A fala de Pimentel e a coincidência da resposta (ou retaliação?)

"É evidente que se trata de uma coincidência. E, como toda coincidência, chama a atenção. Ainda mais quando coincidência rima com Inconfidência. Pois não pode ser por outra razão que, quatro dias após o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), chamar a atenção do País para alguns aspectos da Inconfidência Mineira e seu possível nexo com algumas coisas que acontecem no País, atualmente, para que a sua esposa, a primeira-dama de Minas, Carolina Oliveira, fosse indiciada pela Polícia Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e crime eleitoral, na companhia de dois secretários do governo mineiro, dois executivos e um publicitário", diz o colunista Carlos Lindenberg

Governador Fernando Pimentel, Ministério Publico e prefeituras de Minas Gerais se unem no combate ao Aedes aegypti. 25-02-2016- Minascentro. Foto: Manoel Marques/imprensa-MG
Governador Fernando Pimentel, Ministério Publico e prefeituras de Minas Gerais se unem no combate ao Aedes aegypti. 25-02-2016- Minascentro. Foto: Manoel Marques/imprensa-MG (Foto: Carlos Lindenberg)


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É evidente que se trata de uma coincidência. E, como toda coincidência, chama a atenção. Ainda mais quando coincidência rima com Inconfidência. Pois não pode ser por outra razão que, quatro dias após o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), chamar a atenção do País para alguns aspectos da Inconfidência Mineira e seu possível nexo com algumas coisas que acontecem no País, atualmente, para que a sua esposa, a primeira-dama de Minas, Carolina Oliveira, fosse indiciada pela Polícia Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e crime eleitoral, na companhia de dois secretários do governo mineiro, dois executivos e um publicitário. No dia 21, sexta-feira, feriado nacional, Minas comemorava, como sempre faz desde a década de 50, a Inconfidência Mineira, o movimento sedicioso que surgiu nestas montanhas, inspirado na Revolução Americana, para proclamar a sua Independência em relação a Portugal – ainda que no bojo do movimento estivesse a elite ouro-pretana que se revoltava contra a cobrança do quinto, uma parte extra do ouro que também deveria ser entregue à Coroa.

Mas neste dia 21 de abril, que por pouco não teve o ex-presidente Lula como orador oficial da cerimônia, Minas reverenciava a memória do Alferes e homenageava Nelson Mandela. Orador da solenidade, o governador Fernando Pimentel traçou dois paralelos. Um entre o sonho libertário de Tiradentes e a saga de Nelson Mandela na sua luta pelo fim da apartheid; outro entre o que ocorreu, tanto com um como com o outro, a despeito do tempo que os separa, subjugados ambos por uma teia jurídica que não lhes deixava outra saída senão o enforcamento do inconfidente mineiro e a prisão por 27 anos do líder sul-africano. Pontuou Pimentel a certa altura: “Podemos encontrar na personalidade de Nelson Mandela uma referência que, trazendo o drama existencial de Tiradentes para o nosso tempo, sintetiza a saga daqueles que lutam pela dignidade humana e se sacrificam pela liberdade e pela paz”.

E completou; “É em meio às brumas do presente que devemos buscar as luzes do futuro. O País dos inconfidentes não escapa aos ventos devastadores que abre o milênio. A lição de Mandela, como a do grande Alferes, vem do sofrimento a ele imposto. A vitória ainda em vida conquistada pelo líder africano, ao término da longa jornada de perseguição, é um privilégio que o nosso mártir Tiradentes não alcançou. Mas de ambos recebemos a palavra de fé e perseverança em pleno martírio. O exemplo de firmeza e cautela, altivez e resistência”. O tempo agora, segundo Pimentel, é de reconstrução. “Aspiramos à liberdade e almejamos a justiça, hoje solapadas por uma teia de acusações que lembram as alcovas da Conjuração Mineira”, destacou o governador de Minas. Para seguir dizendo que “naquele episódio fundante da nossa nacionalidade, Tiradentes foi protagonista involuntário de um espetáculo e não de um processo justo. Um processo feito mais para encobrir do que para revelar, feito mais para distrair a razão do que iluminá-la, feito, enfim, para condenar previamente e não para buscar a verdade”.

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Nesse contexto, o governador de Minas voltou a lembrar a Conjuração Mineira para confrontá-la com os dias que correm. “As acusações, quando a serviço de estratagemas, morrem. Os acusadores morrem. Mas a injustiça contra as vítimas da acusação infundada, essa é incontornável e irreparável. Por isso, o devido processo penal não pode ser atropelado pela ansiedade de condenar, de execrar, de justiçar. Um sistema jurídico perfeito não é aquele que se alimenta do estardalhaço. É aquele que silenciosamente não teme encarar os fatos e buscar as provas – e não apenas as versões – e constrói as decisões com serenidade e isenção. Quando uma sociedade se rende aos clamores de vingança, ela se rebaixa, deixa de ser republicana e democrática e retrocede ao estágio mais primitivo da trajetória humana”. E conclamou: “- Urge, pois, defender a democracia e os valores republicanos. Democracia e República que se fundam na igualdade de direitos, na transparência e na supressão do ódio. Que têm a tolerância e a convivência com as diferenças como princípios éticos e prática política, tal como pregou Mandela.”

Pimentel, como se sabe, responde a dois processos no Superior Tribunal de Justiça. E nesta segunda-feira, - quatro dias após denunciar o clima de intolerância vigente no País e traçar um paralelo entre o martírio de Mandela e de Tiradentes, - com processos que correm hoje no País mais à procura de publicidade do que da busca da verdade e sem a necessária isenção para buscar as provas e julgar com serenidade, o governador recebeu a notícia do indiciamento de sua mulher e de dois de seus secretários, supostamente envolvidos numa esquema de lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais. Desconfiado desde sempre, o mineiro viu a proximidade dos fatos como simples coincidência, até porque se celebravam naquela manhã os 228 anos da Inconfidência. Com direito à rima.

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