Começar campanha presidencial agora é fuga para frente

"O que de pior podem fazer os que se opõem a esse governo que devasta o pais, é se dividirem em função de campanhas eleitorais para daqui a três anos, é fugir para frente, deixando de enfrentar os difíceis desafios que tem pela frente", diz o sociólogo Emir Sader; "Ciro Gomes e o PDT deixaram claro que já começaram a campanha presidencial de 2022. Agora Dino lança sua candidatura", reforça; "Mas é um cenário péssimo para os que lutam contra o governo que devasta o Brasil, trata de blindar o Estado para evitar perder o governo"

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O que de pior podem fazer os que se opõem a esse governo que devasta o pais, é se dividirem em função de campanhas eleitorais para daqui a três anos, é fugir para frente, deixando de enfrentar os difíceis desafios que tem pela frente. No momento em que o povo, a democracia, o país, são vítimas de brutais ataques, em que se necessita mais do que nunca uma férrea e ampla unidade de forças para resistir e superar essa situação, que requer concentração de forças nessa parada, qualquer movimento que enfraquece essa frente, que divida nossas forças, que desvie as atenções e as energias, não somente não é positivo, como é negativo.

Ciro Gomes e o PDT deixaram claro que já começaram a campanha presidencial de 2022. Agora Dino lança sua candidatura. Tem todo o direito de serem candidatos ou de pensar em se candidatar, eles e outros. Mas é um cenário péssimo para os que lutam contra o governo que devasta o Brasil, trata de blindar o Estado para evitar perder o governo. Péssimo para as forças democráticas, que não deveriam se dividir e desviar energias. Péssima a divisão entre quem apoia um ou outro. Se se deixasse levar por isso – e creio que não vai fazer, porque o partido e o Lula têm consciência clara das prioridades hoje e da necessidade de consolidar e ampliar a unidade de forças contra esse governo – o PT lançaria candidatos possíveis. E o Psol poderia também lançar seu candidato. E se completaria o cenário. De forma irresponsável, estaríamos fugindo da dura realidade imediata para nos refugiarmos em um cenário de 2022, que ninguém sabe como será.

Estamos ainda sem um balanço mais profundo dos resultados eleitorais, dos elementos de fraqueza que permitiram a vitória da direita – mais além das monstruosas maquinações, decisivas, para nossa derrota – e as novas condições que impõem ao pais e a todo o povo. Se o resultado da votação do Haddad, em termos numéricos, não pode ser julgado ruim, pelas condições em que se deu, a esquerda e as forças populares em geral revelaram muitas debilidades, que tem que ser analisadas e enfrentadas.

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Antes de tudo, o avanço da direita em bases populares tem que ser analisado na sua real dimensão e profundidade, incluído o das igrejas evangélicas. Sabemos que Lula ganharia no primeiro turno, portanto não se trata de um avanço devastador da direita e dos evangélicos. Lula os teria derrotado, não fosse alijado de forma absolutamente arbitraria, da campanha eleitoral.

Mas não é menos verdade que em estados do centro sul e do sul do pais, os resultados obtidos pelo candidato da direita foram muito altos. Se é certo também que os setores de menor renda, os mais pobres, sempre deram maioria para Haddad, portanto não foram os decisivos para sua derrota, nesses mesmos setores a direita avançou muito. Inclusive no Nordeste, que continuou dando vitória para o candidato da esquerda, mas com um resultado significativo da direita.

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Temos que analisar em detalhe e por cada estado, essa situação. Temos que nos deter especialmente em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Brasília, pelos resultados que apresentaram. Temos que enfocar como candidatos desconhecidos puderam avassalar eleições para governador e para senador, em vários estados importantes. A que se deveu isso, como se deu. A que debilidades da esquerda correspondeu isso, especialmente em Minas e no Rio de Janeiro, mas também em outros estados.

As disputas dentro da esquerda e do campo popular. Ter candidato e vice com o mesmo perfil não acrescenta apoios. Não contar com o apoio do Ciro no segundo turno foi outra fraqueza.

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Embora o PT mantenha a maior bancada na Câmara e o Psol tenha tido um importante avanço, a bancada petista seguiu diminuindo, o Psol não teve bons resultados nas majoritárias e o resultado do PC do B é preocupante pela tendência a baixar a votação nas eleições parlamentares. Além de que candidatos vinculados a movimentos sociais importantes não conseguiram traduzir a importância desses movimentos em forca eleitoral e não se elegeram. As perdas no Senado foram a expressão mais clara dessas fraquezas, que tem que ser analisadas.

O pior que a esquerda poderia fazer seria fugir para a frente. Projetar ilusoriamente o cenário eleitoral de 2022. (Se formos pensar em eleições, temos antes as municipais, em que a esquerda pode se recuperar ou ser de novo derrotada como foi nas eleições de 2016.) O raciocínio político não deveria ser: Chegou minha hora de ser candidato. Mas: Que hora é esta para o Brasil? E' hora de antecipar a campanha eleitoral ou de somar forças e energias para enfrentar os desafios atuais, diante da mais bruta ofensiva da direita contra os direitos de todos, contra a democracia, contra a soberania brasileira?

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A prioridade não é de candidatos, de partidos, de ambições. A prioridade política tem que ser o Brasil, o país, a nossa sociedade. O Brasil não tem que se adaptar às pretensões de cada um, mas estas têm que se adaptar às necessidades do Brasil.

O PT conseguiu ser o partido hegemônico na esquerda e no pais, quando conseguiu ter um projeto para o Brasil. Esta é uma condição indispensável para conseguirmos nosso objetivo fundamental: reconquistar hegemonia da esquerda no pais. Esse é o desafio para todos os que lutamos pela reconquista da democracia, dos direitos de todos, de um Brasil livre e soberano.

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Tomara que aqueles que deram passo na direção oposta e os que eventualmente possam pensar em seguir esse caminho equivocado, reconsiderem suas posições e se somam, com todas suas forças, à luta fundamental de derrotar esse governo e restabelecer as condições de um pais menos injusto, solidário, digno. Ai sim, podemos passar a pensar nas eleições de 2022.

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