por corrupção dessa forma", afirma. "Fora isso, todos reconhecem que o caso não tem relação com a Petrobras e nem poderia estar sendo discutido pela Lava Jato do Paraná".

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Nessas suas viagens, que Haddad preferiu não classificar como "caravanas", que representam uma marca pessoal de Lula, ele afirmou que quer debater, em diferentes regiões do País, sobre a articulação da resistência em tempos de ascensão de extrema-direita. "Vamos discutir os desmontes do Brasil no governo atual e posso ajudar neste debate", afirma. Haddad afirma que não há possibilidade de sucesso de um governo que elege como seus inimigos "artistas, cientistas e professores". Um dos alvos de suas críticas é o ministro Ricardo Vélez Rodriguez, que chegou a classificar brasileiros como ladrões e canibais. "Nós estamos transportando para a escola o que já ocorre fora dela, que é o obscurantismo", diz ele.

Haddad afirma, no entanto, que as barbaridades que vêm sendo ditas por ministros como Vélez Rodriguez e Damares Alves cumprem um papel funcional. No Brasil, o neoliberalismo necessita de um "complemento espiritual para sobreviver". "O governo precisa promover uma guerra cultural para sustentar a agenda de desmontes. "É como se dissessem ao povo: você vai ser pobre mas seu filho não será gay", exemplifica. "Essa agenda de fake news e manipulação é perversa. Me acusaram de estuprar uma menina de 11 anos, no dia da eleição. Minha mulher ficou chocada, foi horrível", relembra Haddad, ao denunciar as mentiras propagandeadas durante o período eleitoral que foram fundamentais para eleger Bolsonaro.

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Não fossem as fake news disseminadas pelo bolsonarismo, Haddad hoje seria presidente. Confira, abaixo, sua entrevista à TV 247 e inscreva-se no canal:

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