O idiota

O deputado Francisco Praciano (PT) disse que, apesar de atingir seu partido, condenações no mensalão servirão de lição e podem melhorar as práticas no Congresso. Falou bobagem?



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Passada uma semana do inicio do julgamento do mensalão, ouviu-se notícia de apenas um petista entre os frequentadores das sessões do Supremo Tribunal Federal. O deputado federal Francisco Praciano (do Amazonas) não apenas compareceu à abertura do julgamento como disse que, em caso de condenação, as "práticas políticas no Congresso devem melhorar". "Sei que atinge meu partido, mas é uma lição", constatou o coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção.

A declaração destoa da imensa maioria dos membros e militantes do PT, que enxergam culpa em todo mundo (imprensa, oposição, procurador-geral da República, ministros do STF, etc), menos nos protagonistas do maior escândalo do governo Lula. O caso realmente vem sendo usado como trunfo pelos opositores desde 2005 e sua repercussão se deve em grande parte a isso. É do jogo político — os petistas também remoem quando podem os equívocos das privatizações do governo FHC.

A torcida contra, contudo, não inocenta os réus da Ação Penal 470, e o contraste entre a atitude de Praciano e a da maioria dos colegas perante o caso desperta uma incômoda pergunta: que forma de encarar o mensalão faz mais bem ao PT? O Partido dos Trabalhadores chegou ao poder escorado no discurso do combate à corrupção, e o grande escândalo nos jogou na cara que, no Brasil, ainda não é possível harmonizar poder e virtude — qualquer semelhança com o caso do ex-senador Demóstenes Torres não é mera provocação.

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À época da eclosão do mensalão, não foram poucos os petistas a admitir o erro, entre eles o então presidente Lula e o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Mas o tempo parece ter cicatrizado as feridas e, ao contrário do que fez o DEM ao expulsar Demóstenes (olha de onde foi sair o contraste), o PT passou a acreditar que a melhor defesa para o partido é a absolvição daqueles que erraram — muito ou pouco, com ou sem dinheiro público.

Definida a estratégia e erguidas as barricadas, aparece Praciano para melar tudo dando uma de príncipe Míchkin, O idiota, do Dostoiévski. Míchkin é tido como bobo em Petersburgo por não saber dissimular, por ser sincero demais, quase infantil. É a virtude encarnada, "o homem positivamente belo", na descrição do próprio Dostoiévski. Um homem assim, incapaz de sequer revidar um tapa, dificilmente escapa do patético num mundo perverso como o nosso, que dirá na política brasileira.

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Não digo que Praciano seja esse exemplo todo de virtude, mas, diante de sua atitude, repito a pergunta de forma mais direta: o que é melhor para o PT, admitir os erros de alguns e arriscar evoluir enquanto partido (e governo) ou negar os equívocos e, assim, praticamente assegurar que eles serão repetidos?

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