Deixem Levy trabalhar!

Ministro indicado da Fazenda, Joaquim Levy já conseguiu sinalizar metas de superávit para os próximos três anos, garantiu a continuidade dos programas sociais, agradou ao mercado financeiro e soube conter as críticas que vinham ganhando corpo dentro do PT; em reportagem de capa da nova edição da revista 24/7, Marco Damiani relembra sua trajetória como secretário de Finanças no Rio de Janeiro; "seu ajuste permitiu que o Rio resgatasse rapidamente a sua capacidade de investimento dentro dos parâmetros da Lei de Responsabilidade Fiscal", diz o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que foi secretário de Habitação ao lado de Levy; ele não merece um voto de confiança?

Deixem Levy trabalhar!
Deixem Levy trabalhar! (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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Marco Damiani, 247 - Nos últimos quatro anos, o economista carioca Joaquim Levy foi o maior responsável pela gestão de cerca de R$ 300 bilhões em investimentos de pouco mais de 2 milhões de clientes da Bram – o braço de Asset Managment do Bradesco, onde até quinze dias atrás ele era diretor-superintendente. Nas despedidas dos colegas de trabalho, feitas na segunda-feira 16, sua secretária chorou. Em clima de emoção e 'saudade antecipada', como definiu uma pessoa presente, ele foi cumprimentado por praticamente todo o quadro funcional. Tudo o que se conta sobre a passagem de Levy pelo banco tem a ver com um chefe gentil no trato, acessível às solicitações da imprensa e tecnicamente difícil de ser superado.

Essa imagem de administrador correto para o ministro indicado da Fazenda, sacramentado em Brasília, na quinta-feira 27, em ato comandado pela presidente Dilma Rousseff, também foi extraída pela revista 24/7 (leia aqui) a respeito de sua gestão na Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro.

Ninguém disse que Levy seja um coração mole, bem ao contrário. Seu estilo de administração é duro, mas o futuro ministro ganhou crédito, como chefe das finanças fluminenses, ao assumir a condição de se comportar como um executivo que cumpre o que é previamente combinado.

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Com uma conta bilionária a pagar para centenas fornecedores do Estado, Levy começou sua gestão financeira no governo de Sergio Cabral, em 2006. Ele fora convidado logo após sair da Secretaria do Tesouro do primeiro governo Lula e desenvolveu uma proposta ousada. O novo secretário fez saber a todos os que tinham a receber do Estado que, sim, as faturas seriam pagas, interessado que estava em liquidar o passivo e devolver ao Rio sua capacidade de investimento. Mas esses pagamentos se dariam dentro dos critérios de Levy, em suaves prestações e num prazo de sete anos. Sete anos foi o prazo estabelecido porque incluía aquela e a próxima gestão. Se Cabral fizesse a reeleição, o que acabou acontecendo, estaria dada a certeza de que o plano não teria interrupção. Para quem desejasse uma segunda alternativa, Levy implantou o sistema de leilão reverso, no qual os próprios fornecedores com atraso em seus recebimentos ofereciam descontos ao Estado em troca de obterem seus pagamentos à vista. Dessa forma, muito contratos vencidos tiveram abatimentos espontâneos de até 40% sobre os valores totais.

- Essa política de zerar os passivos sem descapitalizar o Estado que, de resto, estava com as finanças abaladas, simplesmente saneou o Rio de Janeiro, comemora, hoje, o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, além de ex-secretário de Habitação do Rio, atuando ao lado de Levy. "O programa de pagamentos idealizado por Joaquim Levy teve grande adesão, o que permitiu ao Rio resgatar rapidamente a sua capacidade de investimento dentro dos parâmetros da Lei de Responsabilidade Fiscal".

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Outra medida prática do então secretário foi alinhar, dentro do governo o orçamento empenhado ao orçamento financeiro. Desta forma, cada secretaria estadual recebia dos cofres públicos regionais, mensalmente, exatamente o que estava demarcado no Orçamento. Sem nenhum centavo a menos e, principalmente, nenhum centavo a mais. O rigor em cumprir à risca o que fora combinado deu previsibilidade às ações de cada área, com seus titulares sabendo sem sustos até onde poderiam chegar em gastos de custeio e investimentos.

CURRÍCULO ESTRELADO - Antes de passar pelo Rio, onde nasceu, em fevereiro de 1961, Levy ocupou a Secretaria do Tesouro Nacional com uma bagagem que já incluía uma passagem como vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e um estágio no Banco Central Europeu, cumprido logo após formar-se economista pela Universidade de Chicago. Levy também tem título acadêmico de Engenharia.

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- Você nem parece que vem da Escola de Chicago, teria dito a ele, em tom de brincadeira, o seu amigo ex-presidente do BC Armínio Fraga. O homem que seria o ministro da Fazenda do candidato tucano Aécio Neves, se referia à capacidade de Levy, mesmo tendo se formado na faculdade de economia de linha ortodoxa mais famosa do mundo, de desenvolver flexibilidade suficiente para se adaptar, sem se dobrar, às heterodoxias típicas do mundo político.

