Ativismo democrático: Como atualizar a democracia na era da Internet

Pia Mancini e seus colegas querem atualizar a democracia na Argentina e além. Através de sua plataforma de celular, de código aberto, eles querem inserir os cidadãos no processo legislativo e lançar candidatos que vão ouvir o que eles dizem.

Pia Mancini e seus colegas querem atualizar a democracia na Argentina e além. Através de sua plataforma de celular, de código aberto, eles querem inserir os cidadãos no processo legislativo e lançar candidatos que vão ouvir o que eles dizem.
Pia Mancini e seus colegas querem atualizar a democracia na Argentina e além. Através de sua plataforma de celular, de código aberto, eles querem inserir os cidadãos no processo legislativo e lançar candidatos que vão ouvir o que eles dizem. (Foto: Gisele Federicce)


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Video: TED – Ideas Worth Spreading

Traduçao: Leonardo Silva. Revisao: Ruy Lopes Pereira

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Depois da frustrante experiencia de passar por partidos políticos tradicionais de seu país, a Argentina, Pia Mancini percebeu que a democracia existente estava desconectada dos seus cidadãos – e que ninguem estava realmente interessado em mudar esse estado de coisas.
 
Como resposta, Mancini colaborou ativamente para o lançamento do DemocracyOS, uma plataforma digital open-source capacitada para fornecer aos cidadãos argentinos uma imediata conexão com os processos legislativos do país. Para promover essa plataforma, ela colaborou tambem na fundação do Partido de la Red, o Partido da Rede, uma nova agremiação política reunindo candidatos comprometidos com a regra de legislar apenas em concordância com as indicações dadas online pelos eleitores.

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Pia Mancini

 

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O Partido de la Red è apresentado como um “partido do presente, com vistas para o futuro, que acredita no uso das ferramentas de hoje – a Internet e outras tecnologias – para mudar radicalmente o atual sistema político.

 

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Vídeo da palestra de Pia Mancini no TED:

 

 

Tradução integral da palestra de Pia Mancini no TED:

 

Acho que todos concordamos que caminhamos rumo a um novo modelo de Estado e de sociedade, mas não temos a menor ideia do que isso significa, ou do que deve significar. Parece que precisamos ter um debate sobre democracia nos nossos dias atuais. Vamos pensar assim: somos cidadãos do século 21, fazendo o melhor que podemos para interagirmos com instituições criadas no século 19, baseadas em tecnologia da informação do século 15. Vamos analisar algumas das características desse sistema.

Primeiro, ele é projetado para uma tecnologia da informação que tem mais de 500 anos. O melhor sistema possível que poderia ser criado para isso é aquele em que a minoria toma decisões diariamente em nome da maioria. E essa maioria vota uma vez a cada dois anos. 

Em segundo lugar, os custos de participação nesse sistema são incrivelmente altos. É necessário ter uma boa fortuna e influência, ou devotar sua vida inteira à política. É necessário tornar-se membro de partido e, lentamente, começar a subir, até que, talvez um dia, você consiga sentar-se à mesa em que as decisões são tomadas.



Por último, mas não menos importante, a linguagem desse sistema - é incrivelmente enigmática. É feita para juristas, por juristas, e ninguém além deles consegue entendê-la. Então, é um sistema em que podemos escolher nossos dirigentes, mas somos deixados completamente alheios a como esses dirigentes tomam suas decisões. Então, numa era em que uma nova tecnologia da informação nos permite participar de forma global em qualquer debate, nossos obstáculos de informação são totalmente minimizados, e podemos, mais do que nunca, expressar nossos desejos e nossas preocupações. 

Nosso sistema político continua o mesmo de 200 anos atrás, e espera-se que fiquemos satisfeitos por sermos simplesmente ouvintes passivos de um monólogo. Então, realmente não é surpresa que esse tipo de sistema produza apenas dois tipos de resultado: silêncio ou barulho. Silêncio no sentido de os cidadãos não se engajarem, simplesmente não querendo participar. Há um senso comum, do qual realmente não gosto, que é a ideia de que nós, cidadãos, somos naturalmente apáticos, que evitamos o engajamento. Mas será que podemos ser culpados por não nos empolgarmos em sair no meio da cidade, no meio de um dia de trabalho, para participar fisicamente de uma sessão pública que não traz mudança alguma?

Com certeza, é inevitável o conflito entre um sistema que não mais representa, nem possui mais qualquer capacidade de diálogo, e cidadãos que estão cada vez mais acostumados a representarem a si mesmos. Então, temos o barulho: Chile, Argentina, Brasil, México, Itália, França, Espanha, Estados Unidos, todos são democracias. Seus cidadãos têm acesso às urnas de votação. Mas eles ainda sentem a necessidade de sair às ruas para que sejam ouvidos. Para mim, parece que o slogan do século 18, que foi a base da formação de nossas democracias modernas, "nenhuma tributação sem representação", hoje pode ser atualizado para "nenhuma representação sem debate".




Queremos nosso lugar à mesa. E com razão. Mas para sermos parte desse debate, precisamos saber o que fazer em seguida, porque a ação política é ser capaz de passar da agitação à construção. A minha geração tem se saído incrivelmente bem em usar novas redes e tecnologias para organizar protestos, os quais foram bem-sucedidos na imposição de agendas, na modificação de legislações extremamente prejudiciais, e até na derrubada de governos autoritários. E devemos estar imensamente orgulhosos disso. Porém, também devemos admitir que não nos saímos bem em usar essas mesmas redes e tecnologias na articulação eficaz de uma alternativa ao que temos visto, encontrando o consenso e construindo as alianças necessárias para fazer isso acontecer. O risco que enfrentamos é que podemos criar enormes vácuos de poder que, com muita rapidez, serão preenchidos pelos poderes de fato, como o militar, ou por grupos altamente motivados e já organizados, que geralmente se encontram nos extremos. 

As nossas democracias não se resumem a votar uma vez a cada dois anos, mas também não se trata da capacidade de sairmos aos milhões nas ruas. Então, a questão que quero levantar aqui, e realmente acredito que é a mais importante que precisamos responder, é esta: se a internet é a nova imprensa, então o que é a democracia para a era da internet? Que instituições queremos criar para a sociedade do século 21? Eu não tenho a resposta, se querem saber. Acho que ninguém tem. Mas verdadeiramente acredito que não podemos mais ignorar essa questão. Então, gostaria de partilhar nossa experiência e o que aprendemos até aqui e, tomara, contribuir "um pouquinho" com esse debate.




Dois anos atrás, com um grupo de amigos, começamos a pensar: "Como podemos fazer com que nossos representantes, os representantes que elegemos, de fato nos representem?" Marshall McLuhan disse uma vez que política lida com os problemas de hoje com as ferramentas de ontem. Então, a questão que nos motivou foi:"Podemos tentar resolver alguns dos problemas de hoje com as ferramentas que usamos todos os dias em nossas vidas?" Nossa primeira abordagem foi criar e desenvolver um software chamado DemocracyOS. 

O DemocracyOS é um aplicativo web, de código aberto, que foi criado para se tornar uma ponte entre cidadãos e seus representantes eleitos, para facilitar a nossa participação, a partir do nosso cotidiano. Primeiro, você pode se informar, de modo que todo novo projeto que seja apresentado no Congresso seja imediatamente traduzido e explicado em linguagem clara e simples nessa plataforma. Mas todos sabemos que a mudança social não virá apenas por termos mais acesso à informação, mas por fazermos algo com ela. Então, um melhor acesso à informação nos levará a um debate sobre o que devemos fazer em seguida, e o DemocracyOS permite isso. Porque acreditamos que a democracia não se resume a empilhar preferências, uma sobre a outra, mas nosso debate saudável e robusto deve ser, novamente, um de seus valores fundamentais.