No Tesouro Nacional, Joaquim Levy foi chamado de 'mãos de tesoura' pelos petistas descontentes com seus seguidos 'não' a pedidos de verbas. Para efeito de comparação, Levy na verdade tem o estilo mais parecido ao de um preciso cirurgião. Ele não corta olhando apenas a coluna dos gastos, mas tenta chegar aos seus objetivos de economia salvaguardando as prioridades políticos dos governos dos quais já participou. Não à toa, ele garantiu, em sua primeira entrevista após o anúncio formal, que não irá prejudicar o fluxo de recursos destinados aos programas sociais do governo, como o bolsa família.

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Com a outra mão, no entanto, já avisou que vai perseguir um superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 e de 2% nos dois anos seguintes. Conseguiu, com esses números, um façanha. Os analistas do banco Credit Suisse, um dos mais respeitados pelo mercado quando o assunto são projeções, divulgou que será muito difícil atingir a segunda meta já em 2016, mas que a partir de 2017 ela se mostrar plenamente factível desde já. No governo, onde já se ensaiava um movimento de oposição a ele, Levy depertou elogios nos bastidores justamente por estabelecer metas reais e que podem ser alcançadas sem que se desfigure a face social da presidente Dilma Rousseff. Com a bolsa de bom humor no dia seguinte à escalação de seu nome, o futuro ministro passou pelo primeiro teste. A partir da próxima semana, quando efetivamente assumirá a chefia da economia, só vai precisar de um mínimo de tranquilidade política para que possa impor seu estilo. É hora de o Brasil deixar Joaquim Levy trabalhar.

Abaixo, perfil do novo ministro divulgado pela agência Reuters:

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Por Alonso Soto

BRASÍLIA (Reuters) - O ex-secretário do Tesouro Nacional e executivo do Bradesco Joaquim Levy foi escolhido nesta quinta-feira para assumir o Ministério da Fazenda, em uma sinalização de que a presidente Dilma Rousseff quer mudanças na atual política econômica em seu segundo mandato e injetar ânimo numa economia desaquecida.

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Embora Levy não estivesse inicialmente no radar dos investidores, ele é respeitado tanto no mercado como entre os integrantes do governo Dilma, por causa de seu estilo objetivo e pragmático.

Doutor em economia pela Universidade de Chicago, Levy é atualmente o diretor-superintendente da Bradesco Asset Management, braço de gestão de recursos do Bradesco, e volta ao governo após ter sido secretário do Tesouro Nacional durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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A expectativa de nomeação de Levy e de distanciamento em relação a políticas intervencionistas vinha repercutindo positivamente nos mercados financeiros domésticos desde a semana passada, quando seu nome foi vinculado à nova equipe de Dilma.

"Ao escolher Levy, ela está tentando recuperar credibilidade, o que é crucial neste jogo", disse o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos, que conheceu Levy na Universidade de Chicago e depois no Fundo Monetário Internacional. "É importante ter essa voz da razão na equipe, mas no fim das contas, continua a ser um governo de Dilma Rousseff."

A grande interrogação é sobre o grau de liberdade que o novo ministro da Fazenda terá para definir as políticas sob o comando de Dilma, que é economista e gosta de tomar ela mesma até as menores decisões sobre a política econômica, além de manter forte controle sobre a equipe.

Levy, que também já trabalhou como pesquisador para o Fundo Monetário Internacional (FMI), vai enfrentar uma tarefa desafiadora de recuperar parte da credibilidade perdida sob a gestão de seu antecessor, Guido Mantega, cujas projeções otimistas e com frequência equivocadas acabaram aborrecendo investidores e alguns de seus colegas de governo.

O uso de métodos inusitados de contabilidade pelo governo para fortalecer o resultado das contas públicas também afetou a confiança e aumentou o risco de rebaixamento da classificação de de crédito do país no próximo ano.

Poucos economistas conhecem as finanças brasileiras como Levy.

Como secretário do Tesouro, entre 2003 e 2006, ele teve papel vital em ajudar o Brasil a obter o grau de investimento pelas agências de classificação de risco, ao manter os gastos controlados e revisar toda a estrutura da dívida.

Ele deve provavelmente pressionar por uma maior transparência nas contas públicas e por metas fiscais críveis para fazer com que o governo economize mais, auxiliando assim o Banco Central na tarefa de trazer a inflação para o centro da meta.

Dilma decidiu manter no cargo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

No entanto, Levy vai ter que caminhar no fio da navalha para equilibrar as contas públicas sem levar a economia para a recessão, diante dos baixos níveis de investimento e do consumo em desaceleração.

Desde que Dilma assumiu o governo em 2011, a economia cresceu ao ano em média menos de 2 por cento, e deve crescer próximo de zero neste e no próximo ano, resultado bem abaixo dos 4 por cento de crescimento ao ano registrado na década anterior, quando o Brasil se tornou um favorito dos mercados em Wall Street.

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