Então, o DemocracyOS tem a ver com persuadir e ser persuadido. É chegar a um consenso, bem como encontrar uma forma adequada de canalizar nossas discordâncias. E, por fim, você pode votar sobre como você gostaria que seu representante eleito votasse. E se não se sentir à vontade em votar sobre determinado assunto, é possível delegar seu voto a outra pessoa, permitindo uma liderança social dinâmica e emergente.




De repente, ficou muito fácil simplesmente compararmos esses resultados com os dos nossos representantes que estão votando no Congresso. Mas também ficou muito evidente que a tecnologia não vai resolver tudo. O que precisamos fazer foi encontrar atores que fossem capazes de pegar esse conhecimento distribuído na sociedade e usá-lo para tomar decisões melhores e mais justas. Então, procuramos os partidos políticos tradicionais e lhes oferecemos o DemocracyOS. Dissemos: "Vejam, com essa plataforma, vocês podem criar um diálogo com seu eleitorado". E, claro, deu errado. Deu muito errado. Fomos postos para "brincar do lado de fora", como crianças. Entre outras coisas, fomos chamados de ingênuos. E preciso admitir: pensando agora, acho que fomos mesmo, porque os desafios que enfrentamos não são tecnológicos, mas culturais. Os partidos políticos nunca quiseram mudar sua forma de tomar decisões. Então, de repente, ficou meio óbvio que, se quiséssemos avançar com essa ideia, precisaríamos fazer isso nós mesmos. Demos um baita salto de fé e, em agosto do ano passado, fundamos nosso próprio partido político, El Partido de la Red, ou "O Partido da Rede", em Buenos Aires. 

Com um salto de fé ainda maior,disputamos as eleições em outubro do ano passado, com a seguinte ideia: se quisermos um assento no Congresso, nosso candidato, nossos representantes sempre votariam de acordo com o que os cidadãos decidissem no DemocracyOS. Para todos os projetos que fossem apresentados no Congresso nós votaríamos segundo o que os cidadãos decidissem, numa plataforma virtual. Foi nossa forma de "invadir" o sistema político. Compreendemos que, se quiséssemos fazer parte do debate, ter um assento à mesa, tínhamos de nos tornar parte legítima, e a única forma de fazermos isso é jogando segundo as regras do sistema. Mas "invadimos" no sentido de que estávamos mudando radicalmente a forma de um partido político tomar suas decisões. Pela primeira vez, estávamos tomando nossas decisões junto àqueles que estávamos afetando diretamente com aquelas decisões. Foi uma mudança muito audaciosa para um partido criado havia dois meses em Buenos Aires. Mas chamou atenção.




Recebemos 22 mil votos, o que equivale a 1,2% dos votos, e ficamos em segundo lugar nas votações locais. Mesmo que não tenha sido o suficiente para ganharmos um assento no Congresso, foi o suficiente para que nos tornássemos parte do debate, de maneira tal que, no próximo mês, o Congresso, enquanto instituição, vai lançar, pela primeira vez na história da Argentina, uma consulta, no DemocracyOS, para discutir com os cidadãos três projetos de lei: dois sobre transportes urbanos e um sobre o uso do espaço público.

Claro que nossos representantes eleitos não estão dizendo: "Sim, vamos votar segundo o que os cidadãos decidirem", mas estão dispostos a tentar. Estão dispostos a abrir um novo espaço para a participação dos cidadãos e, tomara, também estarão dispostos a ouvir. Nosso sistema político pode ser transformado, não sendo subvertido, sendo destruído, mas sendo reformulado com as ferramentas que a internet nos proporciona hoje. Mas o verdadeiro desafio é encontrarmos, projetarmos, criarmos, empoderarmos esses conectores que têm a capacidade de inovar, de transformar barulho e silêncio em expressão e, por fim, trazer nossas democracias para o século 21. Não estou dizendo que é fácil, mas, em nossa experiência, apresentamos uma possibilidade de fazer funcionar. E do fundo do coração, acredito que, definitivamente, vale a pena tentarmos. Obrigada.

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